É correcto dizer que mais depressa concretizará o sonho de ser presidente de uma câmara no Alto Minho do que presidente do PSD?
Sim, não é nada errado dizer isso. Sei que é entre os 40 e os 60 anos que se fazem essas coisas e estou a meio dos 40 e ainda não fiz nada. O meu tempo começa a escassear. Pareço novo, mas já não sou assim tão novo [risos]
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Ao longo dos últimos anos foi bastante crítico em relação a algumas decisões e da linha geral deste governo. Como vai ficar Passos Coelho na história do PSD?
[silêncio] Como o homem que tentou levar o PSD para uma matriz mais à direita do que é aquela do PSD [silêncio], mas ao mesmo tempo… Tenho muita dificuldade em responder à pergunta. Quando estivemos na última campanha eleitoral contra o eng. Sócrates, na direcção de Manuela Ferreira Leite (MFL), Passos Coelho e Miguel Relvas e todo esse grupo passaram todo esse ano eleitoral a atacar a direcção do PSD, mas não quero ser daqueles que se tornam conhecidos por disparar para dentro do seu próprio barco. No dia 4 de Outubro temos uma escolha central para fazer e vou votar na coligação. Não faz muito sentido estar a votar na coligação e agora estar a dizer numa entrevista tudo o que penso sobre o que aconteceu no PSD.
Não faz como MFL, que não diz em quem vai votar.
Não, não. Vou votar na coligação. Caramba, até no dr. Portas voto. É a primeira vez.
Custa-lhe muito?
Este ano, não. Há uma escolha a fazer e prefiro ser prudente. Tenho três filhos e entendo que é a melhor das opções que se me apresentam. É uma opção perfeita? Está longe disso e é por isso que disse ao presidente da secção de Coura que quero ser delegado ao próximo congresso. Depois disso passou um ciclo suficientemente longo para não me demitir de dizer o que penso também dentro do PSD, procurando ir ao congresso. Portanto, é um tempo em que sou menos condicionado, tenho mais liberdade.
Em Março, o “DN” noticiou que havia vários militantes a pressioná-lo para avançar. Na altura disse: “A seguir às eleições, não me demitirei de defender as minhas convicções.”
Mas isso não precisa de ser com uma candidatura ao PSD.
Irá depender do resultado das eleições?
Não. A coligação pode ganhar com maioria absoluta que não deixarei de dizer o que penso.
Acha que pode ganhar com maioria absoluta?
Acho muito difícil, mas não acho impossível. As sondagens valem cada vez menos, mas revelam uma massa enorme de indecisos que, normalmente, tendem para a prudência, ou seja, para a coligação. Há um ano, nem sequer discutíamos se a coligação podia ganhar, este ano até poderemos imaginar que poderá ter maioria. Mas acho difícil.
O PS de Costa não está a conseguir capitalizar o descontentamento.
O PS continua dividido, como prova este momento das presidenciais. O PS não conseguiu unir-se. O Costa não teve força suficiente para fazer a união do PS. Há dias em que a coligação tem tudo a ganhar em estar em silêncio e deixar o PS continuar a fazer disparates.
Não faz sentido falar em austeridade inteligente?
Não sei o que quer dizer. Vale tanto como a expressão do eng.o Sócrates de que a dívida não se paga, gere-se.
A austeridade inteligente é o quê? Gestão da dívida em função do que são as convicções e prioridades políticas de cada um? Felizmente, ainda temos a democracia para lhes avaliar as prioridades. O problema é que, quando chegamos a períodos de campanha eleitoral, tudo o que se fala é sobre cartazes. É pena. É nos tempos de necessidade que se devia pensar com mais racionalidade, independentemente da convicção de cada um.
Não estamos aprisionados pela ditadura dos mercados financeiros?
Não necessariamente. Uma sociedade não pode esperar tudo dos políticos. Apesar de tudo, há muito modelo de sucesso para copiar e, se nos entretivermos a aprender a inovar à volta desses modelos de sucesso, esses não são vítimas dos mercados. E os mercados são só uma expressão do que é a natureza humana. Mas também isso evoluirá.
