A Comissão Europeia vai desbloquear já um pacote de ajuda no valor de 500 milhões de euros para apoiar os produtores agrícolas europeus, sobretudo do setor do leite. O pacote vai permitir que estas ajudas comunitárias sejam utilizadas em benefício dos agricultores.
“Esta é uma resposta robusta e demonstra que a Comissão assume de forma muito sérias as suas responsabilidades face aos agricultores", declarou Jyrki Katainen, vice-presidente do executivo comunitário.
O anúncio teve lugar durante a reunião extraordinária de ministros da Agricultura da União Europeia, que está a acontecer em Bruxelas, em simultâneo com uma manifestação de milhares de agricultores, sobretudo produtores de leite.
De acordo com a Comissão, o pacote agora anunciado visa trazer liquidez aos agricultores, estabilizar os mercados e melhorar o funcionamento da cadeira de fornecimento. Bruxelas garantiu ainda que quando determinar a distribuição deste envelope, "será dada particular atenção aos estados-membros e agricultores mais penalizados pelas regras de mercado".
Entre os milhares de agricultores que hoje estão em Bruxelas contavam-se cerca de duas dezenas de portugueses, tendo Fernando Cardoso, secretário-geral da Fenelac (Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite), defendido que a crise que o setor do leite atravessa se deve em muito à falta de políticas da União pois "o mercado nem sempre é eficiente, e neste momento não é eficiente". A mesma fonte adiante que há actualmente “um grande desequilíbrio entre a oferta e a procura – mais oferta que a procura – e o objectivo de uma política é exatamente ser acionada quando o mercado não responde às exigências".
Três mil para a polícia, cinco mil para os sindicatos. A verdade é que a capital belga está praticamente paralisada devido às manifestações dos agricultores que querem mais ajudas comunitárias à produção de leite enquanto decorre a reunião dos ministros da Agricultura da UE a 28.
Alemanha, França, Reino Unido e também Portugal são os países mais afetados pelo fim das quotas leiteiras, subsidiadas pela PAC, as quais acabaram a 31 de Maço deste ano, com reflexos no preço do leite, que caiu para os níveis de 2009.
O embargo da Rússia aos produtos agroalimentares da União Europeia está a fazer o resto, provocando uma forte quebra nos rendimentos dos produtores.
Esta manhã, e enquanto entravam no edifício do Conselho de Ministros escoltados por um impressionante número de polícias, alguns titulares da pasta da Agricultura, como o belga RenéCollin, reconheciam que está a haver uma grande volatilidade nos preços deste produto e que é preciso “rever o modelo europeu para que a produção seja rentável". O que os sindicatos a defenderem que pela primeira vez “governantes e representantes dos produtores estejam a falar a uma só voz”.
Ontem, e durante todo o dia, o número de tratores estacionados na rotunda de Shuman e no Parque do Cinquentenário já era significativo. Mas hoje, e em simultâneo com a reunião dos ministros – que teve início às 14 horas de Lisboa – outros milhares de manifestantes começaram a chegar ao local.
Do lado dos sindicatos, contudo, a análise sobre mais esta crise não é unânime. O EMB, que representa cerca de 100 mil produtores de leite na Europa, e é o principal sindicato agrícola europeu, pediu às autoridades europeias uma redução da produção como medida para fazer subir os preços, sobretudo enquanto a procura, particularmente na União Europeia, se mantiver em baixa.
O sindicato também teceu críticas ao seu rival, o Copa-Cogeca, por ter apoiado a desregulamentação do mercado, considerando-o “responsável pela situação atual”.
Já para a Copa-Cogeca, os produtores estão a ser vítimas da política internacional, que levou a Rússia a responder ao embargo europeu com restrições à importação de produtos agrícolas provenientes da União Europeia.