Margarida Queiroz Pereira. Mulher rica, mulher falida

Margarida Queiroz Pereira. Mulher rica, mulher falida


A irmã de Pedro Queiroz Pereira optou por confiar em Ricardo Salgado e investir no GES e no BES.


A irmã de Pedro Queiroz Pereira optou por confiar em Ricardo Salgado e investir no GES e no BES. Mas, tal como o ex-banqueiro, entrou em colapso. Agora  tem três processos de Revitalização  Especial. Um que a envolve directamente e outros dois de empresas que são suas. Tudo para evitar a falência e os credores.

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Era uma vez quatro irmãos. Um morreu e os outros três zangaram-se à pala de Ricardo Salgado. Estamos a falar dos irmãos Queiroz Pereira e em particular de Margarida, que acaba de ver as suas duas empresas e ela própria envolvidas num Processo de Revitalização Especial (PER) por causa dos investimentos que fez no GES e no BES. 
O anúncio dos três PER foi publicado esta terça-feira no portal do Citius, ao mesmo tempo que se ficou a saber que Ana Maria Rito Pereira, a administradora judicial nomeada para o processo de revitalização  pessoal de Margarida Queiroz Pereira, também vai ser responsável pela recuperação  da Mqp SGPS e da Big Empire SA.

A história da derrocada de Margarida e das suas duas empresas conta-se em poucas palavras, embora a discrição seja o mote da família toda. Ao invés de confiar no irmão para gerir o seu património, optou por procurar ajuda junto de Ricardo Salgado e, tal como ele, viu todo o seu património desfazer-se em pó com a queda do Grupo Espírito Santo e do BES.

 Ao recorrer ao Processo Especial de Revitalização, a imã de Queiroz Pereira evita que os credores peçam a sua insolvência pessoal por incumprimento de dívidas, o mesmo acontecendo com as duas empresas, que deste modo evitam a falência. 
No caso da Mqp SGPS, a nomeação do administrador judicial foi aprovada na secção de Comércio do Tribunal Central de Lisboa a 11 de Agosto, sendo o processo da Big Empire despachado dois dias a seguir, enquanto o PER pessoal de Margarida foi aprovado a 12 de Agosto.

Os anúncios publicados na terça-feira dão aos credores 20 dias a contar da data da publicação no Citius para reclamarem os seus créditos, enquanto a administradora judicial vai ter cinco dias para fazer uma lista provisória de créditos.

Entre acordos e desacordos, o certo é que a precária situação financeira a que Margarida chegou tem tudo a ver com a guerra entre os três irmãos, que já vem de longe. E também com a relação privilegiada que PQP tem mantido ao longo dos anos com a mãe, usufrutuária da maioria do património e que detém o controlo sobre a Vértice.  

Foi precisamente esta proximidade entre mãe e filho que esteve na origem da acção judicial que as duas irmãs, Margarida e Maud, interpuseram em Abril do ano passado para conseguirem informação sobre a venda de posições accionistas nas holdings que controlam a Semapa, a Sodim e a Sonagui, e que foram vendidas à Vértice.  As irmãs defendem que se tratou de uma venda feita pela usufrutuária a si própria, a qual permitiu ao empresário deter o comando das holdings, no âmbito da guerra pela Semapa.
 
O corte com Salgado Recorde-se que foi Pedro Queirós Pereira quem pôs fim a um casamento quase perfeito com Ricardo Salgado, destruindo uma relação entre as duas famílias de praticamente oito décadas, ao entregar ao Banco de Portugal um vasto dossier com provas contra o ex-presidente do BES,  um ano antes da Resolução que criou o Novo Banco ser aprovada. Ao seu lado estiveram José Maria Ricciardi, outro inimigo fidagal de Salgado, e Fernando Ulrich, presidente do BPI.
 
PQP também foi mortífero nos ataques contra Salgado na audição parlamentar de inquérito ao BES. Acusou-o de hipócrita, quando aquele disse ter reforçado a sua posição nas sociedades que controlam a Semapa só para ajudar Maude e Margarida. E criticou-o por ter explorado os conflitos públicos entre  irmãos para tentar assumir o controlo da Semapa, a jóia de coroa dos Queiroz Pereira, dona da Secil, da Portucel, da Soporcel e da Inapa. Ao que Salgado contrapôs que estava apenas a ajudar irmãs a venderem as suas posições. Com os resultados que se conhecem agora.

Um império do século XX A fortuna dos Queiroz Pereira foi construída em pleno século XX, ainda antes do 25 de Abril, quando António Oliveira Salazar era chefe de governo. A época ficou marcada pelo aparecimento de um grupo restrito de grandes empresários, ligados sobretudo à indústria, que se impôs logo a seguir à Segunda Grande Guerra, e do qual faziam parte a família Mello, dona da Cuf, os Espírito Santo, já no ramo bancário, António de Medeiros e Almeida, António Manuel de Almeida, Caetano Beirão da Veiga, José Eduardo Guedes de Sousa e Manuel Boulhosa, entre outros.

O denominador comum a todos eles era Oliveira Salazar, com quem mantinham uma relação privilegiada que lhes permitia ter uma palavra decisiva sobre o grosso da economia nacional. 

Foi nessa altura que Manuel Queiroz Pereira, pai de Pedro, Maude e Margarida, apresentou ao presidente do conselho o projecto para a construção de um hotel de luxo a construir no centro de Lisboa, num terreno público de 13 mil metros quadrados, perto do Parque Eduardo VII. Salazar gostou da ideia e o patriarca da família conseguiu negociar a utilização do nome Ritz com o dono da famosa cadeia de hotéis.  

Depois da revolução a maioria das empresas da família foi nacionalizada e à semelhança da maioria dos Espírito Santo, Manuel, a mulher e os filhos mudaram-se de armas e bagagens para o Brasil. Ali, PQP assumiu o cargo de administrador de várias sociedades ligadas à indústria, ao comércio, ao turismo e à agricultura, ao mesmo tempo que descobriu o prazer de participar em corridas de automóveis, tendo feito grandes amigos no meio, como Ayrton Senna. 
Quando Manuel Queiroz Pereira morreu, PQP deixou definitivamente o Rio de Janeiro e voltou a Portugal para dirigir algumas das empresas que acabara de herdar. Comprou a Secil em 1995 e, mais tarde a Portucel e o hotel Ritz, que o pai tinha fundado na década de 50, aos restantes accionistas.