Está instalado o pânico em Londres. Não é uma ameaça terrorista, é a possibilidade de Jeremy Corbyn, da ala esquerda do Labour, vencer as eleições do Partido Trabalhista e tornar-se chefe da oposição.
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Na iminência de Corbyn suceder a Ed Miliband, o chanceler do Tesouro, George Osborne, deu ontem o tom máximo de alerta vermelho: “Os novos unilateralistas da política britânica são uma ameaça à nossa segurança nacional e à nossa segurança económica. Vamos lutar contra os seus argumentos perigosos e vamos derrotá-los”, disse ontem o chanceler Osborne (o equivalente no Reino Unido ao ministro das Finanças).
Se as sondagens estiverem certas, Jeremy Corbyn, 66 anos, um histórico “esquerdista” do Labour, combatente desde o primeiro dia do “blairismo”, será o futuro líder trabalhista. Corbyn defende, entre outras medidas polémicas, o desarmamento nuclear do Reino Unido. Tanto Corbyn como o Partido Nacional Escocês (SNP) estão contra a renovação do programa de mísseis Trident que está a ser desenvolvida pelo governo conservador. Num artigo no diário “The Sun”, Osborne referiu-se ontem à “infeliz aliança entre os esquerdistas do Labour e os nacionalistas escoceses” que vai pôr em risco o consenso histórico entre trabalhistas e conservadores a propósito das armas nucleares “que é tão importante para a nossa segurança e credibilidade enquanto aliados”. Osborne lembrou que esse consenso só foi abalado nos anos 80 quando o Labour esteve dominado por “esquerdistas”.
“O regresso dos unilateralistas à política britânica ameaça o futuro da segurança da nação. Num mundo que se está a tornar cada vez mais perigoso, seria um desastre para o Reino Unido rebentar com a política de segurança que nos mantém livres e seguros”, disse Osborne. E se existem membros do Partido Conservador a congratularem–se com a previsível vitória de Jeremy Corbyn – por acreditarem que com um esquerdista à frente, o Labour nunca mais voltará a ganhar eleições –, Osborne não tem a mesma opinião. A questão é grave e é para ser levada muito a sério, diz o chanceler conservador.
Se é verdade que Corbyn já conseguiu o apoio do Podemos espanhol, as comparações entre o quase futuro líder trabalhista e o Syriza também são muitas. David Miliband – que perdeu a disputa interna do Labour há quatro anos para o seu irmão Ed e decidiu não se recandidatar – escreveu um artigo duríssimo no “Guardian”.
Afirma David Miliband: “O Reino Unido não é a Grécia, nem em termos de dívida ou défice, nem em termos das escolhas políticas com que estamos confrontados, ao contrário do que defende Jeremy Corbyn, que quer que o Partido Trabalhista se transforme num movimento antiausteridade segundo o modelo grego.” Para o Miliband blairista, se Corbyn vencer as eleições no Labour, o Reino Unido poderá transformar-se “numa democracia multipartidária em que apenas os conservadores podem ganhar as eleições”.
Tony Blair e os blairistas – Gordon Brown incluído – têm dado o tudo por tudo para tentar evitar uma vitória de Jeremy Corbyn. O “Telegraph” chegou a noticiar uma reunião secreta em que Peter Mandelson (um dos homem-fortes do blairismo) tentou convencer os outros três candidatos – Liz Kendall, Yvette Cooper e Andy Burnham – a desistirem da corrida, inviabilizando as eleições, cujos resultados vão ser conhecidos a 6 de Setembro.
Mas o que tem Corbyn para irritar tanto o – até agora – main-stream trabalhista? Além de se opor ao programa nuclear do Reino Unido, defende a renacionalização dos transportes públicos, um imposto sobre os mais ricos, a recuperação do serviço nacional de saúde e da escola pública. Mas o antigo apoiante do IRA – muito antes da paz entre a Irlanda do Norte e Westminster – tem estado consistentemente à frente das sondagens para a eleição trabalhista. Aparentemente, o Labour, que viu Ed Miliband – da ala esquerda mole – falhar, está a querer virar ainda mais à esquerda.