Os actores Diogo Amaral e Vera Kolodzig, e o filho, Mateus, vão andar durante um mês e meio em viagem pelos Estados Unidos da América numa autocaravana. Com Los Angeles como ponto de partida, vão andar ao sabor do vento, mas é certo que visitarão locais como o Grand Canyon, Las Vegas ou Yosemite.
Já lá vão 3637 quilómetros que fazem desta a nossa maior road trip de sempre. Viajar com a nossa Jacqueline nem sempre é fácil, especialmente num país cheio de regras. Ela é discriminada ou por ser demasiado alta ou demasiado gorda, ou demasiado lenta. O pior pesadelo para quem anda com a casa às costas é estacionar. Visitar cidades grandes torna-se praticamente impossível. Há lugares de apenas 20 minutos, outros de 40, uns de uma hora e outros de duas. Até há lugares de 24 minutos, vá-se lá saber o porquê desta precisão. Há muitos parques de estacionamento, mas ou são muito caros ou têm limite de altura. Mas um bom português sabe dar a volta à situação.
Em São Francisco estacionámos num lugar de 40 minutos de um restaurante e ficámos a tarde toda a passear. Tivemos a sorte de não apanhar nenhuma multa e confiámos que não seria assim tão fácil rebocar um veículo com aquele tamanho todo. Foi uma situação única e apesar de sermos bons portugueses, o melhor mesmo é não fugir às regras deste país. Depois há a questão das dormidas. Há aquela ideia de que a vantagem de uma autocaravana é poder dormir em qualquer lado, mas não é bem assim. Na maior parte dos sítios turísticos e parques naturais não se pode estacionar à noite e não quisemos arriscar multas por dormir à beira da estrada. Tem mesmo de se encontrar parques para autocaravanas que, muitas vezes, são a vários quilómetros dos locais de interesse. E tem de se planear com antecedência, o que para nós é uma missão impossível. Nem sabemos onde queremos estar no dia seguinte, quanto mais fazer reservas com sete meses de antecedência, como se faz por aqui. Mas tivemos sorte. No Parque Natural de Yosemite conseguimos uma noite mesmo no vale, e já no Grand Canyon tínhamos conseguido um lugar por uma noite. Só uma noite. E só porque temos muita sorte.
Há muitas regras, mas funciona tudo muito bem. Num cruzamento tem prioridade quem chega primeiro e ninguém desrespeita. Há um sentido de civismo admirável. Se estivermos parados mais de cinco minutos numa berma, há sempre alguém que pára a oferecer ajuda. E não houve nenhuma situação em que nos tenhamos sentido inseguros. O único problema que temos tido é a alimentação. No país do barbecue, para quem não come carne e tenta ser mais ou menos saudável é um desafio fazer uma refeição. Só em cidades grandes ou sítios da moda é que se encontram boas opções. E só houve um supermercado em 30 dias de viagem em que vimos um peixe inteiro à venda.
Depois de tantos dias no interior, a vontade de chegar à costa era muita. Ficámos desolados com o mau tempo e as manhãs nubladas na zona de São Francisco em pleno Agosto, mas assim que começámos a descer tivemos as nossas compensações. Fizemos a estrada do Big Sur, que é provavelmente das mais bonitas do mundo, e com o sol a rasgar as nuvens, a paisagem de montanha de um lado e o Pacífico do outro tornou-se ainda mais especial. Outra grande compensação foi finalmente encontrar um café decente. O que foi um bocadinho indecente foi a reacção da empregada quando dissemos que somos de Portugal: “Oh, that’s in Greece, right?”