Falou de Passos Coelho e de Sócrates. De Seguro diz que era um totó. E António Costa?
Está a fazer uma campanha desastrosa. Nunca leio programas, não preciso, prefiro que me digam nos jornais ou na televisão como é que eles vêem o mundo. E não vejo uma visão muito diferente, no caso do António Costa, da visão do Passos Coelho. O que acontece é que, no meio da crise, o que eles têm é de gerir. Mesmo assim, o António Costa deveria dizer ao seu eleitorado socialista o que o preocupa genuinamente e o que vai fazer. Não é dizer ‘vou criar não sei quantos postos de trabalho’, depois afinal já não é criar, é uma estimativa. Isto são coisas pequeninas que fazem as pessoas desconfiar. A cena dos cartazes em si até nem tem uma grande importância, suponho que em todos os países se arranjem cartazes lá na instagram ou como se chama.
{relacionados}
Nos bancos de imagens.
Isso. Simplesmente aquelas eram particularmente infelizes porque diziam ‘Eu sou desempregada’. E depois aquilo ficou assim tudo numa névoa, num pântano. E agora ele aparece no cartaz cor-de-rosa! Não percebo o que lhes passou pela cabeça para fazerem aquele cartaz! Não acredito que o António Costa tenha a menor vergonha em assumir que tem sangue indiano, até porque ele tem orgulho no pai. Fazem-no branco para quê? E os jornais não falam nisso porquê? Porque têm medo de serem apelidados de racistas? Não tem explicação! Não me tem atraído, não me convenceu ainda a votar nele.
Nem noutros candidatos?
Não, na direita não voto, nunca!
Referia a esquerda.
Não, porque a esquerda é como o Syriza e o Podemos, sonham com um mundo que já não existe, que é um mundo, como disse, das classes trabalhadoras, provavelmente com uma ditadura do proletariado, esse mundo desapareceu. Hoje em dia há a globalização, há fenómenos absolutamente novos como o desaparecimento da classe operária, e portanto o mundo do Bloco é um mundo anacrónico. A única deputada que respeito é a Mariana Mortágua, porque desempenhou um óptimo papel e porque mostrou aos portugueses o que é ser deputado, é uma mulher que vai para casa e que prepara as coisas e portanto interroga. Até votava na Mariana Mortágua se ela fosse do círculo da Lapa e se não fosse do BE e eu não tivesse que pôr a cruzinha no BE. Imagine que havia círculos uninominais, como acho que devia haver, e que a Mariana se candidatava. Fiquei com confiança nela, porque percebi que ela trabalhava. Os outros estão lá e nem sei os nomes deles. Levantam-se, sentam-se, levantam-se, sentam-se. Pff. Não me interessa.
Vê-se que a Mariana estudou o dossier e que sabe do que fala, mas não haverá mais gente assim que não vemos na televisão? Não estaremos a ser injustos?
Não, não estamos a ser injustos, leio três jornais diários e todos os semanários, e deixei de ver o telejornal, deixei de ver televisão portuguesa completamente, agora desde que estou doente só vejo séries à noite quando paro de trabalhar. Não considero que haja políticos que estejam a fazer coisas maravilhosas e que nunca tenha dado por isso, não.
Mas e criar, acha que Mariana, se estivesse no poder, conseguiria criar?
Não sei, por isso digo que não votaria nela do ponto de vista ideológico, porque ela sonha com uma sociedade e com acção política para uma sociedade que não existe. Portanto eles podem querer o que quiserem, isso desapareceu. Por exemplo, acho que o Rui Tavares é um homem inteligente, mas o modelo na cabeça dele da sociedade portuguesa não é o que existe.
E para a sociedade real, que propostas é que deveriam ser feitas?
Olhe, têm de discutir a Europa, alguma vez viu a Europa ser discutida? Não, nem fazem ideia. A globalização? Zero. A concorrência dos chineses, a escola pública, há imensas matérias sobre as quais eles poderiam ter uma opinião. Só para dar um exemplo, deve ou não o Ministério da Educação subsidiar escolas privadas que são frequentadas por meninos ricos, nomeadamente escolas católicas cujos pais têm dinheiro? Para que é que o Estado está a subsidiar? Concordam ou não concordam? Perguntas concretas! Você é ou não a favor dos numerus clausus nas universidades? Como devem ser determinados? Mantendo-me ainda no domínio do ensino, que é o que conheço melhor, acha que o acesso às universidades deve ser feito por um computador como é feito agora, com base nas notas dos exames, ou as universidades devem dar-se ao trabalho, porque são preguiçosas, de elas próprias escolherem os alunos como deve ser? Os problemas concretos não são discutidos no parlamento nem na campanha. Andam a discutir a porcaria dos cartazes porque é a única coisa que veio ao de cima. A impreparação total do ponto de vista técnico impede o PS de montar uma campanha decente. Os outros, como diz o Marcelo Rebelo de Sousa, estão todos a fazer de mortos e se continuam a fazer de mortos até às eleições vai haver uma enorme abstenção. Porque as pessoas olham para aquilo e cresce uma coisa que me apavora, que é a raiva contra os políticos, que acaba sempre mal. Felizmente estamos na Europa, porque senão isto podia acabar muito mal.