Grab0v0y. 0 h0m3m qu3 arras7a mul7idõ3s c0m s3qu3nc1as num3r1cas

Grab0v0y. 0 h0m3m qu3 arras7a mul7idõ3s c0m s3qu3nc1as num3r1cas


Nasceu na cidade de Bogora, no Cazaquistão, licenciou-se em Matemática e chegou a ser preso pelo regime de Putin. Hoje tem milhares de seguidores graças às suas fórmulas. Há quem as use para emagrecer, curar doenças, encontrar objectos perdidos ou consertar frigoríficos.


Há quem lhe chame o Einstein do século xxi. Mas Grigory Petrovich Grabovoy tem uma vantagem incomensurável sobre o pai da teoria da relatividade: conta com a internet e as redes sociais para divulgarem a sua obra, angariando um pouco por todo o mundo milhares de seguidores que partilham sequências numéricas que o físico cazaque defende reprogramarem o corpo humano. Segundo o líder do movimento, podemos conquistar tudo o que desejarmos simplesmente enunciando as fórmulas número a número.

Grigory Petrovich Grabovoy nasceu a 14 de Novembro de 1963 na cidade de Bogora, distrito de Kirov, na região de Chimkent, no Cazaquistão. Estudou na faculdade de Matemática Aplicada na Universidade de Tachkent, onde se formou em 1986. Pertence à Academia Internacional de Informática e actualmente é assessor do Serviço Federal de Aviação da Rússia. Graças aos seus dons extraordinários de clarividência e cura, transformou-se numa figura mundialmente famosa, tendo sido condecorado com a medalha de prata da Academia das Ciências da Rússia. 

Mas a primeira vez que atraiu sobre si os holofotes dos media, em 2005, foi por motivos menos nobres. Grabovoy prometeu ressuscitar uma criança morta no massacre da Escola Beslan e acabou por ser julgado em 2006, em Moscovo, tendo sido sentenciado a 11 anos de prisão, por ter organizado um esquema em pirâmide que franchisou junto dos seus admiradores, que lhe pagavam a dízima. Contudo, um grupo de defensores russos que incluiu, entre outros, o célebre advogado e activista dos direitos humanos Mikhail Trepashkin, intentou uma acção penal contra Vladimir Putin e o presidente Medvedev nas Nações Unidas, no Tribunal de Haia e no Tribunal Penal Internacional, tendo conseguido a libertação antecipada do físico em Maio de 2010.

Mas os adeptos do método de Grabovoy parecem pouco preocupados com os mortos que o seu mentor não terá conseguido ressuscitar. Só no Facebook existem pelo menos duas centenas de grupos em todas as línguas, onde é explicado o método e onde pessoas de todas as nacionalidades partilham os seus testemunhos. “Ontem por volta das 21h40 colei atrás do frigorífico (na parte do congelador) a sequência 648 471819 472 para consertos de equipamentos e o 741, que é para soluções imediatas. Hoje o frigorifico voltou a funcionar e o congelador está óptimo”, diz uma seguidora do método numa das páginas daquela rede social. Outro testemunho revela que há uma semana a filha perdeu o telemóvel. “Pedi ajuda no grupo para me enviarem um código para o recuperar e fui atendida prontamente. Hoje volto para agradecer a Deus, ao universo e a todos porque a pessoa que o encontrou na quinta-feira devolveu-o. Gratidão a todos.”

Há também quem recorra à magia dos números para emagrecer, colando-os no corpo ou em garrafas de água para controlar o apetite.

Os pedidos sucedem-se: “Bom dia. Podem dizer-me por favor se há algum código para avaria de motas? A minha irmã está fora do país e precisa. Muito agradecida”, diz outra seguidora de Grabovoy. Outros solicitam a sequência numérica para “insónias e pesadelos” porque não conseguem dormir mais de três horas por noite. E ainda há quem peça números para resolver problemas de flatulência e eructação.

Um site francês disponibiliza mesmo uma série de sequências numéricas para a regeneração do corpo. O código 1257814, por exemplo, serve para fazer frente à insuficiência respiratória aguda. Deve ser pronunciado e activado em voz alta, número a número, depois de a pessoa dizer o nome completo, o dia e a hora e enviar o pedido para o universo. Existem também códigos para tumores malignos da boca, da garganta, do intestino delgado, dos ossos, do pâncreas, mas também para questões de ordem material como a venda de imóveis ou a entrada imediata de dinheiro. 

Um pouco por todo o mundo multiplicam-se os seminários em que os adeptos mais próximos de Grabovoy explicam presencialmente como se utiliza a metodologia. Um dos aspectos sublinhados é a importância de respeitar as pausas das sequências numéricas. No ano passado decorreram encontros em Estrasburgo, Dijon, Aix-en-Provence, Paris, Nantes e Lausanne, entre outras cidades. A Austrália seguiu a moda, tendo organizado reuniões em inúmeras cidades. 

O facto é que o físico já não é apresentado nos cartazes como um ex-condenado, mas como alguém que trabalha para o governo russo e permitiu ao país evitar uma série de catástrofes ao diagnosticar com a sua clarividência inúmeras avarias em comboios, no metro e em aviões. 

Nos folhetos de divulgação pode ler-se igualmente que, “através de modelos matemáticos e informáticos, bem como de métodos aplicados à matéria física, Grabovoy demonstra e ensina como criar toda a matéria perfeita através da consciência da Alma”. A publicidade chama-lhe mesmo o Einstein ou o Tesla dos tempos modernos. 

Mas existem, naturalmente, críticos ferozes da teoria, como a blogger brasileira Mi F. Colmános, que foi insultada e perseguida depois de ter duvidado do método. “Já tinha conhecimento da famosa ‘lei da atracção’ antes de ‘O Segredo’, quando tive acesso, ainda na infância, ao livro ‘O Poder do Subconsciente’, de Joseph Murphy. Na época achei o máximo. Mas o assunto foi enterrado quando um professor, mestre em Física (e, por incrível que pareça, não céptico) afirmou que não havia nenhuma ligação cientificamente comprovada com a física quântica, como os autores insistiam.”

Colmános, que teve de fechar o blogue por causa dos ataques de que foi alvo, questiona o sentido crítico dos seguidores de Grabovoy. “Fico pasmada com essas coisas, as pessoas activando, recebendo e agradecendo.” E acrescenta: “Acredito (na verdade, tento acreditar) que exista a tal da lei do retorno, que os pensamentos positivos podem ajudar a produzir endorfinas nos nossos cérebros e tornar-nos mais produtivos e firmes. Mas o que eu me pergunto é se na Europa Grabovoy tem toda essa popularidade que vejo no Facebook, onde as pessoas utilizam o pouco tempo livre que têm e as suas vidas para repetirem, feitos robôs, as ideias estapafúrdias daquele homem. Por quanto tempo continuarão com os olhos vendados, deturpando a reputação da verdadeira ciência?”