Em boa harmonia com esta memorável silly season, o prestigiado constitucionalista Vital Moreira resolveu dar um ar da sua graça, ao ser noticiada nestas páginas a sua cruzada para acabar com as corridas de toiros em Portugal, qualificando--as como “a barbárie da tortura dos animais para gáudio do sadismo público”. Homem de leis, indigna-o não haver um tribunal com “a coragem de proibir estes espectáculos de degradação humana” e exige a sua extinção por decreto, qual rainha D. Maria II, que assim o fez durante nove meses, sendo depois obrigada a recuar pelas cortes e por imperativo… constitucional. Longe de mim recordar a História a um constitucionalista republicano e democrata, nada disso. Cada um é livre de dizer e propor os disparates que quiser, mas não o é para insultar ou ofender a liberdade do seu semelhante, tal como está consagrado (hélas!…) na Constituição da República.
Assim, perante tal estado de intolerância, não perderei um minuto sequer a debater o tema. Mas porque nunca me escondi nem me tenho por “bárbaro” ou “sádico”, só me atrevo a aconselhar ao ilustre constitucionalista uma leitura da chamada “Convenção de Faro para o Património Cultural” (Conselho da Europa, 2005), ficando assim bem claro que nunca partilharei com ele qualquer happy meal no McDonald’s. E sim, tenho o maior gosto em me juntar solidariamente à “barbárie” dos “sádicos” Welles, Almodovar, Goya, Picasso, Dali, Pomar, Siza, Lorca, Hemingway, Cela, Cocteau, Marquez, Llosa, Redol, Álvaro Guerra, Amália, Alzira Seixo, Alice Vieira…
É-me vital.
Escreve ao sábado