Asilo. Cameron cede à pressão e aceita acolher “milhares de sírios”

Asilo. Cameron cede à pressão e aceita acolher “milhares de sírios”


Crise humanitária na Europa atinge ponto de ruptura. Relatos no terreno são cada vez mais agonizantes. Juncker vai propor quota de acolhimento de 160 mil pessoas.


A informação ainda não é oficial, mas segundo as fontes anónimas da Comissão Europeia que ontem a avançaram ao “Wall Street Journal”, será oficializada na próxima quarta-feira. Nesse dia, o presidente do executivo europeu, Jean-Claude Juncker, planeia pedir aos estados-membros que acolham não 40 mil refugiados dos mais de 300 mil que já entraram na UE pela Grécia e pela Itália desde o início deste ano, mas sim até 160 mil de entre os muitos mais que entram todos os dias no território da UE por esses dois países e pela Hungria – o novo ponto de entrada primordial após meses e meses de travessias mortíferas em botes sobrelotados no Mediterrâneo.

Falhado o sistema inicial de quotas proposto pela Comissão Juncker em Maio, com países como o Reino Unido e a Hungria a recusarem participar no esforço humanitário, a UE vai subir a parada, prevendo-se que, depois do anúncio oficial na próxima semana, a nova proposta seja discutida no encontro de 14 de Setembro entre os ministros do Interior dos 28 estados.

Cameron “comovido” É quase certo que o governo húngaro de Viktor Órban vá voltar a recusar, depois de ontem ter declarado que este “problema dos refugiados” não é húngaro nem europeu, é “alemão” [ver secundário]. Em contrapartida, surgiram ontem rumores de que o executivo britânico de David Cameron possa alterar, mesmo que de forma limitada, a sua postura. 
De acordo com o “Guardian”, numa notícia avançada pelas 18h em Lisboa depois de mais uma enchente de relatos trágicos do que está a acontecer nas principais rotas marítimas e terrestres que os refugiados percorrem na tentativa de alcançarem bom porto, David Cameron deverá anunciar “em breve” que vai acolher um número para já desconhecido de refugiados sírios, na ordem dos “milhares”.

Fontes do executivo conservador disseram ao jornal que os detalhes finais sobre o número de pessoas a quem será concedido asilo, bem como os fundos e os locais de acolhimento, estão a ser ultimados “a toda a velocidade” e que os futuros asilados serão “seleccionados” dos campos do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados criados nas fronteiras com a Síria. As mesmas fontes de Downing Street dizem que foi a imagem do corpo do bebé curdo que deu à costa turca que levou a esta decisão do primeiro-ministro.

Ainda antes de essa alegada decisão, por confirmar, ter sido avançada pelo “Guardian”, os media britânicos já tinham noticiado que quase 200 mil pessoas já assinaram uma petição parlamentar para que a questão do acolhimento de refugiados seja debatida no parlamento, número suficiente para forçar os deputados a discutirem novas medidas.

Cenário Negro Ao longo do dia de ontem, a situação na Hungria, onde centenas de milhares de pessoas já chegaram nos últimos dias, deteriorou-se ainda mais. O país cancelou todos os comboios internacionais, mantendo apenas travessias ferroviárias domésticas, horas depois de ter sido noticiado que milhares de refugiados que partiram de Budapeste para a Alemanha foram forçadas a sair do comboio a meio caminho, na cidade de Bicske, para serem metidas em campos improvisados – um mês antes de o governo apresentar no parlamento húngaro a proposta de campos de trabalho para os migrantes.

Na República Checa, as autoridades continuaram a marcar os braços dos refugiados com números a tinta permanente, com esse país, a Polónia e a Eslováquia a cancelarem as ligações por comboio à Hungria. E na Alemanha, as autoridades anunciaram que 3500 pessoas pediram asilo só na quarta-feira. Os 340 mil refugiados que já entraram na União Europeia desde Janeiro representam, em relação ao total de habitantes dos 28 estados-membros, 0,0638%.