A Europa começa a reagir à vaga de migrantes, mas dá sinais de uma impotência preocupante. Bruxelas não entendeu o problema quando o podia ter contido em Itália e na Grécia, não agiu para envolver a comunidade internacional numa solução para as guerras na Síria e no Iraque, e agora demora na criação de uma porta segura que permita evitar as desgraças diárias em famílias desesperadas que fogem da guerra e procuram um novo sonho nesta Europa.
A Hungria resolveu tornar tudo ainda mais complicado e vergonhoso. Mesmo sem ser um país desejado pelos refugiados, ergueu muros nas fronteiras, persegue quem apenas quer passar para a Áustria ou para a Alemanha, cercou famílias inteiras numa estação de comboios obrigando todos aqueles que já tinham sofrido para além do que é aceitável a uma desesperante espera, para depois serem amontoados num comboio. Há relatos da marcação de alguns destes refugiados, num vergonhoso e humilhante processo de registo. As Nações Unidas condenaram a postura do governo húngaro, que nem sequer admite a ajuda de emergência a estas pessoas e já se lança numa cruzada internacional para dizer que eles não são bem-vindos na Europa. Não votei, nem nunca votaria, em tal gente, que vive cega por uma ideologia de intolerância. Estamos perante mais um sinal do naufrágio desta Europa. Não deleguei a minha condição de cidadão deste mundo, que teve a felicidade de nascer num país pacífico, nestes senhores que agem assim, num cenário europeu que se diz de liberdade, sem ninguém lhes lembrar que estamos a falar de pessoas, iguais a nós, desesperadas na fuga de uma guerra em que a comunidade internacional tem também muitas responsabilidades. A posição húngara é totalmente inaceitável, mas a Europa parece tolerar, num silêncio vergonhoso. Até quando?
Jornalista
Coordenador do Jornal 2 – RTP2
Escreve à sexta-feira