Para onde está esta Europa a caminhar?
Para uma coisa menos solidária. Como tivemos medo do federalismo, quando poderia ser menos assustador, agora andamos a correr atrás de um federalismo que já não vai ser solidário como o imaginávamos.
Também temos o problema das elites.
De uma maneira diferente. As elites portuguesas são mais da sociedade civil, que não criaram produção, inteligência e economia em cima das auto-estradas. Na Europa, além da construção errada do euro, não se ataram os laços suficientes no tempo das vacas gordas para que agora a necessidade não faça surgir cada vez mais os egoísmos nacionais.
Mas esses egoísmos são históricos.
Sim, mas desde que existe a Europa é a primeira vez que os contribuintes portugueses estão a ajudar os contribuintes gregos. O egoísmo entre estados-nação, a real politik, sempre houve.
Como vê a Europa daqui a 20 anos?
Não consigo imaginar. Gostava que a economia fosse mais integrada, federal, partilhada, solidária e de garante das liberdades básicas. Mas estamos numa Europa onde a Inglaterra quer fazer um muro à entrada de Calais, onde há um doido na Hungria que já fez o que fez.
Como se resolve este problema da imigração?
Não fugindo do problema. Nós precisamos de imigração. A Europa precisa de gente nova para renovar a sua pirâmide demográfica. Acredito num mundo com menos barreiras e mais justiça.
Mas o que nós vemos é a Europa a criar mais barreiras…
Pois, não devia. As pessoas não podem vir todas para a Europa, mas há uma obrigação de criar condições de vida à escala global para as pessoas e, nesse aspecto, muita coisa tem falhado nos países em desenvolvimento. As pessoas que estão a chegar à Europa vêm da miséria, da pobreza, mas também de países onde não há sociedade, democracia.
Quem deve o PSD apoiar nas presidenciais?
O PSD apoia quem a sua direcção quiser. Qualquer um dos três anunciados tem vantagem sobre qualquer um dos candidatos anunciados da esquerda. O que gostava que fosse é o prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Ele deve e tem a obrigação de empenhar a sua inteligência e disponibilidade na coisa pública. Ele faz parte de uma elite que não pode passar pela vida sem… não basta ser uma vez presidente do PSD e desistir por causa do Portas. Pessoas com o calibre dele não andam aí aos pontapés. E acho que, neste momento, é quase uma obrigação que um homem daquela dimensão se candidate.
E terá o apoio da direcção do partido?
Não sei. Sinceramente. A relação não é boa, a moção foi escrita como foi escrita no congresso, e todos vimos isso. Mas acho que boa parte da direcção do PSD – não digo isto do seu presidente – adoraria que o dr. Rui Rio fosse candidato nas presidenciais para não o terem a aborrecê-los no partido. E também não é um cenário que me encante.
Que cenário?
O de que Rui Rio não esteja disponível para aborrecer a direcção do PSD. Rui Rio é o candidato natural à liderança do partido quando esta direcção terminar o seu ciclo. Se ele vai querer ser, isso não sei.
Como surge a entrada na Ritmos e no mundo empresarial da música?
Como no escritório. Era da direcção da MFL e o Passos Coelho ganhou as eleições no PSD e, na minha cabeça, a decisão estava tomada. Não ia continuar. Tudo na vida tem os seus ciclos. Quando escolhi não ficar, isso coincidiu com uma altura especial da vida da Ritmos, pois Coura não estava na sua fase mais alta. Conheço o João Carvalho [um dos sócios fundadores da Ritmos] da assembleia municipal.
Não são amigos de infância?
Não. Estamos a falar de uma amizade dos 20 anos. Quando era miúdo ficava em Romarigães [freguesia de Coura] e eles eram meninos da vila. Também fui candidato à assembleia municipal de Coura, o João não é do PSD, mas demo–nos muito bem. A Ritmos teve o projecto ambicioso de procurar uma parceria gigante em Espanha e avançar para o Porto para fazer um festival maior, e há cinco anos o João veio ter comigo e perguntou-me: “Porque não te juntas a nós?” E pronto.
