Era uma vez uma Casa Forte. Com maiúsculas. Grande e forte, como o imenso quarteirão de Sá da Bandeira que ocupava. A Casa Forte tinha noventa espetaculares anos e, como outros armazéns, era precursora do conceito de centro comercial. Uma espécie de Decathlon misturada com Ikea e com Zara. Em modo caro e requintado, já juntava desporto, roupa, acessórios e coisas para casa. Utensílios para o lar, chamavam-se.
A velha Casa Forte fechou em 2004. É uma memória de um Porto de outros tempos. Ficava em frente ao Bolhão (já então degradado), do lado oposto aos bazares Paris e Londres (agora uma loja de telemóveis), ao lado do Tamegão e nas traseiras do Palácio Atlântico e do robusto BPA (“o” banco). A dois passos das paragens do 78 e do 90, próxima do Rivoli e da regressada Tubitek. O centro do mundo em plena baixa.
É certo que o Porto dos anos 70 e 80 do século XX, moderno, conservador e burguês, já não volta. Pelo menos com a mesma cara. O que volta, onze depois, é o quarteirão da Casa Forte, cuja reabilitação arrancou esta semana. Com investimento privado e viabilização da Câmara e da Porto Vivo, o maior buraco negro da cidade vai renascer para o espaço público, com habitação, comércio e estacionamento.
Depois de décadas em que o ar livre, o frio e a chuva foram trocados pelo “conforto” dos centros comerciais, com ar-condicionado, prisões, aliás, parques infantis, sofás e plasmas e estacionamento coberto (nos tempos da Casa Forte não era tão importante porque a maioria das famílias ainda não tinha carro), o Porto celebra o regresso à rua. Basta reparar nas dezenas de pessoas em fila para o pernil da Casa Guedes, nas multidões à espera de vez para uma francesinha no Santiago e nas massas que se juntam à porta do Majestic. É só uma questão de tempo até as lojas da nova Casa Forte voltarem a ser tão concorridas como dantes.
Escreve à quinta-feira