Evidências: As candidaturas presidenciais são os espaços políticos em que melhor se revelam os movimentos de reivindicação e protesto que não se revêem nos constrangimentos da disciplina e das regras partidárias.
Daí que, a partir do momento em que uma intenção de candidatura se anuncia e uma personalidade credível com um quadro de valores reconhecidos publicamente assume a intenção de disputar a eleição para a Presidência da República, seja normal uma adesão espontânea dos cidadãos, tanto na intenção do seu voto, como no envolvimento da sua acção voluntária.
A candidatura para a Presidência da República é independente e unipessoal, pormenor que não é de menor importância se quisermos entender a genuína e generosa participação dos cidadãos.
O envolvimento e o apoio dos partidos é benéfico e indispensável como factor de transparência, escolha e afinidade, ao projecto e ideia que cada um dos prenunciados candidatos tem do papel e do exercício do Presidente da República, mas também como elemento agregador dos vários patamares do regime e sentimento de complementaridade da vida política nacional.
Já o contrário, os partidos apresentarem os seus candidatos, sendo legítimo, perverte o conceito de candidatura unipessoal, fere a concepção de um Presidente de todos os portugueses e empobrece a participação cívica.
Estas candidaturas, pela sua natureza, adquirem em muitas ocasiões, de forma expressa, a moldura de movimento inorgânico, soma de muitos afluentes de protesto, de defesa de direitos e de apego à liberdade, que desta forma manifestam o seu descontentamento em relação à saúde do sistema democrático.
Claro que isto muitas vezes comporta enviesadas percepções do papel constitucional do Presidente da República, populismos e expectativas frustradas.
Pormenores: É lá que está Deus, dizia Frank Lloyd Wrigth. A apresentação da candidatura de Nóvoa, dia 29 de Abril, tinha já na composição da sala a génese da divisão anunciada. Bastava ter-se ficado atento às gritantes ausências de importantes figuras do PS. Apesar de todo o esforço feito só marcou presença a brigada do reumático registada na base de dados. O que conta é a ilusão.
Fábrica de candidatos Um candidato criado nos corredores de Soares, sem nenhuma experiência ou percurso político, exigências sempre tão presentes para outros, sem qualquer notoriedade pública, e até com conflitos de interesses com entidades de solidariedade social, revela uma arrogância de César e de bajuladores, para quem a política é um conjunto de truques, pressões e serviços de imprensa amiga, para fazer do nada um boneco, e os cidadãos irrelevantes instrumentos dos seus interesses.
2006 /2011/2016: A divisão promovida no seio do PS nas presidenciais não se ficou pelo duelo Soares/Alegre de 2006. Como muito bem sabe Duarte Cordeiro, em 2011 vários sectores do PS, alguns dos mesmos que hoje apoiam Nóvoa, tudo fizeram para que Alegre perdesse para Cavaco, estimulando a candidatura de Nobre, numa espécie de Nobre/Alegre, que recolheu mais de 300 mil votos da área socialista. Vamos direitos a uma terceira sessão.
Os três ex-presidentes Eanes, apoiante e presidente de honra de Cavaco nos últimos dez anos e a quem nunca se ouviu uma palavra de desagrado com as medidas aplicadas. Soares e Jorge Sampaio, que há muito tempo não têm qualquer influência prática nas decisões do PS e muito menos nas opções dos portugueses. São simpáticas criaturas, mas isso já não dá votos.
Canibalismo: O partido Livre, na sua ânsia de canibalizar Nóvoa como putativo candidato do PS, foi tão rápido no seu apoio que agora se arrisca a ficar em oposição a uma candidatura de Maria de Belém que pode vir a ser a do PS profundo, mobilizadora da esquerda, sem Carvalho da Silva, a opção do Bloco.
Comunistas: No desespero de criar factos e de fazer das fraquezas forças, os apoiantes de Nóvoa insistem na possibilidade de o PC apoiar o professor logo à primeira volta. Nada de mais errado. Numa situação em que uma segunda volta é garantida, o PC apresentará o seu candidato.
Henrique Neto Reagiu mal. Percebeu que Maria de Belém pode ocupar um espaço com o qual se imaginou, o dos descontentes do PS. Assim a sua candidatura arrisca a irrelevância.
Maria de Belém: Aparece e de imediato supera Nóvoa nas sondagens. Tem credibilidade, experiência política, intervenção social, trabalhou com Lurdes Pintasilgo, o que vai ser relevante, tem o apoio de vários sectores da esquerda, dos católicos e dos intelectuais e foi presidente do PS. Como se substitui esta militante com provas dadas pelo inventado professor?
A estratégia é clara, passar à segunda volta e polarizar o apoio de toda a esquerda e parte do centro eleitoral. Tal como Soares/Freitas do Amaral em 1986. Veremos.
Consultor de comunicação
Escreve à quinta-feira