Jacques Tati. O senhor da comédia para rever por inteiro

Jacques Tati. O senhor da comédia para rever por inteiro


A partir de hoje o Nimas passa a obra integral do realizador. Em Setembro é a vez do Porto.


O génio de Jacques Tati e o impacto da sua comédia no cinema do século xx dispensarão à partida grandes apresentações.Mas mesmo as obras e as figuras a quem a história já reservou um lugar correm o risco de se tornar meras peças de museu se o trabalho não for recuperado e a memória mantida viva.

O ciclo “Verão com Jacques Tati”, que a Leopardo Filmes exibe a partir de hoje e até 16 de Setembro no Espaço Nimas, em Lisboa, dá uma ajuda para a conservação desse legado cinematográfico, ao mesmo tempo que Agosto dá um empurrãozinho na disponibilidade necessária para não perder aquela que é a primeira exibição integral em Portugal da obra do realizador francês. Afinal a retrospectiva do trabalho do cineasta inclui as seis longas-metragens que dirigiu e sete curtas-metragens nas quais participou, em versões digitais restauradas. 

“Trafic – Sim, Sr. Hulot”, um dos últimos filmes realizados por Tati, dá início ao ciclo, que traz de novo ao grande ecrã clássicos como “Há Festa na Aldeia” (1949), “As Férias do Sr. Hulot” (1953), “O Meu Tio” (1958), “Playtime – Vida Moderna” (1967) e “Parade”, o seu derradeiro filme, feito em 1974 para a televisão sueca, com o apoio do director de fotografia Gunnar Fischer, colaborador de Ingmar Bergman. 

Jacques Tati, que começou a sua carreira de actor fazendo representações cómicas e caricaturando as diferentes personagens a que dava corpo, em diversos palcos de Paris, protagonizou todos os seus filmes. O Sr. Hulot, figura que representou recorrentemente nas suas películas, transporta algumas das características que vinha desenvolvendo como comediante, ainda antes de o ser. 

Ainda como Jacques Taticheff, o seu verdadeiro nome, e nos tempos em que o desporto parecia traçar-lhe um rumo de futuro – chegou a ser um importante jogador de rugby, no Racing Club de France –, já dava nas vistas com as suas habilidades de mímica, imitando outros atletas e deliciando os colegas. Tentou a sorte no music-hall parisiense, até começar a ser conhecido por Tati e acabar por levar o seu talento cómico para o cinema, estreando-se na curta de Jack Forrester “Oscar, champion de tennis” (“Oscar, o Campeão de Ténis”), de 1932, que não consta do ciclo.Mais de dez anos depois, escreve, dirige e participa como actor em “Há Festa na Aldeia”. Seguem-se “As Férias do Sr. Hulot” – a primeira vez que dá vida à mítica personagem. O filme foi exibido em Cannes e nomeado para os Óscares. Seria a comédia posterior, “O Meu Tio”, que lhe valeria, em 1959, a estatueta dourada para Melhor Filme Estrangeiro e o Prémio Especial do Júri em Cannes, um ano antes.

curtas A retrospectiva agora em exibição nos cinemas portugueses abrange também uma selecção de curta-metragens, em que Tati participa como argumentista ou actor, ou nessa dupla qualidade, como são os casos de “Procura-se Brutamontes” (1934), de Charles Barrois, e “Domingo Animado” (1935), de Jacques Berr. “Cuida do Teu Gancho Esquerdo” (1936), de René Clément, “A Escola de Carteiros” (1946), a única curta da selecção dirigida exclusivamente por Tati, “Aulas Nocturnas” (1967), de Nicolas Ribowski, “Especialidade da Casa” (1976), de Sophie Tatischeff (filha e assistente do realizador), e “Força, Bastia”, cujo crédito é partilhado entre pai e filha. 

A partir de 1 de Setembro, a mesma reposição da obra do cineasta francês pode ser vista no Porto, no Teatro Municipal do Campo Alegre. 

Os ciclos são acompanhados de uma exposição de cartazes de ilustradores portugueses criados propositadamente para cada uma das longa-metragens, também eles influenciados pelo imaginário do génio cómico de Jacques Tati.

Programação completa em http://medeiafilmes.com/eventos/index