De todos os desportos esquisitos com que já me deparei, este é até agora o mais estranho. Porquê? Não é por não ser jogado com uma bola (o objecto do jogo até é circular).
O facto de mais de metade de uma equipa poder ser substituída por cães – como naqueles filmes de fim-de-semana –, sem daí resultar qualquer perda de qualidade de jogo, também não é razão para que esta disciplina seja realmente estranha.
Não, o que confere a este desporto, possível modalidade olímpica já em 2016, a sua aguda peculiaridade é o facto de não ter árbitros. Para se marcar uma falta é necessário haver consenso entre os jogadores, ou então, como se fazia no tempo em que jogava à bola no rinque do jardim, é preciso fazer birra e não deixar mais ninguém jogar até ser marcada aquela falta.
O Ultimate Frisbee teve origem em 1968 numa escola de Nova Jérsia. O espírito da década de 60 influenciou certamente os seus criadores na decisão de prescindirem de árbitros. E bem. É que pelo menos em relação ao futebol nunca o jogo foi tão puro como o jogado nesses rinques e jardins: nunca uma equipa saiu do campo a queixar-se de mais alguém que não de si própria.
“É o custo da profissionalização”, dirão alguns. Mas será mesmo? Será que se não houvesse um árbitro dentro do campo Maradona não teria reconhecido que aquele golo contra a Inglaterra afinal tinha mesmo sido com a mão? Tê-lo-ia tentado sequer? “Mas isso é a magia do futebol”, dirão outros. Mas não devem ser ingleses.