Ninguém se  quer ver livre  de Günter Grass

Ninguém se quer ver livre de Günter Grass


O autor alemão, que morreu em Abril deste ano, deixou-nos um último livro. “Vonne Endlichkait” é hoje editado na Alemanha.


A morte nunca foi coisa de digestão fácil. Há quem se enfrasque em álcool para denegrir a imagem que se espera, no dia seguinte, ter sido mero pesadelo. Há quem destranque o baú de memórias, fotografias, cartas, aparelhos com a função de reavivar imagens que se querem a cores, escuridão daqui para fora. As opção são infinitas, embora se saiba de algumas que parecem, à partida, mais leves. 

Em Abril, o mundo viu partir uma das grandes referências do universo literário, o Nobel da Literatura (1999) Günter Grass, que morreu aos 87 anos. Urgiu a busca de eventuais obras que tenham ficado por adquirir, outras que, tendo sido emprestadas a amigos, nunca chegaram a ser devolvidas. Sejamos brandos. Até porque há um novo motivo para celebrar a obra de Grass e evitar a sua morte por mais uns momentos. “Vonne Endlichkait” [possível de traduzir por Da Finitude] é o livro póstumo do autor que é hoje editado em alemão, com chancela da Steidl. 

São 176 páginas de prosa breve, poemas, cartas de amor, textos, ilustrações de sua autoria, naquilo a que se poderia chamar uma compilação em que o escritor incide sobre temas como o envelhecimento, a perda, a existência humana, tudo isto sem perder o seu “humor subtil, que chega a ser hilariante”, disse Gerhard Steidl na apresentação do livro. Foi precisamente nessa sessão que o dono da Steidl afirmou: “Günter Grass deixou–nos uma despedida comovente.” 

Dono de uma voz que jamais alguém foi capaz de silenciar – o poema “Mutti” (Mãezinha em português), que dedica a Angela Merkel, assim o comprova –, Grass parece não se querer despedir definitivamente. “Este livro é uma experiência literária. Combina uma série de pequenas prosas, cada uma acompanhada por um poema e um desenho a lápis feitos pelo autor. Embora seja composto por um conjunto de numerosos pequenos elementos, um arco narrativo muito claro emerge do trabalho”, conta o editor Dieter Stolz, também na apresentação de “Vonne Endlichkait”. 

É o mesmo Stolz quem afirma que não acredita que venha a ser encontrado algum manuscrito do autor que tenha ficado guardado num qualquer cofre ou gaveta esquecida, mas também adianta que está programada uma possível edição dos diários do autor de “O Tambor” (1959). A obra custa 28 euros, numa primeira edição de 50 mil exemplares. “Vonne Endlichkait” talvez venha a ter a sua tradução para inglês pelo Outono de 2016, mas ainda nada está confirmado. Ou seja, ou é dos que lê em inglês ou a espera pode tornar-se interminável.