Quem não arrisca não petisca

Quem não arrisca não petisca


Os actores Diogo Amaral e Vera Kolodzig e o filho, Mateus, vão andar durante um mês e meio em viagem pelos Estados Unidos da América numa autocaravana. 


Com Los Angeles como ponto de partida, vão andar ao sabor do vento, mas é certo que visitarão locais como o Grand Canyon, Las Vegas ou Yosemite. Acompanhe esta viagem aqui, todas as semanas.

Estivemos quase para não ir. As histórias de turistas desaparecidos, pneus derretidos, autocaravanas que não sobrevivem, as imagens da internet de frigideiras a estrelar ovos no asfalto, os avisos para desligar o ar condicionado para evitar o sobreaquecimento do motor, já seriam aventuras a mais para o Mateus. Mas a nossa vontade de ir era muita. Tínhamos de decidir se valia a pena arriscar. Normalmente somos bastante aventureiros e gostamos de arriscar nas nossas viagens, mas agora temos um bebé. Death Valley é um vale deserto no qual está o ponto mais abaixo do nível do mar da América do Norte. É por isso extremamente quente e as temperaturas podem chegar aos 55 graus. É também um dos parques naturais com as paisagens mais incríveis da Califórnia. Arranjámos maneira de contornar a situação.

Saímos de Beatty às quatro da manhã. Quando chegámos à entrada do parque, o sol começou a aparecer nas montanhas atrás de nós. Fomos parando a carrinha ao longo da viagem para apreciar a paisagem. O silêncio era aterrador. Não há uma brisa nem se ouve absolutamente nada. Às sete da manhã estávamos na parte mais quente da estrada. Estavam 35 graus. Às oito, a autocaravana começou a deitar fumo. Nada que um pouco de água não resolvesse. Às nove, e já quase a sair do parque, vimos um escorpião branco a atravessar à nossa frente. Mas a travessia foi simples. Se déssemos ouvidos a todas as opiniões e histórias de perigos iminentes, não fazíamos metade das coisas que queríamos nesta viagem.

Disseram-nos que Las Vegas não valia muito a pena, que estava calor a mais e que ía ser uma chatice com um bebé. Nós adorámos. E o Mateus também. Um amigo português que vive em Las Vegas levou-nos a um sítio onde ele pôde brincar com outros bebés. Radical mesmo foi adormecê-lo na Fremont Street, a rua onde Las Vegas nasceu, com doze milhões e meio de luzes e 50 mil watts de som. Aventurámo-nos a ir jantar fora com ele e correu bem. O que também não correu nada mal foi o nosso casamento. Para nós, faltava-nos completar o ditado “escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho”… e casar em Las Vegas. Está feito. O Elvis cantou duas músicas e casou–nos em sete minutos. Neste país não é só a comida que é fast.