De viajantes do mundo a líderes de viagem – entrevista Eduardo Madeira [FOTOS]

De viajantes do mundo a líderes de viagem – entrevista Eduardo Madeira [FOTOS]


Quando, aos seis anos, começou a publicar um pequeno jornal na escola primária, Eduardo Madeira percebeu que escrever estava-lhe no sangue. 


Mais tarde – por influência dos seus escritores favoritos – decidiu lançar-se numa viagem a solo pela Europa. Dessa aventura, mais que recordações, trouxe uma certeza: viajar faria parte da sua vida. Precisou de quatro anos a picar o ponto como jornalista para perceber que estava no caminho errado. Despediu-se do emprego, da família, dos amigos, do país e durante dez meses percorreu a América Latina de norte a sul, uma viagem que mudaria a sua forma de observar o mundo. Viajar é a sua paixão. Acredita nas coisas simples da vida, como descobrir paisagens intactas, culturas diferentes, pessoas inspiradoras ou o simples prazer de deslizar uma onda ao pôr-do-sol.

Um dos homens da expedição “Sobre-Viver” levada a cabo pela Nomad na Amazónia boliviana, responde agora às perguntas do colega e líder Nomad Mateus Brandão.

Diz-se por aí que ser líder Nomad é uma das melhores profissões do mundo. Quão sortudo te definirias?

Ser líder Nomad é muito diferente de ser viajante. É viver segundo valores como a curiosidade, a sustentabilidade, a partilha em comunidade ou a aventura. É conhecer pessoas incríveis a cada viagem e cimentar laços com culturas distantes. É, acima de tudo, pertencer a uma família de pessoas ambiciosas, inovadoras e apaixonadas. Pessoas com quem me identifico e que me inspiram a ser melhor. Não sei se é a melhor profissão do mundo, mas sinto-me um privilegiado.

Qual a coisa que mais aprecias na humanidade?

A bondade. Quantas mais fronteiras cruzo, culturas descubro e pessoas conheço, mais convicto fico de que o Homem é genuinamente bom e sente-se feliz por participar na felicidade do outro.

E que ‘qualidade pessoal’ tens esperança de sair reforçada com as tuas viagens?

A tolerância. Viajar permite-me conhecer culturas distintas, religiões antagónicas, povos diferentes e pessoas com concepções de vida completamente diferentes da minha. Essas experiências ajudam-me a olhar o mundo de uma forma mais alargada e tolerante. Creio que esta é a melhor aprendizagem que podemos levar para casa.

Qual a tua estação do ano preferida e onde?

O outono em Portugal. Passo grande parte do ano em latitudes tropicais, onde o calor e a humidade podem ser esmagadores. O outono português é sinónimo de um frio aconchegante, de chaminés a fumegar e castanhas assadas. Marca também a chegada das grandes ondulações ao Atlântico Norte, época ideal para rumar à praia com a prancha debaixo do braço.

De todos os sítios por onde tens passado, onde não te importarias de viver e porquê?

Adoro Portugal e é aí que pretendo continuar a criar raízes. Todavia, não me importava de viver umas temporadas noutros regiões do globo. Por exemplo, no sul do Chile – um pedaço de terra mágico – onde oceano e montanhas convivem em plena harmonia.

Por oposição, que país ou cidade não tens vontade (ou até mesmo te recusarias) a visitar?

Admito que não sou muito dado ao rebulício da cidade. Porém, não excluo qualquer destino. Afinal, todos os cantos do mundo têm história para contar.

Onde irias numa máquina do tempo?

Iria – com a condição de regressar – aos boémios anos 30 do bairro de Monmatre, em Paris, onde Hemingway, Joyce, Stein, Picasso, Matisse, Fitzgerald e outros, partilharam vizinhança. Um serão com estes génios seria, sem dúvida, inesquecível.

Quais os últimos 3 livros que leste?

“Disse-me um Adivinho” de Tiziano Ternazi; “Viagem à Índia” de Gonçalo M. Tavares e “Trilogía Centroamérica” de Javier Reverte.

Qual a tua citação favorita?

"All you've got to do is decide to go and the hardest part is over. So go!” de Tony Wheeler.

Quais são as tuas referências e inspiração?

Visionários como o Yvon Chouinard (fundador da marca de vestuário ‘Patagonia’) ou aqueles que arriscaram tudo para perseguirem os seus sonhos como o Ryszard Kapuchinsky são, sem dúvida, uma referência. Mas, a verdadeira inspiração vem daqueles que me rodeiam, sejam eles amigos, familiares ou pessoas com quem me cruzo por breves instantes.

Alain de Botton escrevia sobre ‘a arte de viajar’. Partilhas dessa opinião de que viajar pode ser uma arte?

Viajar nunca foi tão fácil. As agências de viagem, a liberalização dos voos intercontinentais, a internet e a facilidade de comunicações levou a que o turismo de massas tenha crescido exponencialmente nas últimas décadas. Porém, muita pessoas viajam fechadas numa cápsula, longe da realidade local e sem contacto com o outro. Por isso, viajar – na forma como o concebo – é uma arte, uma aprendizagem continua.

Quando tiveres 80 anos, o que contarás aos teus filhos?

Não te consigo responder a esta.

 

Artigo escrito por Mateus Brandão ao abrigo da parceria entre a Agência de Viagens de Aventura Nomad  (www.nomad.pt) e o Jornal i.

 

A Nomad – Evasão e Expedições é uma agência de Viagens Aventura e Expedições. Descoberta Cultural | Aventura | Trekking e Montanha.