Maria de Belém não esperou pelas legislativas e a 49 dias das eleições tornou oficial que é candidata à Presidência da República, como o i avançou no início do mês. “Apresentarei publicamente a minha candidatura após as eleições legislativas de 4 de Outubro”, garantiu a ex-ministra da Saúde numa nota enviada à agência Lusa, em que justifica a antecipação do anúncio para “evitar especulações” e pelo “respeito” que lhe merecem “as muitas pessoas” que já manifestaram apoio à candidatura.
O anúncio foi feito no momento em que António Costa estava a dar uma entrevista, em directo, na SIC Notícias. O secretário-geral já sabia a essa hora que a ex-presidente do PS iria fazer um comunicado a confirmar que é candidata. Após a entrega das listas do partido, da parte da manhã, no Tribunal de Justiça, os dois conversaram e Maria de Belém avisou Costa de que iria tornar oficial a sua candidatura. Aliás, já tinha comunicado ao secretário-geral do PS a intenção de avançar, como o i noticiou no dia 10 de Agosto.
António Costa, que foi confrontado na SIC com a notícia que tinha acabado de ser publicada na Lusa, voltou a apelar aos socialistas para concentrarem “as energias” nas legislativas do dia 4 de Outubro.
Da parte da manhã, o líder do partido e a candidata estiveram juntos na entrega das listas do PS, no Palácio de Justiça. Com Maria de Belém ao lado e os jornalistas a insistirem nas perguntas sobre as presidenciais, António Costa aproveitou para passar a mensagem de que “as eleições legislativas são muito importantes” e a presença da ex-ministra da Saúde naquela iniciativa só prova que o PS está concentrado em vencer as eleições.
A realidade não é tão linear. O assunto do dia acabou por ser a candidatura da militante socialista às presidenciais. E, pior do que isso, é cada vez mais evidente que não vai ser fácil travar as divisões entre socialistas.
“vou ganhar”, diz NÓVOA Uma horas depois de Maria de Belém ter anunciado a candidatura, Vítor Ramalho acusou a ex-presidente do PS de o ter feito para “perturbar” as legislativas. “Ao fazê-lo hoje, dia em que os candidatos do PS pelo círculo de Lisboa foram ao tribunal apresentar a lista para as legislativas, está tudo dito, ou seja, a candidatura de Maria de Belém Roseira foi apresentada ao país hoje para perturbar as próprias legislativas”, disse o apoiante de Nóvoa.
O ex-reitor já tinha feito a mesma crítica a Maria de Belém – em entrevista ao “Expresso” neste fim-de-semana, acusou Maria de Belém de estar a causar uma “enorme perturbação” –, mas ontem foi mais contido. “Acabei de saber agora, estou a ser surpreendido pela notícia, mas a ser surpreendido com muito agrado.” Nóvoa anda em campanha pelo Algarve e prometeu que nada o fará desistir. “Posso garantir que vou ganhar”, assegurou.
A candidatura de Maria de Belém foi recebida com entusiasmo por alguns socialistas. “É uma candidata que o país conhece, com vida própria. Não aparece agora do nada”, diz ao i José Junqueiro, com a certeza de que a candidatura terá o apoio de “muitos socialistas”. O deputado João Paulo Pedrosa escreve nas redes sociais que será “uma candidatura que pela sua amplitude doutrinária e, como é claro, pelo seu envolvimento na campanha das legislativas, acrescentará muitos votos ao PS”. E António Galamba, ex-deputado, garantiu que será apoiante.
“TRAPALHADAS” A direita aproveita as divisões para criticar as “trapalhadas” no PS, mas também para enviar recados aos pré-candidatos da área do PSD. “Que grande diferença do que se passa na área da coligação Portugal à Frente no que respeita às candidaturas presidenciais”, defendeu Carlos Carreiras, vice-presidente do PSD, apelando a que “o exemplo socialista sirva para os potenciais candidatos da área da coligação não se precipitarem.” E concluiu:“Aqui não há estas confusões e trapalhadas e quem estiver com pressa é melhor nem se chegar à frente.” Um recado para Rui Rio, que poderá avançar antes das legislativas. Marcelo e Santana Lopes já disseram que só vão decidir a seguir às eleições do dia 4 de Outubro. As presidenciais são no início de Janeiro.