Mondim de Basto fica já em terra transmontana, sendo embora zona de transição do Minho. A vila, no sopé do monte Farinha, verdíssimo – lugar da célebre ermida da Senhora da Graça, referência da prova de ciclismo a Volta –, conserva um núcleo histórico resguardado – casas tradicionais avarandadas, janelas floridas, ruelas empedradas –, bem preservados que estão os edifícios mais nobres ou monumentais, e pode gabar-se da gastronomia local, com destaque para a carne maronesa, certificada. Pretexto, aliás, para almoço numa adega típica, a dos 7 Condes, com direito a suculentos nacos da tal maronesa e à lenda dos ditos condes, de olhos claros, transcrita no cardápio. Interessante!
O destino, porém, era chegar às Fisgas do Ermelo, que nem a estiagem que por aí grassa fez esmorecer. Em pleno Parque Natural do Alvão, as montanhas agrestes e rochosas, grandes afloramentos quartzíticos, desnudos, em fino contraste com os lameiros verdejantes da várzea, partem-se em abruptas escarpas, e o ar rarefeito enrola-se na música do silêncio. Segundo informação municipal, “foi a fractura destas rochas duras que permitiu que o rio Olo nelas se tenha ‘enfisgado’, dando origem ao nome popular pelo qual é conhecida a mais bela cascata do território continental português”, também “uma das maiores quedas de água da Europa”. Eis as Fisgas! E como se não bastasse, no escorrer das águas, aqui e ali, formam-se pequenas lagoas, as “piocas”, a que no pino do Verão é difícil resistir.
Outras são as fisgas com que a campanha estival nos tem fisgado. Do folhetim dos cartazes passámos ao dos debates, e o mais alargado, o de 22 de Setembro, foi ao ar porque a malta do PAF, mais conhecida por coligação ou maioria, de triste memória, já tinha a sua fisgada: Passos e Portas só lá iriam juntos!? Pois então, quatro eram as candidaturas no frente-a-frente, mas os senhores do governo queriam ir ao par. Está bom de ver que os restantes participantes se opuseram. Pelo meio haverá outros debates, a dois ou mais, mas de candidaturas diferentes. Só nos faltava esta amizade “irrevogável” dos nossos primeiro e vice-primeiro! Foram juntos ao Pontal e ficaram vezeiros. Diga-se de passagem que quantas menos forem as oportunidades, maiores serão os resguardos. De quem governa, claro! A campanha corre-lhes de feição: cada acto oficial é uma promenade partidista. Andam ministros, secretários, deputados e aspirantes numa roda-viva. Correm o país de lés a lés. Cinquenta meses depois (de tomar posse) e eleições à vista resultaram num frenesim governativo de desbaratar à trouxe-mouxe o que resta dos dedos, que os anéis já se foram! O ajuste directo da concessão da STCP e Metro do Porto é de real gabarito! E o mais que se verá…
De Mondim de Basto o regresso foi por Celorico de Basto, terra de “fidalgos” rurais, posto que a agricultura e a pastorícia foram sustento de muitas gerações de terratenentes e rendeiros. Hoje, os tempos são outros, a produção de vinho verde ganhou espaço, mas o cultivo das terras perdeu gente e recursos. A emigração sangrou a terra e deixou um rasto de incaracterística (re)construção nas aldeias. Das antigas casas senhoriais, não resta muito. No lugar de Padredo encontrámos uma que resiste. Bem-haja!
Gestora
Escreve quinzenalmente ao sábado