“Não devo deslocar-me às ilhas. Não devo, por exemplo, estar um dia no Norte e no dia seguinte no Sul.” E visitar todas as capitais de distrito está fora de questão. Estas são as prescrições médicas que Joana Amaral Dias, líder do movimento Agir, terá de seguir por causa da sua gravidez de risco. As limitações vão ter consequências na campanha para as legislativas, anunciou a candidata esta semana. Mas isso até lhe dá “mais ganas para lutar pelo filho e pelo futuro do país”, assegura ao i.
A gravidez só saltou para a esfera pública por se tratar de um facto “politicamente relevante”, explicou a cabeça-de--lista por Lisboa. A ex-bloquista, que vai ser mãe pela segunda vez, justificou esta decisão com a relação “transparente” que quer manter com os eleitores. “Não queríamos que se sentissem defraudados, até porque já se começa a notar”, afirma.
As circunstâncias vão obrigar a candidata do Agir a abrandar o ritmo na campanha para as legislativas. Caso seja eleita, a ex-bloquista vai tirar licença de maternidade durante o mandato e será substituída por um elemento da mesma plataforma, como ficou acordado com as restantes forças políticas da coligação: Partido Trabalhista Português e Movimento Alternativa Socialista. “Era preciso explicar isso aos eleitores”, reforça. O eventual substituto de Joana será revelado amanhã, dia da entrega das listas de candidatos a deputados.
Gravidez na política Joana Amaral Dias não é caso único no universo da política. Em Portugal, em 2013, a centrista Assunção Cristas conciliou a pasta do Ministério da Agricultura e do Ambiente com a gravidez do quarto filho – e trabalhou até ao último dia antes do parto. Lá fora, na vizinha Espanha, no final do ano passado, a socialista Susana Díaz, presidente da Andaluzia desde 2013 e líder do PSOE andaluz, foi a primeira responsável de uma região autonómica a ficar grávida no exercício das suas funções.
Não foi, porém, a primeira vez que os espanhóis lidaram com esta situação na política. Em 2008, Carme Chácon chegou ao poder, como ministra da Defesa, com sete meses de gravidez. No mesmo ano, em França, a muçulmana Rachida Dati, na altura ministra da Justiça do governo de Sarkozy, também assumiu que seria mãe durante o seu mandato. Foi a primeira governante francesa a ficar grávida em funções.
mais alento Joana Amaral Dias, já com 40 anos, “infelizmente” não vai poder cumprir todas as etapas como planeado, mas assegura que a campanha vai ser feita na mesma, sem qualquer prejuízo político. Apesar das restrições, “é possível conciliar a gravidez com o trabalho”.
Poderá uma gravidez num período político tão decisivo como o que antecede as eleições legislativas ter impacto nos eleitores? O politólogo Adelino Maltez não tem qualquer dúvida: “É como se fosse uma gripe. É uma coisa normalíssima”, diz.
Para o especialista, pensar que a gravidez em si poderá trazer benefícios ou desvantagens em matéria de voto é estar a admitir e a justificar a existência de desigualdades entre homens e mulheres. E portanto, neste caso, considera que não há nenhuma leitura política a fazer. “Até porque isso vai contra a própria ideologia política da Joana Amaral Dias.”
O politólogo até vê alguns aspectos positivos no facto de se fazer uma campanha mais sossegada. “Não ir uma vez ou outra até lhe poderá fazer bem, já que ficará mais atenta ao que se passa, longe da azáfama da campanha, e estará mais descansada para preparar e dar entrevistas”, exemplifica.
Adelino Maltez lamenta, no entanto, o pouco espaço de antena que os novos partidos têm para se afirmar. “Esta campanha está completamente bipolarizada [PS e PSD]. Nesta altura”, refere o politólogo, “já devíamos estar a considerar que a plataforma Agir poderia chegar aos 3%, mas não é isso que está a acontecer.” Seja como for, a sua convicção é que a gravidez não vai ter impacto político nenhum na na campanha e muito menos no resultado.