Manchester City. A contenção durou pouco tempo

Manchester City. A contenção durou pouco tempo


Regra do fair play financeiro perdeu alguma força na última janela de transferências.


Decidido a recuperar o título perdido para o Chelsea na temporada passada, o Manchester City abriu os cordões à bolsa, investindo cerca de 209 milhões de euros em novos jogadores. Já as vendas, na ordem dos 68 milhões, embora possam causar inveja a muitos clubes, não chegaram para equilibrar a balança.

As três principais aquisições do Manchester City, por incrível que possa parecer, figuram nas seis compras mais caras do mercado de Verão. Kevin de Bruyne custou 74 milhões e Raheem Sterling 69, e foram os dois jogadores mais caros da última janela de transferências. Nicolás Otamendi aparece no sexto lugar, após um investimento de 44,6 milhões. No total, e contando com outras aquisições menores, o Manchester City gastou 209 milhões, sendo que as equipas que se seguem na lista foram o Manchester United e o Atlético Madrid, com 139 milhões em compras, cada.

A diferença é que o Manchester United encaixou 102 milhões em vendas e o Atlético Madrid 104, contra os 68 do Manchester City. Mas ninguém tem um balanço tão positivo como o FC Porto, que apresentou um lucro entre compras e vendas de quase 84 milhões. Já o rei das vendas foi o Monaco que, após falhar a qualificação para a Liga dos Campeões, encaixou em poucos dias 100 milhões, a juntar aos 60 que tinha conseguido desde o final do campeonato.

Há seis anos, Michel Platini explicou pela primeira vez que os contornos do fair play financeiro, que seria introduzido apenas na temporada de 2012/13, como forma de impedir que algumas equipas continuassem a investir fortunas em jogadores. Segundo a UEFA, a medida funcionou, com o saldo negativo dos clubes a descer de 1,7 mil milhões para os 400 milhões, com equipas como o Chelsea a registarem lucros pela primeira vez em anos (desde que Abramovich comprou o clube).

Só o PSG e o Manchester City ultrapassaram os limites e, por isso, foram multados em 67 milhões de euros cada, e impedidos de contratar jogadores durante algum tempo. Ambos os clubes contestaram, afirmando que a regra servia apenas para manter a ordem mundial estabelecida há muito no futebol, acabando por ver as multas descerem para 22 milhões, sem outras penalizações. Também a Associação de Clubes Europeus se queixou, alegando que as regras foram subvertidas, permitindo que os clubes mais ricos continuassem a dominar, sufocando os restantes, que não tinham fundos para acompanhar a corrida.

Esta temporada teve algumas alterações, que permitiram que clubes como o Manchester City voltassem à carga no mercado. O primeiro factor é o mercado televisivo inglês, com as receitas da transmissão dos jogos a poderem chegar aos 11,5 mil milhões a partir da próxima temporada, por um período de três anos. Nenhum outro país regista estes valores no negócio das transmissões televisivas, razão pela qual é difícil criar uma regra homogénea para o fair play financeiro em toda a Europa. Além disso, os valores oferecidos pelos jogadores podem ser amortizados ao longo da duração dos seus contratos.

Como se isto não bastasse, em Itália, muitos donos de clubes queixaram-se que seria impossível comprar uma equipa e potenciá-la, à luz das regras do fair play financeiro. Por essa razão, a UEFA permitiu que os novos donos investissem o que quisessem nos clubes, desde que apresentassem um plano de negócio onde explicassem como iam deixar de registar prejuízos, o que aumenta de forma clara as áreas cinzentas do fair play financeiro, cada vez mais aberto a diferentes interpretações. Ainda assim, a preocupação com o fair play financeiro terá de continuar presente, já que a margem de derrapagem financeira desceu de 60 para 40 milhões, algo que terá efeito nas próximas três temporadas.