A pergunta apanhou o presidente e os vereadores de surpresa. Há pouco mais de um mês, a direcção nacional da PSP escreveu à Câmara de Pombal. Na carta, a polícia perguntava pelo paradeiro da arma registada em nome da autarquia, uma Astra de 6,35 milímetros. O contacto poderia até ser normal se o executivo da câmara soubesse que tinha uma arma. Mas nem o presidente nem os funcionários mais antigos tinham algum dia ouvido falar na existência da Astra, registada em 1954. “Um dos actuais vereadores esteve na câmara vários anos na década de 1980 e ficou tão admirado como nós, que só chegámos há dois anos”, conta o presidente, Diogo Mateus.
Com uma comunicação da polícia em cima da mesa do gabinete e sem qualquer pista sobre o paradeiro da Astra, o autarca viu-se obrigado a promover uma espécie de caça ao tesouro pelos corredores e armários da câmara: a existir, a arma teria de estar em algum lado. Até que um funcionário mais antigo sugeriu que se abrisse o cofre – onde a arma acabaria por ser descoberta, juntamente com o respectivo livrete.
Nos dias seguintes foi preciso accionar os serviços jurídicos da autarquia e reunir funcionários e técnicos do Museu Municipal e da Divisão de Cultura. O que fazer com uma arma de fogo dentro das paredes da câmara? Na carta da PSP sugeria-se que, caso a Astra ainda existisse, fosse vendida a alguém legalmente habilitado para a ter ou entregue ao Estado – porque a câmara não tem licença de armas. Em alternativa, também poderia ficar exposta no museu de Pombal, mas os técnicos rapidamente concluíram que a peça não tinha qualquer interesse histórico para figurar no acervo.
A decisão final só foi tomada ontem. O assunto foi debatido na reunião de câmara e o executivo deliberou entregar a arma de fogo na esquadra da PSP mais próxima, doando-a assim ao Estado. Agora, e muito provavelmente, a misteriosa Astra de 6,35 milímetros terá o mesmo destino que milhares de outras armas de fogo: se não tiver interesse histórico ou utilidade para a PSP, será destruída. Por esclarecer fica a sua origem. Só o presidente da câmara da altura poderia explicar a aquisição, mas já morreu. Do livrete constam algumas informações. Lê-se, por exemplo, que foi importada de Espanha em Fevereiro de 1954 para ser vendida a Manuel Augusto Velho, um armeiro de Aveiro que a revendeu à Câmara Municipal de Pombal a 14 de Maio de 1954. Mas nada mais se sabe. “Não sabia que a arma existia, mas sinceramente fico aliviado por saber que vai deixar de estar na nossa posse”, confessa Diogo Mateus.