s imagens são impressionantes e recordam outros tempos negros da Europa. Muros, arame farpado, comboios apinhados de gente, cargas policiais para manter a ordem. Gente desesperada que andou milhares de quilómetros para entrar na Europa próspera, dos direitos humanos, da solidariedade e dos Estados sociais. Gente desesperada que foi escorraçada dos seus países por guerras civis devastadoras. Gente desesperada que encontra agora no seu caminho para a vida muralhas e mares de morte. Milhares morrem no Mediterrâneo, gente morre em camiões abandonados em modernas auto-estradas da Europa.
Milhares são encurralados em campos miseráveis ao ar livre, sem água e sem comida. Gente que imaginou, um dia, que as primaveras árabes prometidas pelos vendedores de democracia iam transformar os seus países em economias prósperas, justas e muito democráticas. Gente que saudou os aviões italianos, franceses e ingleses a bombardear os seus países dominados por tiranos. Gente que acreditou no canto da sereia europeia e norte-americana e que agora, frustrados os sonhos, tenta pedir aos vendedores de banha da cobra que os recebam de braços abertos para escaparem à miséria e à morte. Gente que veio do Afeganistão abandonado à sua sorte pelo democrata Obama. Gente que veio do Iraque para fugir à guerra civil e ao Estado Islâmico, também deixado à sua sorte pelos democratas Obama e Cameron.
Gente que foge da Síria e da Líbia, da destruição total, da guerra civil provocada por senhores que dão pelo nome de Obama, Sarkozy, Hollande e Cameron. Gente que agora é escorraçada, agredida e morta à porta do paraíso prometido. No mar e em terra. Cobardes como são e profissionais da mentira, organizam cimeiras e nos intervalos insultam-se mutuamente. Gente morre todos os dias e os líderes europeus e a sua imensa camarilha de burocratas embrulham–se em discursos piedosos para disfarçar não só a impotência como o medo de apoiarem de forma decidida os milhares e milhares de desesperados que tentam chegar à terra prometida. Medo dos xenófobos, dos nacionalistas e dos neonazis que estão a voltar em força à Europa do Holocausto. Medo de perderem votos, de perderem o poder. Medo e cobardia, as duas imagens de marca de uma vasta maioria de líderes que ainda tem tempo para aceitar iniciativas nazis, anti-semitas, como a que pede a prisão do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, quando chegar a Londres em Setembro.
Mas no meio de tanto lixo há uma grande excepção. Uma grande senhora, uma grande líder que enfrenta o problema dos refugiados de frente, com medidas corajosas que provocam o ódio dos xenófobos, nacionalistas e neonazis. Merkel, a grande senhora que manda na Alemanha há muitos anos, decidiu abrir as portas do seu país a todos os refugiados sírios e receber mais 800 mil pessoas nas suas fronteiras. A resposta dos criminosos nazis não se fez esperar, com uma vaga de atentados a centros de refugiados e insultos à mulher que relembra à Europa os seus deveres e princípios. Mas Merkel não cede e enfrenta os criminosos com coragem e determinação. Um senhor chamado Barack Obama enlameou os Nobel da Paz em 2009. Este ano será a altura de o suspeito comité se redimir e entregar, sem margem para dúvidas, o Nobel da Paz a uma mulher que está a salvar milhares e milhares de desesperados da miséria e da morte. Haja coragem para enfrentar os cobardes, os criminosos que lançaram o Médio Oriente no caos e para a morte e que hoje deixam morrer os seus cidadãos no mar e nas modernas auto--estradas europeias. Haja coragem para denunciar os anti-semitas nesta Europa cada vez mais saudosista dos nazis e do Holocausto.