Nunca me queixo de regressar ao trabalho. Atenção, caro leitor, que eu gosto das minhas férias. Passo-as com a família e entre amigos, no meio de conversas à beira de água, bem cedo na praia, devido ao filho pequeno, e que se estendem até à noite quando a preguiça antecede o dia seguinte.
No entanto, não sinto a angústia do regresso ao trabalho. Pelo contrário, se há altura no ano que aprecio em Lisboa é no final de Agosto, quando na capital se ouvem as cigarras e esta nos permite o que qualquer cidade digna desse nome nos pode dar, mas sem o amontoado de gente que durante o ano a ensurdece.
Lisboa respira no meu regresso de férias e eu, devidamente repousado, volto cheio de ideias e de projectos. Duas semanas de descanso enchem a cabeça de qualquer um. E o regresso a casa é um prazer a que se soma o lento declínio do Verão que registo com cuidado e gosto: as tarde ainda quentes, embora já mais curtas, um ou outro dia de chuva no entremeio e o cheiro da terra molhada a lembrar que Setembro está já aí.
O dia em que a brisa branda e agradável dá lugar ao vento que sopra frio e forte, prende-nos a atenção. E os dias com os pés a chapinhar na água morna de um mar sem ondas, torna-se na recordação de algo aprazível que se substitui por uma coisa boa, como a expectativa do regresso a casa numa cidade cheia, agitada, caótica e cansativa.
Advogado.
Escreve à quinta-feira