O palco do anúncio foi a enorme parada militar que ontem marcou os 70 anos do fim da SegundaGuerra Mundial, perante a assistência de milhares de chineses concentrados em Pequim para as comemorações. Oexército do país, que integra mais de 2 milhões de membros, vai sofrer uma redução de 300 mil tropas, anunciou o presidente chinês, Xi Jinping, parte da acelerada modernização das forças armadas, que pretende transferir a despesa em forças territoriais tradicionais para forças de ar e mar mais avançadas – um projecto que exige menos pessoal mas mais bem treinado.
“Anuncio que a China vai reduzir 300 mil o número dos seus efectivos militares”, disse, após declarar que o exército de libertação do povo está “lealmente comprometido com o seu dever sagrado de defender a segurança da terra-mãe e a vida pacífica do seu povo”, e “lealmente comprometido com o dever sagrado de garantir a paz mundial”.
Falando à multidão de um palanque com vista para a famigerada Praça Tiananmen, Xi descreveu o corte de pessoal como um “gesto de paz”, numa altura em que os vizinhos regionais de Pequim se têm mostrado cada vez mais preocupados com os reforços militares e os seus avanços territoriais, nomeadamente no disputado mar do Sul da China. No âmbito desta estratégia de ocupação e criação de novas ilhas artificiais para aumentar os pontos de defesa no corredor marítimo, poderia parecer estranha a decisão de reduzir o exército, não se sabendo até ao fecho desta edição se os outros países da região acolheram ou não de bom grado o dito “gesto de paz” do regime chinês.
Estratégia Ao anunciar o maior corte de pessoal militar das últimas duas décadas, o presidente sublinhou que continua, ainda assim, determinado a avançar com a sua agenda de reestruturação das forças armadas chinesas, isto apesar de o actual desaceleramento da economia e das contínuas quedas nas bolsas. Um dos grandes desafios agora é encontrar empregos para as centenas de milhares de soldados dispensados, a maioria com baixas qualificações.
Sendo um corte pouco significativo dada a dimensão não só do exército como da população chinesa no seu todo, não parece representar quaisquer riscos de minar as aspirações chinesas a umas forças armadas mais aptas. A parada de ontem foi, aliás, descrita por vários observadores independentes como uma demonstração de força e hegemonia a um público global, mais que a celebração da derrota do Japão há sete décadas.
“Parece uma agradável surpresa [o corte no pessoal militar], porque ele [Xi Jinping] está claramente a vesti-lo como um sinal de paz e boa vontade”, explicou ao “New York Times” Rory Medcalf, director da Faculdade de Segurança Nacional da Universidade de Camberra, na Austrália. “Mas a China provavelmente não precisa de um exército tão grande. Opessoal representa um custo enorme no orçamento da defesa e tem havido subidas nos salários militares nos últimos anos, portanto há razões de capacidade sensíveis para cortar no número de pessoal sem pôr em causa a sua eficácia.”
Chineses nos EUA Durante a manhã de ontem, por volta da hora a que Xi discursava em Pequim, as autoridades norte--americanas denunciaram a presença de cinco navios da Marinha chinesa no mar de Bering, ao largo da costa do Alasca. Segundo a BBC, será a primeira vez que são vistas embarcações navais chinesas a operar nesta área, levantando questões sobre a amplitude da estratégia militar de Pequim na região alargada onde se situa.
A Marinha dos Estados Unidos diz estar a monitorizar as actividades destes navios, confirmando que estão a operar em águas internacionais. Ao “Wall Street Journal”, as mesmas fontes explicaram que os navios parecem estar a encaminhar-se para as ilhas Aleutian, cujo controlo está dividido entre os EUA e a Rússia. Isto acontece durante a visita de três dias do presidente, Barack Obama ao Alasca para discutir as alterações climáticas e o seu impacto nocivo naquela região do globo.