Socialistas respiram de alívio e dizem que debate  foi o clique  que faltava

Socialistas respiram de alívio e dizem que debate foi o clique que faltava


PS festejou debate de forma efusiva. Sacudiu o nervosismo das sondagens e voltou a sonhar com a maioria.


Os socialistas acreditam que o debate televisivo de anteontem à noite – onde a opinião generalizada colocou António Costa como vencedor – significou um “ponto de viragem” no caminho para as legislativas. A pressão das sondagens e de vários percalços de campanha plantaram desconforto entre as hostes socialistas. Por isso mesmo, assim que acabou o debate, não foi de estranhar que as redes sociais  fossem invadidas  de festejos de vitória. No dia seguinte a leitura foi mais além e há quem já fale num “clique que faltava” e que chegou na recta final.

Nas redes sociais (ver ao lado), as reacções correram logo soltas. Já o sentimento de alívio salta à vista nas conversas com os socialistas que ainda há dois dias foram confrontados com uma sondagem (da Aximage) que mostrava a coligação com uma vantagem considerável nas intenções de voto nas legislativas. Ontem não havia quem não desconsiderasse o estudo. Augusto Santos Silva atacava a amostra reduzida (cerca de 400 entrevistas), ao mesmo tempo que admitia a importância da vantagem de AntónioCosta no debate. “A vitória foi claríssima e isso tem uma influência muito importante”, disse o socialista ao i acrescentando não se lembrar de “alguma vez alguém ganhar eleições depois de perder um debate de forma tão clamorosa”. Outro destacado socialista frisou ao i que “havia tanta coisa a correr mal na campanha que estava a ficar complicado. Se Costa não ganhasse o debate de forma clara, teria a vida muito complicada nas eleições. Pôs tudo a zero, criou um ânimo enorme, o que é importante para os socialistas que estavam desanimados”, sublinha a mesma fonte. 

As reacções deixam transparecer muita descompressão nos socialistas que têm percorrido um caminho eleitoral muito  sinuoso. Manuel Pizarro, que integra a direcção de AntónioCosta, não tem dúvidas que anteontem “houve uma mudança muito significativa” e Eduardo Cabrita vê o resultado da prestação do líder socialista como “extremamente positivo”. “O ponto de viragem foi o claro nervosismo e a tentativa de Passos de falar apenas do passado e nunca do futuro”. No programa Quadratura do Círculo que analisou o debate, o socialista Jorge Coelho notou, logo no rescaldo do debate, que “ao contrário do que muitas vezes tem acontecido nos últimos tempos, António Costa teve uma estratégia diferente do que tem acontecido. Atacou do início ao fim. Isto recomeçou de novo, o combate a sério começou hoje [anteontem]”. Um dirigente do partido resume tudo numa frase: “Este foi o clique que pode permitir ao PS crescer, até porque não haverá outro debate” televisivo (o próximo em que os dois estarão em confronto será na rádio, dia 17).

Também não há socialista que não aproveite a deixa para citar Marcelo Rebelo de Sousa que, na análise ao debate, deu a vitória a Costa, e também não há quem não ataque Passos por só ter aceitado um debate televisivo. “Não quer mais porque tem medo”, diz Pizarro ao mesmo tempo que frisa a audiência (3,5 milhões de pessoas) que teve o frente-a-frente transmitido em simultâneo pelos três canais generalistas em sinal aberto (e também pelos canais informativos no cabo). “São mais do que todas as pessoas que vão participar nos comícios e acções durante toda campanha”, atira Santos Silva. 
  
Sócrates viu O debate foi seguido com igual atenção na casa mais vigiada do país, o número 33 da Rua Abade Faria, em Lisboa. José Sócrates foi referido pelo primeiro-ministro mais de uma dezena de vezes, ao ponto de AntónioCosta lhe dizer que eram “saudades”. Sócrates divertiu-se, garante quem esteve nesse jantar (Paulo Campos, André Figueiredo, José Lello e Vitalino Canas foram alguns dos convivas socialistas). À saída, José Lello revelou que a sua apreciação do debate era que Costa tinha ganho “sete a três” e que Sócrates teria sido mais optimista, dando um “oito a dois”. 

O argumento Sócrates, usado por Passos Coelho, foi visto pelos socialistas como uma cartada falhada. “Foi tão caricato que se virou contra ele. Tentou tratar Costa como se fosse outra pessoa”, analisa Santos Silva. “Uma manifestação de desespero”, no entender de Eduardo Cabrita. “Quando não há mais nada a dizer…”, atira Manuel Pizarro que sublinha que Passos “se recusou a falar do futuro porque não tem boas noticias para dar”. 

Ao alívio socialista junta-se a convicção de que Costa relegitimou o pedido da maioria absoluta. Para Santos Silva, “a dimensão da diferença evidenciada entre os dois foi de tal forma que torna credível que, doravante, António Costa insista mais  no pedido de maioria absoluta”.