Crise na China afecta vistos gold. Chineses já estão a vender casas em Portugal

Crise na China afecta vistos gold. Chineses já estão a vender casas em Portugal


Autoridades de Pequim baixaram taxas de juro e injectaram liquidez nos bancos, mas Xangai voltou a cair 7,63%.    


A crise na China tem para já uma consequência imediata em Portugal: o investimento directo estrangeiro no imobiliário através dos vistos gold – pesem as vicissitudes em que estão envolvidos – diminuiu consideravelmente e há já chineses a querer vender o que acabaram de comprar para obter a liquidez que estão a perder no seu próprio país.

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Só Wang Jianlin, o homem mais rico da China, perdeu na segunda feira 3,2 mil milhões de euros, naquela que foi considerada a segunda segunda-feira negra na história das bolsas mundiais. O presidente e fundador do grupo Dalian Wanda, especialista no mercado imobiliário e no sector do entretenimento, disse adeus a mais de 10% da sua fortuna, segundo o índice de milionários da Bloomberg. Outro estrondo apreciável foi o de Jack Ma, detentor da segunda maior fortuna chinesa e fundador do gigante de comércio electrónico Alibaba, que segundo o mesmo índice perdeu 479 milhões de euros.

Mas nem tudo é mau neste verdadeiro tufão que está a assolar a segunda maior economia do mundo. A desvalorização do yuan pode vir a beneficiar muitos países que importam produtos chineses, como Portugal. Em 2014 ocupámos a terceira posição nas trocas comerciais com a China entre o conjunto de países de língua oficial portuguesa, com um valor total de 4,1 mil milhões de euros. Os chineses exportaram para cá 2,7 mil milhões de euros, mais 25,15% que em 2013, enquanto nós exportámos 1,3 mil milhões de euros, mais 18,81% que há dois anos.

Bolsa de Xangai volta a cair Entretanto a Bolsa de Xangai voltou ontem a afundar 7,63%, depois da derrocada de segunda-feira, em que as perdas atingiram os 8,49%, na maior descida num só dia desde 2007.

Por isso mesmo, a autoridade monetária da China resolveu utilizar todos os instrumentos económicos ao seu alcance, voltando a cortar as taxas de juro para os empréstimos a um ano 25 pontos-base, para os 4,6%, na a quinta decisão do mesmo tipo desde Novembro do ano passado. Outra das medidas em estudo é um novo corte de 25 pontos-base da taxa de juro dos depósitos a um ano para 1,75%. As autoridades decidiram ainda diminuir 0,5 pontos percentuais as provisões dos bancos.

Last, but not least, o Banco Popular da China decidiu injectar 150 mil milhões de yuans (cerca de 29,3 mil milhões de euros) no sistema financeiro, a fim de aumentar a liquidez das instituições financeiras. O objectivo é claramente atingir a meta do crescimento do produto interno bruto de 7% em 2015 defendida pelo governo de Pequim. 
Mas serão estas medidas suficientes? Segundo uma análise preliminar da Schroders a que o i teve acesso, não. “Temos muitas dúvidas”, refere a empresa. “O corte nas taxas de juro e a redução das reservas dos bancos apenas repõe a liquidez perdida. A descida dos juros, embora útil, provavelmente só servirá para contornar alguns problemas, em vez de incentivar o investimento numa economia que está a ser atacada pela deflação, o excesso de capacidade instalada e elevados níveis de endividamento.”

A Schroders lembra também que os cortes das taxas de juro anteriores tiveram um resultado muito residual na redução dos custos para os novos empréstimos. E que as margens dos bancos têm sido esmagadas pelos efeitos assimétricos das taxas dos depósitos em comparação com o custo dos empréstimos. “Esta assimetria tem tido alguns resultados graças a uma maior liberalização das taxas dos depósitos, embora os bancos possam tentar recuperar algumas das margens perdidas, sobretudo tendo em conta a sua participação obrigatória na conversão da dívida dos governos locais. Ou seja, acrescentam os analistas, “as medidas de estímulo podem animar o mercado, mas não se espera que se traduzam numa recuperação da economia chinesa”.