As semelhanças entre a geração de Aljubarrota e a geração do pós-troika


Duzentas barcas e 20 mil homens (portugueses e estrangeiros) demoraram quase um mês para chegar à península de Ceuta (hoje demoramos um dia de carro!) 


“Aquele que quer aprender a ser chefe tem primeiro de aprender a servir.”
Sólon, político e poeta da Grécia antiga

Comemoraram-se 600 anos, no passado dia 21 de Agosto (1415-2015), que Portugal conquistou a península de Ceuta e deu início assim à expansão territorial e marítima portuguesa, e também europeia. À época, o reino de Portugal, após a vitória sobre Castela em Aljubarrota, assinou um tratado de paz com Castela e firmou uma aliança com Inglaterra (D. Filipa de Lencastre, mulher de D. João I, era inglesa), e com problemas económicos, decidiu por via marítima fazer-se ao mundo, procurando respeitabilidade e influência. Aliás, à época, grande parte do prestígio dos reinos e dos reis era conquistado e reforçado em guerras e conquistas, com base em actos de coragem, muitas vezes solidificados com vários feitos heróicos.

Esta conquista de Ceuta foi feita pela chamada geração de Aljubarrota, onde, para além de D. João I, o condestável D. Nuno Álvares Pereira despontava ainda. Abrindo uma época de pioneirismo português e até europeu. Iniciando um tempo de alargamento de horizontes territoriais e temporais para o mundo do chamado “Algarve além-mar”, um mundo que para os ocidentais daquela época era, para além de desconhecido, cheio de lendas e desconfianças.

Duzentas barcas (galés, naus, etc.) e 20 mil homens (portugueses e estrangeiros) demoraram quase um mês para chegar à península de Ceuta (hoje demoramos um dia de carro!) e conquistaram-na num só dia! Ceuta, que chegou a ter uma população igual a Lisboa e mais de 60 bibliotecas e quase 25 mil “postos” comerciais, cidade muçulmana que ainda mantém em 2015, no seu brasão, o escudo português com as quinas e os sete castelos (só a pretexto da união ibérica de 1580-1640 deixou de ser portuguesa), e hoje é, com estatuto especial, território espanhol.

Seiscentos anos depois (1415-2015), recordar Ceuta e a sua conquista é recordar e enaltecer como Portugal deu um contributo inestimável, a partir dessa data, para a Europa e para o mundo. Foi a partir da conquista de Ceuta (e mais tarde de Arzila, Tânger, Azamor, etc.) que o nosso país deu um grande salto para o mundo, com o início da expansão marítima portuguesa e europeia. Ao longo das últimas décadas, vários estudiosos, nacionais e estrangeiros, têm estudado, investigado, concluído e publicado vários trabalhos que sustentam que o nosso país, se sobreviveu como Estado e território praticamente uno, indivisível e independente, deve-o ao facto de ter o mar sempre presente como base do seu código genético, sobretudo nos períodos mais difíceis da sua vida colectiva. As semelhanças entre o Portugal de 1415 e o Portugal de 2015 são maiores do que se pensa. Em vários sentidos. Até nas opções geoestratégicas, o mar, o mundo, o Atlântico, o Mediterrâneo, o hemisfério sul são vectores muito relevantes.

À época como hoje, 600 anos depois, Portugal e os portugueses devem olhar o seu futuro e projectar e concretizar os seus desígnios muito para além das suas fronteiras terrestres e muito para além da Europa. 

À época, a geração de Aljubarrota foi determinante para uma nova ambição, de Portugal, se “atirar à vida”, se fazer ao mundo, usando o mar e a dimensão marítima. Hoje, a geração que enviou a troika para casa, “a geração pós-troika”, pode e deve inspirar-se na geração de Aljubarrota e nos seus feitos. Continuando a construir um Portugal mais credível, mais aberto, mais cosmopolita, mais coeso, mais rico e sobretudo um Portugal orgulhoso da sua história, da sua língua e da sua cultura, pelos vários continentes. 

As lições dessa época e dos séculos seguintes, num tempo em que infelizmente em Portugal, na Europa e no Ocidente poucos estudam e conhecem história e a importância das humanidades, devem contribuir para melhores decisões, sobretudo as que possam (ou não) condicionar a vida de todos nós nas próximas décadas. A geração de Aljubarrota deve continuar a inspirar-nos. Sobretudo àqueles que gostam verdadeiramente de Portugal. 

