O parlamento alemão e o governo holandês discutem e votam hoje o terceiro resgate à Grécia. Ontem foi a vez de Espanha, Estónia, Áustria e Eslovénia aprovar o mesmo, juntando-se à Lituânia, que já tinha votado o acordo na segunda-feira. Mas se nestes casos o debate e a votação do resgate não levantaram problemas de maior – ainda que na Estónia se tenham registado seis votos contra entre deputados do governo –, no caso alemão e holandês o cenário muda um pouco, em especial na Holanda.
Segundo o “Financial Times”, a aprovação pelas instituições europeias do terceiro resgate à Grécia colocou o governo holandês em alerta, correndo o risco de enfrentar uma moção de desconfiança (ou de censura) do seu parlamento, não sendo certo que o primeiro-ministro tenha o apoio total do seu próprio partido. O executivo tem a maioria por apenas um deputado.
Embora o resgate não tenha de ser obrigatoriamente votado no parlamento holandês, o governo local optou por convocar uma sessão extraordinária para hoje. Mark Rutte, primeiro-ministro, ainda não apoiou publicamente o resgate, e Geert Wilders, líder da oposição antieuropeísta e anti-imigração, já prometeu lançar uma moção contra o governo por este ter prometido nos dois anteriores resgates “que não daria nem mais um cêntimo à Grécia”.
Este não é, porém, o único problema. É que além de Rutte, também a sua coligação não se mostra muito confiante sobre o resgate: o VVD, maior partido da coligação de governo, continua sem manifestar um apoio firme ao mesmo. O facto de não existirem garantias sobre a participação do FMI no resgate é a maior crítica ao acordo entre Atenas e os credores.
Também na Alemanha, a discussão e votação do resgate à Grécia não ocorrerá sem problemas para Angela Merkel, ainda que tal não ponha em causa a aprovação do acordo. Neste caso, a atenção estará virada para a dimensão da rebeldia contra a chanceler, já que os votos contra o resgate vindos da coligação de governo poderão duplicar face à anterior votação, em Julho.
privatizações O governo grego reconfirmou ontem a concessão da exploração de 14 aeroportos à alemã Fraport, a troco de 1,23 mil milhões de euros. Por pressão dos credores, Atenas foi obrigada a avançar (ou a relançar) uma série de medidas prévias para ver o terceiro resgate aprovado. Entre estas, exigiu-se à Grécia a reconfirmação do acordo preliminar para a concessão da exploração de 14 aeroportos regionais à alemã Fraport, detida em 31% pelo governo alemão e em mais 9% pela Lufthansa. A reconfirmação da adjudicação foi publicada na terça-feira de manhã no boletim oficial do governo grego.
Este negócio, acordado antes de o Syriza chegar ao governo, em Janeiro de 2015, será assim o primeiro deste género validado pelo governo de Tsipras, reflectindo já a mudança de postura do executivo, desde sempre contra as privatizações defendidas nos resgates ao país. Esta mudança de posição face aos credores está, aliás, a motivar uma grande onda de convulsão interna no Syriza, sendo expectável o avanço de eleições antecipadas em breve.
A concessão dos 14 aeroportos deve render 1,23 mil milhões de euros iniciais e mais 23 milhões de euros anuais a título de renda – a concessão tem um prazo de 40 anos, extensível por mais dez. Além da venda dos aeroportos, o governo grego decidiu também aligeirar as medidas de controlo de capitais, elevando para 500 euros o máximo nas remessas para o exterior.