Política e justiça


Aqui há dias, na Universidade de Verão do PSD, o eurodeputado social-democrata Paulo Rangel elogiou o “ataque sério e consistente” feito nos últimos tempos “à corrupção e à promiscuidade” e questionou se “alguém acredita que se os socialistas estivessem no poder haveria um primeiro--ministro sob investigação”, ou “o maior banqueiro estaria sob investigação”. Houve quem…


Aqui há dias, na Universidade de Verão do PSD, o eurodeputado social-democrata Paulo Rangel elogiou o “ataque sério e consistente” feito nos últimos tempos “à corrupção e à promiscuidade” e questionou se “alguém acredita que se os socialistas estivessem no poder haveria um primeiro--ministro sob investigação”, ou “o maior banqueiro estaria sob investigação”. Houve quem visse nesta declaração algo estranho e nebuloso, sobretudo por surgir em pré--época de eleições e chamar claramente a primeiro plano o caso Sócrates. 

Julgo, porém, que se trata de um serviço prestado à comunidade por alguém que pode estar a falar com conhecimento de causa, alguém que sabe bem como se cozinham estas ligações entre poder político e poder judicial. Na verdade, durante o reinado do PSD/CDS e de Pedro Passos Coelho/Paulo Portas, quantos políticos desta área foram incomodados pelas investigações policiais? Muitos, é verdade. Quantos foram realmente julgados? Não tenho números, mas não me lembra de tantos quantos o que se revelaram suspeitos. Sei que entre suspeitas e provas vai uma longa distância que não se deve percorrer de ânimo leve. Mas veja-se o já referido caso Sócrates. Será que este caso é um “caso” por o governo actual ser PSD/CDS? 

Mas há factos concretos para pôr em cima da mesa. Há algum tempo, o “Correio da Manhã” noticiava que “a Polícia Judiciária poderá ter sido impedida de investigar o ex-ministro Dias Loureiro no âmbito do caso BPN”. E continuava a dizer “que o processo estará parado há alguns anos, e que desde 2009 a antiga directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Cândida Almeida, terá prometido à PJ enviar o processo relativo ao ex-ministro”.
Ainda segundo o “Correio da Manhã”, “Cândida Almeida terá dito que passaria à PJ o processo relativo a Dias Loureiro no âmbito do caso BPN se a Judiciária reforçasse a equipa que investiga crimes económicos”. A notícia, deveras curiosa, concluía que, “apesar do reforço das equipas da PJ, a Judiciária não recebeu o alegado processo relativo a Dias Loureiro, embora tenha recebido outros de arguidos menos mediáticos envolvidos no caso BPN. Dias Loureiro, apesar de ter sido constituído arguido no caso em 2009, não voltou a ser interrogado. Questionada pelo “Correio da Manhã”, Cândida Almeida afirmou não poder dizer porque é que o processo não tinha sido encaminhado para a Judiciária”.

Dias Loureiro, ministro dos Assuntos Parlamentares e da Administração Interna de Cavaco Silva, foi constituído arguido em 2009. Em 2011 subiu ao poder o governo PSD/CDS. Dias Loureiro foi esquecido. Sócrates está em Évora. Seria a “casos” como este que se referia Paulo Rangel?

Escreve à sexta-feira

Política e justiça


Aqui há dias, na Universidade de Verão do PSD, o eurodeputado social-democrata Paulo Rangel elogiou o “ataque sério e consistente” feito nos últimos tempos “à corrupção e à promiscuidade” e questionou se “alguém acredita que se os socialistas estivessem no poder haveria um primeiro--ministro sob investigação”, ou “o maior banqueiro estaria sob investigação”. Houve quem…


Aqui há dias, na Universidade de Verão do PSD, o eurodeputado social-democrata Paulo Rangel elogiou o “ataque sério e consistente” feito nos últimos tempos “à corrupção e à promiscuidade” e questionou se “alguém acredita que se os socialistas estivessem no poder haveria um primeiro--ministro sob investigação”, ou “o maior banqueiro estaria sob investigação”. Houve quem visse nesta declaração algo estranho e nebuloso, sobretudo por surgir em pré--época de eleições e chamar claramente a primeiro plano o caso Sócrates. 

Julgo, porém, que se trata de um serviço prestado à comunidade por alguém que pode estar a falar com conhecimento de causa, alguém que sabe bem como se cozinham estas ligações entre poder político e poder judicial. Na verdade, durante o reinado do PSD/CDS e de Pedro Passos Coelho/Paulo Portas, quantos políticos desta área foram incomodados pelas investigações policiais? Muitos, é verdade. Quantos foram realmente julgados? Não tenho números, mas não me lembra de tantos quantos o que se revelaram suspeitos. Sei que entre suspeitas e provas vai uma longa distância que não se deve percorrer de ânimo leve. Mas veja-se o já referido caso Sócrates. Será que este caso é um “caso” por o governo actual ser PSD/CDS? 

Mas há factos concretos para pôr em cima da mesa. Há algum tempo, o “Correio da Manhã” noticiava que “a Polícia Judiciária poderá ter sido impedida de investigar o ex-ministro Dias Loureiro no âmbito do caso BPN”. E continuava a dizer “que o processo estará parado há alguns anos, e que desde 2009 a antiga directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Cândida Almeida, terá prometido à PJ enviar o processo relativo ao ex-ministro”.
Ainda segundo o “Correio da Manhã”, “Cândida Almeida terá dito que passaria à PJ o processo relativo a Dias Loureiro no âmbito do caso BPN se a Judiciária reforçasse a equipa que investiga crimes económicos”. A notícia, deveras curiosa, concluía que, “apesar do reforço das equipas da PJ, a Judiciária não recebeu o alegado processo relativo a Dias Loureiro, embora tenha recebido outros de arguidos menos mediáticos envolvidos no caso BPN. Dias Loureiro, apesar de ter sido constituído arguido no caso em 2009, não voltou a ser interrogado. Questionada pelo “Correio da Manhã”, Cândida Almeida afirmou não poder dizer porque é que o processo não tinha sido encaminhado para a Judiciária”.

Dias Loureiro, ministro dos Assuntos Parlamentares e da Administração Interna de Cavaco Silva, foi constituído arguido em 2009. Em 2011 subiu ao poder o governo PSD/CDS. Dias Loureiro foi esquecido. Sócrates está em Évora. Seria a “casos” como este que se referia Paulo Rangel?

Escreve à sexta-feira