Fernanda Tadeu tinha até agora rosto – são inúmeras as vezes que apareceu ao lado do marido, António Costa, em vários momentos da longa carreira política do líder do PS –, mas agora a participação passou para outro patamar. A mulher do candidato socialista deu uma entrevista ao jornal de campanha, fala à imprensa e o casal é até referido pela candidatura como “uma história de confiança”. E promete ir a campanha.
Só não se pode dizer que além do rosto, Fernanda Tadeu (que foi educadora a vida toda) ganhou agora voz porque é já sobejamente conhecido (e até referido sem reservas pelo próprio António Costa) o episódio da sua participação na manifestação dos professores contra o governo de José Sócrates (e Costa) e a fotografia em que aparece a protestar entre a multidão. “Voltava a fazer tudo outra vez”, disse recentemente à revista “Visão”.
Deu uma entrevista ao último número do jornal de campanha do PS em que diz que não quer “ser mulher de ninguém. Chamo–me Fernanda Tadeu, tenho uma identidade. Para além disso, orgulho-me muito do meu marido e confio em absoluto nele”. Há dois dias, na página oficial de campanha no Facebook (Costa 2015), foi colocada uma fotografia dos dois, há anos, em férias, com um breve texto sob o título: “Uma história de confiança.” Depois conta–se que casaram há 28 anos, “não houve festa, mas sim um hambúrguer rápido no Abracadabra da Rua do Ouro (…) antes de seguirem para Veneza em lua-de-mel. António sempre soube gerir a sua vida pessoal e profissional e Fernanda tem sido o seu maior apoio”.
Estratégia? Fonte oficial do partido diz ao i que nada disto “obedece a uma estratégia. O ponto não é a família, mas mostrar quem ele é, mostrar o seu perfil e a sua história”. No meio do marketing político, nada disto é estranhado. António Cunha Vaz diz que em Portugal “acontece menos por razões culturais, mas há uns anos que se trazem as famílias para as campanha, com mais ou menos felicidade”. “Épositivo que apareçam, porque os políticos são cidadãos como os outros. Humaniza um bocado a campanha. Só é negativo quando há aproveitamento excessivo do cônjuge”, diz o consultor de comunicação, que faz logo saltar o exemplo Bárbara Guimarães/Manuel Maria Carrilho na campanha autárquica de 2005 em Lisboa.
Mas ganham-se votos? “Não, é mais pela empatia que o cônjuge pode trazer. Algumas vezes até podem atrapalhar, quando querem ser protagonistas”, responde Cunha Vaz ao i. Já o investigador em ciência política José AdelinoMaltez tem outra leitura e vê estas participações como uma tentativa de “conquista do centrão, que precisa de romance cor-de-rosa, ou então de bons costumes. O centrão não tem ideologia nem causas, mas tem identificação e a família é uma identificação”. Maltez diz mesmo que este é um elemento de campanha “muito positivo porque se trata do quotidiano dos portugueses sem ideologia e causas que vão pela simpatia e dão votos”.
Não é um assunto exclusivo desta candidatura, ainda menos desta campanha, em que Laura Ferreira, um exemplo entre muitos, já traz a experiência de 2011. Em Pedro Passos Coelho e AntónioCosta, AdelinoMaltez vê dois “políticos muito treinados, monocórdicos, precisam de alguém que quebre esta uniformidade da mensagem. Neste caso, as mulheres servem para adoçar, e muito à portuguesa, nada de éticas protestantes, com extensos questionários aos candidatos sobre a vida pessoal”.
Os Tadeu Costa Na entrevista que deu, a primeira, Fernanda Tadeu fala da vivência a dois – “acho que sou das pessoas que ele entende que vale a pena ouvir” –, dos tempos livres – “precisamos de falar, de contar a nossa vida e partilhar as nossas angústias (…) de fazer caminhadas (…) ir ao cinema”, fala dos dotes culinários do marido – “tem como especialidade o lombo Wellington, terrines e muqueca de camarão”. Diz que vai participar na campanha, mas como a acha “muito cansativa” participará “em alguns momentos e eventos mais significativos”. Assume que agora o faz porque “este é um momento importante. E também porque esta é a forma de nos darmos a conhecer, de nos humanizar”. Queixa-se da “dura” profissão de docente, “cada vez menos valorizada. Acho que é uma área a que o António, se for primeiro-ministro, terá de dar prioridade absoluta”. Aliás, quando se imagina como mulher do primeiro–ministro, não diz ver “grandes alterações”, a não ser “a grande vantagem de passar a ter acesso directo a um primeiro-ministro”.
De resto, descreve a tal vida comum. “Não tenho tido uma vida fácil, como a maior parte das pessoas não tem.” Fala de como se conheceram e do namoro, “que só começou cinco anos mais tarde”, do início de vida em comum, com Costa na recruta em Tavira e uma “lua-de-mel em cheio. Sozinha e a lavar fardas cheias de lama”, e da falta de tempo para acompanhar a vida política do marido – “sempre entendemos que cada um tinha uma vida própria e nem sempre podíamos estar juntos”. Acredita que continuará a ser assim se o marido chegar a São Bento – “nunca viverei a vida de outra pessoa”. Por agora estará em campanha com ele, bem como os dois filhos. Uma imagem a quatro que já vem de trás. Ainda há um ano, nos debates televisivos na luta interna do PS, a família acompanhava-o até aos estúdios televisivos para os debates com AntónioJosé Seguro.