É já considerado um dos lançamentos literários do ano, e por diversas razões.Primeiro porque se trata do quarto volume da aclamada série “Millenium”, criada por Stieg Larsson. Depois, e devido à morte prematura do autor, quem dá continuidade à trilogia é o escritor David Lagercrantz, autor da biografia do futebolista Zlatan Ibrahimovic. Terceiro, mas não menos importante, traz-nos de volta uma das melhores heroínas da ficção deste início de século, a hacker Lisbeth Salander.
“A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha”, título da versão portuguesa do novo livro da saga, que só chega aos escaparates nacionais a 29 de Setembro, leva a personagem a uma trama que desta vez não se fica pela Säpo, a polícia secreta sueca, mas envolve também a poderosa agência norte-americana de segurança, a NSA, e um temível gangue cibernético. A história parte da revelação que um reputado cientista sueco, o professor Frans Balder, tem para fazer ao jornalista, e companheiro de aventuras de Salander, Mikael Blomkvist. O cientista diz ao jornalista ter informações importantes sobre os serviços de espionagem dos Estados Unidos, depois de ter contactado uma jovem hacker, que lembra a Blomkvist alguém que conhece bem – isto segundo a agência Lusa, que citava fonte do grupo Leya, responsável pela publicação da trilogia em Portugal.
Continuamos por isso a seguir neste quarto volume de “Millenium” – que é também o nome da revista onde Blomkvist trabalha – as investigações do jornalista e da hacker, ao mesmo tempo que surgem novas personagens e cenários. Além deBalder, que passou por Silicon Valley, surgem Ed the Ned, chefe de segurança da NSA em Maryland, e Gabriella Grane, uma mulher oriunda da classe alta sueca que acaba por ir trabalhar para os serviços secretos suecos. A revelação sobre estas novas figuras que entram no universo criado por Stieg Larsson foi feita pelo próprio David Lagercrantz, em entrevista ao jornal argentino “La Nación”.
Manter o legado David Lagercrantz foi escolhido, em Dezembro de 2013, pelos herdeiros do autor da trilogia, o pai e o irmão, para escrever o quarto volume da série. Sobre a oportunidade de continuar a obra iniciada por Stieg Larsson, David Lagercrantz afirmou na entrevista ao jornal argentino que não conseguiu resistir ao desafio. “Desde que escrevi o livro sobre Zlatan [Ibrahimovic] recebi várias propostas, mas nenhuma me pareceu suficientemente atractiva. Quando me apresentaram a ideia, e depois de recuperar do choque inicial, fiquei ansioso por começar a escrever”, confessou.
Tal como Larsson, também Lagercrantz foi jornalista, um traço que, diz, o criador de “Millenium” levou para a sua escrita, conferindo-lhe realismo. Dentro do seu estilo, procurou respeitar a eficácia da escrita de Stieg Larsson, e incorporar a multiplicidade de histórias paralelas na narrativa, o que se revelou simultaneamente complexo e divertido, segundo explicou na mesma entrevista. De seu, o livro reflecte o gosto e o interesse particular pela ciência, mas o que tem em comum com Larsson faz o resto.
Talvez por isso defenda com unhas e dentes a heroína cujo destino passa agora pelas suas mãos. Numa curta declaração em vídeo publicada no site da revista “Entertainment Weekly”, David Lagercrantz responde àqueles que acham que a personagem Lisbeth Salander é uma psicopata, dizendo que não podiam estar mais enganadas. “É dura, mais dura que qualquer rapariga sobre a qual já tenha lido ou escrito”, defende, acrescentando que Salander se guia por uma espécie de bússola moral que por vezes é ardilosa e enganadora. “Nunca conseguimos realmente ver os sentimentos da Lisbeth, temos de a compreender entre linhas”, explica o escritor, que parece comprometido a não deixar afrouxar a luta da personagem, até porque, conclui, “ela é forte, mais forte que todos nós, na realidade”.