Quando foi o primeiro festival aqui em Coura?
Em 1996, 97. Mas a partir daí, se falhei dois ou três, foi muito. Sempre cá, para mim é uma semana sagrada. Há cinco anos, eles vieram ter comigo, “estamos mal mas vamos ser maiores”. Foi o desafio a que me associei. E conseguimos.
Chegou a dizer que foi para contratar os Pixies que se meteu na música.
É [risos]. Isso é uma brincadeira, mas também é. Os cartazes não se fazem como nós queremos. Dependem de dinheiro, da disponibilidade das bandas e dos agentes. Mas hoje em dia, quase todas as minhas referências musicais já passaram por palcos nossos. E isso é uma sensação de conseguimento, para usar uma palavra nova.
O que ouvia quando era jovem?
Quando era adolescente era gótico. Os Cure não são góticos, mas são a banda que mais gente resgata do foleiro para a música boa. Os Cure são uma referência fundamental. Do liceu, a referência são os Cure, e da faculdade são os Pixies.
Então e os Led Zeppelin?
Os Led Zeppelin são sempre um fundo, porque antes também houve uma fase metaleira. Também ia aos concertos todos dos Iron Maiden no Dramático de Cascais. Mas ao fim de tantas centenas de concertos, e tão especiais, se tivesse que escolher o da minha vida, diria o dos Pixies no Coliseu em 91. Foi uma noite para a vida.
Há tempos afirmou que já fez mais pessoas felizes desde que entrou no mundo da música do que em 20 anos na política.
É verdade. Por muito pequena que seja a minha contribuição aqui, e é, o que a Ritmos fez é impressionante. Esta vila era o fim da fila e hoje é central, pois não há ninguém neste país que não saiba onde é Coura. E é por causa da Ritmos e de um festival maravilhoso que se faz aqui há 22 anos. Isso é um feito de grandes portugueses. Não é só o impacto que tem na economia local, é também o impacto do exemplo. Tens um concelho com cinco mil pessoas e três ou quatro miúdos da terra conseguiram, com ajudas, pôr isto no mapa do mundo. E conseguem ter a ambição de sair daqui para fazer um evento musical tão diferente e tão selecto como o Primavera Sound no Porto. É um feito.
Mantém a ideia de que o Primavera Sound já fez mais pelo Porto do que o Turismo de Portugal?
Não me estou a lembrar do que fez o Turismo pelo Porto. Mas claro que sim. Hoje, o Porto está muito diferente, mas o Primavera é um marco brutal na cidade.
E o que aconteceu ao Remember de Cascais?
Foi uma ideia muito engraçada, pois achávamos que fazia sentido ter um festival revivalista, e porque tínhamos muita música dos anos 80 que gostávamos de ouvir. Depois, por razões várias, os nossos anos 80 gastaram-se mais depressa do que os anos 80 que estão disponíveis para tocar [risos] porque, afinal, a ideia não funcionou assim tão bem. Foram muito divertidas aquelas três edições, mas foi uma coisa que nos estava a consumir energia e esforço sem ter o resultado que nós queríamos.
O mercado dos festivais está saturado, como diz o João Carvalho?
Não sei o que é isso, pois todos os dias ouço falar num novo. Hoje, toda a gente que faz uma feira chama-lhe festival.
A sua filha alguma vez lhe pediu para trazerem os One Direction?
Não, mas pediu-me para ir aos One Direction e fomos.
Para quem considera Led Zeppelin a melhor banda de sempre, como lida com isso?
Isso não se discute. Faço muita educação musical no carro e ela vai fazer 15 anos, e já não gosta. Gostava quando tinha 12 ou 13. No outro dia ia todo orgulhoso no carro porque ela ia a cantar o último álbum dos The National.
Teme que algum dia ela peça para ir ao Sudoeste?
Esse dia há-de chegar, mas para já gosto de a ver aqui em Coura comigo. Confio nela, na responsabilidade dela, e quando ela me pedir para ir ao Sudoeste, se houver um DJ que ela queira ouvir nesse ano, porque não?
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