“Há toda uma ciência associada à água residual, que é mais do que uma coisa que nós carregamos no autoclismo e ela desaparece, porque ela não desaparece”, disse o diretor operacional de saneamento da EPAL – Empresa Portuguesa de Águas Livres (EPAL), José Martins.
A conduzir o percurso pelos esgotos de Lisboa, José Martins explicou que a variação do caudal de águas residuais acompanha o comportamento das populações – “a que horas é que se levantam, a que horas é que almoçam” -, assim como as características do esgoto ajudam a “perceber um pouco do que é que as pessoas se alimentam”.
Por debaixo da estátua de D. José I, no Terreiro do Paço, em Lisboa, os visitantes começaram o percurso por espreitar a câmara de controlo de caudal, que para além de receber as águas residuais da zona baixa da capital, impede também a entrada da maré.
Ao percorrer a pé o passadiço da frente ribeirinha, os visitantes tiveram a oportunidade de descer ao subsolo até à Estação Elevatória das Agências, junto ao quiosque da Ribeira das Naus, onde existe um sistema de drenagem das águas residuais que “remove o lixo que poderia entupir as bombas”, explicou o guia, acrescentando que o bombeamento do esgoto transporta-o para a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcântara.
A visita seguiu para o Caneiro de Alcântara, propriedade da Câmara de Lisboa, uma obra estruturante do subsistema de tratamento de esgotos de Lisboa, porque “traz cerca de 50% das águas residuais tratadas na ETAR” de Alcântara e é a infraestrutura por onde a água depois de tratada na ETAR é descarregada e devolvida ao Rio Tejo, contou José Martins.
A descobrir pela primeira vez a rede subterrânea de saneamento de Lisboa, Virgínia Soares disse à agência Lusa que “estava curiosa para saber como é que funcionava os esgotos”.
“Vi num blogue um anúncio desta visita e achei interessante. Fui ao ‘site’ tentar inscrever-me e havia 30 pessoas em lista de espera […] inscrevi-me, mas foi por descargo de consciência”, contou a visitante, explicando que na sexta-feira contactaram-na a avisar que tinha havido desistências e que afinal podia participar na visita.
Organizada pela EPAL – Águas de Portugal, em parceria com o Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva, esta foi a quarta edição desta visita que acontece anualmente, com participação limitada a 50 pessoas.
“Acho que nunca mais vou ver Lisboa da mesma maneira”, confidenciou Virgínia Soares, acrescentando que “quando chegar a casa” vai pesquisar sobre o estudo sociológico sobre o esgoto, que desconhecia existir.
A ETAR de Alcântara foi o último ponto de visita, infraestrutura onde é feito o tratamento das águas residuais, transformando-se em “produtos com valor”, com a reutilização do esgoto, explicando com lamas que podem ser usadas para a agricultura e a partir das lamas é possível produzir biogás que depois é usado para produzir eletricidade.
A Câmara de Lisboa e algumas Juntas de Freguesia da capital utilizam a água reutilizada na ETAR para lavagem de ruas e rega de floreiras, explicou o responsável da EPAL.
De acordo com José Martins, a ETAR de Alcântara “é talvez a maior estação de tratamento do país”, revelando que “serve uma população de cerca de 750 mil habitantes”.
“Apesar de certas partes com um bocadinho de odores”, Fernando Hilário percorreu todo o percurso da visita e no final contou que “valeu a pena”.
Mostrar o “bom exemplo em termos tecnológicos e de sustentabilidade do sector da água” foi o principal objetivo da visita à rede subterrânea de saneamento da cidade de Lisboa.