Agosto, mês clássico para gozar as férias, está no fim. É tempo de regressar ao trabalho e o momento certo para fazer uma radiografia à forma como os portugueses e os restantes europeus trabalham. O diagnóstico está feito com os rankings da OCDE e da UE, mas é bom avisar que este regresso à realidade pode chocar as sensibilidades mais cardíacas.
Para começar, os portugueses estão entre os europeus que menos férias pagas gozam e também entre os que mais horas trabalham por ano. Como se isso por si só não fosse suficiente, Portugal está também entre os países da Europa em que a produtividade vale menos no momento de converter em euros cada hora de trabalho.
Com 22 dias úteis, Portugal está entre os países europeus que menos tempo de férias tem. Só os irlandeses e os belgas gozam menos dias. As 39,7 horas de jornadas semanais colocam também os portugueses entre os que mais tempo investem no trabalho. Só os gregos (41,9 horas), os polacos (40,8) e os checos (40,4) estão à frente.
No final do ano e feitas as contas, os portugueses trabalham que se fartam – 1857 horas entre Janeiro e Dezembro. Já foram muito mais horas, segundo os dados da OCDE, atingiam as 2017 horas na década de 70. Mas há quem trabalhe muito mais do que nós. É mais uma vez o caso dos gregos com 2042 horas acumuladas ao longo do ano, dos polacos com 1923 horas e dos húngaros que ultrapassam os portugueses por uma hora.
Os portugueses trabalham mais 486 horas do que os alemães. Se esta distância parece excessiva, olhemos outra vez para o que se passa na Grécia – mais 671 horas do que os alemães e mais 185 dos que os portugueses. Os recordistas mundiais contudo estão fora docontinente europeu e surpreendentemente não são os chineses. É o México a encabeçar o ranking da OCDE com 2228 horas, logo atrás está a Costa Rica com 2216 horas e a Coreia do Sul (2163).
Tantas horas a trabalhar de quase nada servem na hora de traduzir a competitividade em euros. Cada hora de trabalho rende em Portugal 17,1 euros. Os valores estão a milhas de distância do Luxemburgo, onde cada hora rende 58,8 euros. O ranking de produtividade da União Europeia mostra que piores do que nós só no Leste – Roménia, com 5,6 euros e Bulgária com 4,9 euros.
E na hora de fazer as contas ao salário mínimo é o Luxemburgo que lidera o ranking do Eurostat. Os 1922 euros é mais do triplo que o salário mínimo português: 589 euros, com os subsídios de férias e de Natal, incluídos. Reino Unido, Bélgica, e Holanda com vencimentos superiores a 1500 euros estão logo atrás.
Grécia, que reduziu o salário mínimo em 14% nos últimos dois anos, fixando agora em 683 euros é o 10.º país como o salário mínimo mais baixo. Abaixo de Portugal está a Polónia, com 417 euros, mas os valores mais modestos continuam no Leste, com a Bulgária a ocupar o fundo da tabela (194 euros).
Mais do que azia, estes números provocam muita ansiedade. Em Portugal, o nível de stresse atinge 59% dos trabalhadores, segundo o estudo da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho divulgado em Maio. Os trabalhadores mais stressados contudo estão no Chipre (88%) e na Grécia 82%. Fica a dúvida de saber onde procurar o bem-estar no trabalho. Será uma boa reflexão para fazer agora na rentrée.