Domingos Paciência. Um currículo com 41  jogos e nove vitórias em quase três anos

Domingos Paciência. Um currículo com 41 jogos e nove vitórias em quase três anos


Treinador português passou por quatro equipas, de outros tantos campeonatos e países, desde finais de 2012. Só um clube o manteve no banco mais de três meses ou oito jogos,e foi na sua última passagem por Portugal, em 2014/15.


Domingos Paciência teve apenas dois clubes na sua carreira de jogador profissional: o FC Porto e o Tenerife. E poderia nunca ter saído de Portugal, não tivesse sido atingido por um cocktail explosivo composto por uma rotura de ligamentos e Mário Jardel, que atiraram o último melhor marcador português do campeonato nacional para a saída das Antas pela porta traseira. Pendurou as botas em 2001, com 32 anos, depois de ter sido dispensado, e abraçou de imediato a carreira de treinador. 

No banco, Domingos Paciência começou pelo FC Porto B, primeiro como adjunto e depois como treinador principal, em 2004/05. Com essa equipa, Domingos terminou no sexto lugar da 2.a Divisão B Zona Norte, com um plantel que contava com Bruno Vale, André Villas-Boas, Nuno André Coelho, Nuno Coelho, Fábio Espinho, Bruno Gama, Vieirinha e, pasme-se, Thiago Silva, o capitão da selecção brasileira.

Após uma temporada sem treinar, Domingos assumiu o controlo de uma equipa da primeira liga, a U. Leiria, em 2006/07. Levou consigo Bruno Vale e conduziu a U. Leiria ao sétimo lugar, o mesmo que Jorge Jesus tinha conseguido na temporada anterior. Sairia antes do fim do campeonato, por divergências com a direcção, mas o bom trabalho estava feito. Seguir--se-ia a Académica, onde chegou para substituir Manuel Machado, à quarta jornada. Domingos agarrou nos estudantes, já eliminados da Taça da Liga e com apenas um ponto em três jornadas, e conduziu a equipa ao 12.o lugar. No ano seguinte levou a equipa ao sétimo posto, a melhor classificação desde 1984/85, época em que a Briosa também foi sétima.

A carreira de Domingos Paciência prometia e seguiu-se um novo salto, desta vez para Braga, onde voltaria a substituir Jorge Jesus, a caminho do Benfica. Nessa época, de 2009/10, o Sp. Braga não esteve longe de conseguir o impensável, tendo sido a única equipa capaz de discutir o título com o Benfica. Os guerreiros terminariam a liga no segundo lugar, naquela que ainda é a melhor classificação da sua história. No ano seguinte Domingos manteve–se em Braga, mas a prestação do clube no campeonato, desta feita um honroso quarto lugar, acabaria por ser ultrapassada pela presença na Europa. Na Liga Europa o Sp. Braga deixou pelo caminho equipas como o Liverpool, o Dínamo Kiev e o Benfica, marcando presença na final com o FC Porto. Falcao marcou o único golo da final e os dragões levaram o troféu para casa. O trabalho de Domingos em Braga estava terminado e era altura de assinar por um clube à dimensão dos seus feitos.

O início do fim Por esta altura o Sporting andava à procura de um novo presidente, depois da demissão de José Eduardo Bettencourt. Cinco candidatos chegaram–se à frente, todos com treinadores de gabarito internacional na sua carteira: Zico, Dunga, Marco van Basten e Frank Rijkaard. Godinho Lopes seria o único a optar por um treinador nacional, que não foi logo identificado por ainda estar em funções. Todos sabiam que a sua escolha era Domingos Paciência, que parecia ser a opção mais razoável, pelos resultados obtidos em Braga.

Para mal de Domingos, embora ele ainda não o soubesse, Godinho Lopes venceu as eleições, e levou consigo para Alvalade o treinador português. No Sporting tudo acabaria por correr mal, e Domingos deixaria o clube ainda em Fevereiro, no quinto lugar – e na final da Taça de Portugal. 

Tal como quando era jogador, Domingos resolveu deixar o país apenas quando as coisas lhe estavam a correr mal pela primeira vez. A opção foi novamente Espanha, desta feita o Deportivo. Domingos daria início à primeira de quatro experiências negras, por quatro países onde, ao longo de quatro temporadas e pouco menos de três anos, somou apenas 41 jogos e nove vitórias. Na Corunha Domingos foi anunciado a 30 de Dezembro de 2012, e a 11 de Fevereiro do ano seguinte já estava de saída. Agarrou no Deportivo no último lugar e foi onde o deixou, passados apenas seis jogos, em que só venceu na estreia.

Sem crédito, Domingos iria demorar quase um ano a arranjar um novo clube. A luz ao fundo do túnel apareceu na Turquia, no Kayserispor, onde, tal como em Espanha, teve o seu primeiro jogo à 18.a jornada. Esteve dois meses certinhos no clube, mais que no Deportivo, e dessa vez aguentou até ao sétimo jogo. Agarrou na equipa no 17.o e penúltimo lugar do campeonato, e largou-a em último, a nove pontos da linha de água. Não ficaria muito tempo sem clube, com o V. Setúbal a dar–lhe a mão no início da temporada de 2014/15, com a saída de José Couceiro para o Estoril, depois de levar os sadinos ao sétimo lugar. Em Setúbal, Domingos aguentou até meio do campeonato, deixando o clube na 15.a posição, somando apenas cinco vitórias num total de 20 jogos em todas as competições.

A última aventura de Domingos teve lugar no início da temporada, em Chipre. No comando do tricampeão APOEL, Domingos ainda sobreviveu a duas eliminatórias de acesso à Liga dos Campeões e venceu a primeira jornada do campeonato. O problema foi a derrota na Supertaça, nos penáltis, e a queda no play-off de acesso à liga milionária, frente ao modesto Astana. Foi o fim da última aventura de Domingos, após três meses e oito jogos. Ninguém sabe o que o futuro reserva ao treinador português, mas depois de esgotadas todas as opções – clubes grandes e pequenos; campeonatos médios e pequenos – vai ser precisa uma verdadeira segunda oportunidade para voltar onde já esteve.