Obrigado, Alemanha


Numa epifania luminosa e surpreendente, afinal são os alemães que agora os recebem de braços abertos e sorriso na cara. Ainda há humanidade.


© Bela Szandelszky/AP

Steve Jobs, o falecido génio da Apple, era filho de um sírio. No entanto, foi entregue para adopção e criado por um casal de ascendência arménia. Não foi fácil para o jovem Steve lidar com o caso e aqueles que leram sobre a sua vida sabem que ele nunca quis conhecer o seu pai biológico. Whatever, fez-se homem e (re)fundou uma das mais influentes empresas de sempre.

Lembrei-me deste detalhe quando lia sobre os últimos episódios do drama dos refugiados, maioritariamente originários da Síria. Estamos todos cansados das imagens e das histórias de sofrimento e morte que nos chegam diariamente. Pelo que dizem os jornais, há uma vaga de 320 mil pessoas a entrar na Europa, que parece disposta a receber apenas 120 mil refugiados.

Não imagino onde vão ficar os outros 200 mil, mas em algum lado terão de ser recebidos. O Mediterrâneo não é uma nova “solução final”. Mas a questão exige que sejam tomadas medidas políticas urgentes, coerentes e estruturadas.

O problema dos refugiados tem uma escala equiparável ao dos refugiados provocados pela Segunda Guerra Mundial. Exige concertação entre os estados-membros da União Europeia, uma liderança à altura, uma orientação política clara e fundos para o seu acolhimento.

Os esforços pessoais, voluntaristas e casuísticos são generosos e sempre bem-vindos, mas a dimensão do problema demanda uma resposta vigorosa dos líderes europeus.

O que não faz sentido é ver uns países a numerar os refugiados com marcas na pele (à nazi), outros a impedirem-nos de entrar em comboios e ainda outros a receberem-nos com presteza.

Há coisas curiosas: há 75 anos os refugiados partiam do centro da Europa (Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Polónia, Checoslováquia, etc.) e fugiam em direcção à Península Ibérica e ao Médio Oriente. Agora vêm daí para o centro da Europa.

Numa epifania luminosa e surpreendente, afinal são os alemães que agora os recebem de braços abertos e sorriso na cara. Ainda há humanidade.

Escreve à sexta-feira

Obrigado, Alemanha


Numa epifania luminosa e surpreendente, afinal são os alemães que agora os recebem de braços abertos e sorriso na cara. Ainda há humanidade.


© Bela Szandelszky/AP

Steve Jobs, o falecido génio da Apple, era filho de um sírio. No entanto, foi entregue para adopção e criado por um casal de ascendência arménia. Não foi fácil para o jovem Steve lidar com o caso e aqueles que leram sobre a sua vida sabem que ele nunca quis conhecer o seu pai biológico. Whatever, fez-se homem e (re)fundou uma das mais influentes empresas de sempre.

Lembrei-me deste detalhe quando lia sobre os últimos episódios do drama dos refugiados, maioritariamente originários da Síria. Estamos todos cansados das imagens e das histórias de sofrimento e morte que nos chegam diariamente. Pelo que dizem os jornais, há uma vaga de 320 mil pessoas a entrar na Europa, que parece disposta a receber apenas 120 mil refugiados.

Não imagino onde vão ficar os outros 200 mil, mas em algum lado terão de ser recebidos. O Mediterrâneo não é uma nova “solução final”. Mas a questão exige que sejam tomadas medidas políticas urgentes, coerentes e estruturadas.

O problema dos refugiados tem uma escala equiparável ao dos refugiados provocados pela Segunda Guerra Mundial. Exige concertação entre os estados-membros da União Europeia, uma liderança à altura, uma orientação política clara e fundos para o seu acolhimento.

Os esforços pessoais, voluntaristas e casuísticos são generosos e sempre bem-vindos, mas a dimensão do problema demanda uma resposta vigorosa dos líderes europeus.

O que não faz sentido é ver uns países a numerar os refugiados com marcas na pele (à nazi), outros a impedirem-nos de entrar em comboios e ainda outros a receberem-nos com presteza.

Há coisas curiosas: há 75 anos os refugiados partiam do centro da Europa (Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Polónia, Checoslováquia, etc.) e fugiam em direcção à Península Ibérica e ao Médio Oriente. Agora vêm daí para o centro da Europa.

Numa epifania luminosa e surpreendente, afinal são os alemães que agora os recebem de braços abertos e sorriso na cara. Ainda há humanidade.

Escreve à sexta-feira