Da venda de peças de loiça de barro ficou-lhe o nome e o Louceira rapidamente substituiu o Ramalho, que só escreve quando tem mesmo de ser. De corpo franzino escondido numa blusa larga de flores, Rosa senta-se na cadeira que lhe serve de bancada central para Castelo de Paiva.
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É no quiosque da filha, mas que já foi seu, que passa as tardes, entre conversas com quem passa e leituras das últimas novidades. “Não fui feita para estar fechada. Deus me livre de passar o dia em casa.”
Apesar dos seus 92 anos, a ligeireza de discurso deixa antever aquilo que se podia transformar numa tarde de conversa e de histórias para contar. “A vida foi muito trabalhosa”, admite, e conta que o marido voou para o Brasil e nunca mais voltou. Sozinha com dois filhos, era em feiras e quiosques que fazia o negócio que lhe permitiu criar uma família.
“Podíamos não ser ricos, mas toda a gente me gabava os filhos”, e aponta para uma fotografia antiga: “Olhe que lindos que eram.”
Viu-se sozinha ainda muito nova mas marido nunca mais quis. “Nem admitia conversas”, garante, empunhando a revista com a história da vida do Papa Francisco, cuja leitura viemos interromper. “Sou muito religiosa, homem para mim só houve um.” Mas não é a rigidez de pensamento nem a pouca mobilidade que a idade lhe traz que fazem parar Rosa Louceira.
Vai a todos os passeios organizados pela igreja – “só este ano já fui três vezes a Fátima” –, altura em que faz aquilo de que mais gosta: cantar e dançar. Para controlar “o pagode”, como lhe chama, das danças de vira e o bailarico, Rosa canta músicas da igreja. “É uma animação que só visto.”
A idade não a impede de fazer planos e já pediu para consultar a folha com a lista das próximas excursões. “Gostava de viver até aos 100, vamos lá ver se consigo.”