Escreve à segunda-feira 

As semelhanças entre a geração de Aljubarrota e a geração do pós-troika


Duzentas barcas e 20 mil homens (portugueses e estrangeiros) demoraram quase um mês para chegar à península de Ceuta (hoje demoramos um dia de carro!) 


“Aquele que quer aprender a ser chefe tem primeiro de aprender a servir.”
Sólon, político e poeta da Grécia antiga

Comemoraram-se 600 anos, no passado dia 21 de Agosto (1415-2015), que Portugal conquistou a península de Ceuta e deu início assim à expansão territorial e marítima portuguesa, e também europeia. À época, o reino de Portugal, após a vitória sobre Castela em Aljubarrota, assinou um tratado de paz com Castela e firmou uma aliança com Inglaterra (D. Filipa de Lencastre, mulher de D. João I, era inglesa), e com problemas económicos, decidiu por via marítima fazer-se ao mundo, procurando respeitabilidade e influência. Aliás, à época, grande parte do prestígio dos reinos e dos reis era conquistado e reforçado em guerras e conquistas, com base em actos de coragem, muitas vezes solidificados com vários feitos heróicos.

Esta conquista de Ceuta foi feita pela chamada geração de Aljubarrota, onde, para além de D. João I, o condestável D. Nuno Álvares Pereira despontava ainda. Abrindo uma época de pioneirismo português e até europeu. Iniciando um tempo de alargamento de horizontes territoriais e temporais para o mundo do chamado “Algarve além-mar”, um mundo que para os ocidentais daquela época era, para além de desconhecido, cheio de lendas e desconfianças.

Duzentas barcas (galés, naus, etc.) e 20 mil homens (portugueses e estrangeiros) demoraram quase um mês para chegar à península de Ceuta (hoje demoramos um dia de carro!) e conquistaram-na num só dia! Ceuta, que chegou a ter uma população igual a Lisboa e mais de 60 bibliotecas e quase 25 mil “postos” comerciais, cidade muçulmana que ainda mantém em 2015, no seu brasão, o escudo português com as quinas e os sete castelos (só a pretexto da união ibérica de 1580-1640 deixou de ser portuguesa), e hoje é, com estatuto especial, território espanhol.

Seiscentos anos depois (1415-2015), recordar Ceuta e a sua conquista é recordar e enaltecer como Portugal deu um contributo inestimável, a partir dessa data, para a Europa e para o mundo. Foi a partir da conquista de Ceuta (e mais tarde de Arzila, Tânger, Azamor, etc.) que o nosso país deu um grande salto para o mundo, com o início da expansão marítima portuguesa e europeia. Ao longo das últimas décadas, vários estudiosos, nacionais e estrangeiros, têm estudado, investigado, concluído e publicado vários trabalhos que sustentam que o nosso país, se sobreviveu como Estado e território praticamente uno, indivisível e independente, deve-o ao facto de ter o mar sempre presente como base do seu código genético, sobretudo nos períodos mais difíceis da sua vida colectiva. As semelhanças entre o Portugal de 1415 e o Portugal de 2015 são maiores do que se pensa. Em vários sentidos. Até nas opções geoestratégicas, o mar, o mundo, o Atlântico, o Mediterrâneo, o hemisfério sul são vectores muito relevantes.

À época como hoje, 600 anos depois, Portugal e os portugueses devem olhar o seu futuro e projectar e concretizar os seus desígnios muito para além das suas fronteiras terrestres e muito para além da Europa. 

À época, a geração de Aljubarrota foi determinante para uma nova ambição, de Portugal, se “atirar à vida”, se fazer ao mundo, usando o mar e a dimensão marítima. Hoje, a geração que enviou a troika para casa, “a geração pós-troika”, pode e deve inspirar-se na geração de Aljubarrota e nos seus feitos. Continuando a construir um Portugal mais credível, mais aberto, mais cosmopolita, mais coeso, mais rico e sobretudo um Portugal orgulhoso da sua história, da sua língua e da sua cultura, pelos vários continentes. 

As lições dessa época e dos séculos seguintes, num tempo em que infelizmente em Portugal, na Europa e no Ocidente poucos estudam e conhecem história e a importância das humanidades, devem contribuir para melhores decisões, sobretudo as que possam (ou não) condicionar a vida de todos nós nas próximas décadas. A geração de Aljubarrota deve continuar a inspirar-nos. Sobretudo àqueles que gostam verdadeiramente de Portugal. 

Escreve à segunda-feira