Ainda se lembra de ser chamado quase sempre nas últimas. “As pessoas não tinham dinheiro, só iam ao médico quando já não havia outra alternativa.” É por isso que, muitas vezes, as visitas que fazia ao domicílio já aconteciam tarde de mais. O dr. Simões não tem mais que 1,60 metros, mas a sua fama faz dele o gigante de Vouzela. Aos 90 anos, recorda as chamadas que recebia a toda a hora para ir a casa das pessoas responder a uma urgência. “Às vezes tinha de subir a serra a pé, de noite, à chuva”, conta sem lamentos, “olhe, outros tempos”.
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Apesar de serem três os médicos das redondezas quando começou a exercer, era a ele que todos recorriam. Com o dinheiro a escassear na década de 50, os pagamentos eram feitos com galinhas, ovos e até cabritos ainda vivos. “Nunca deixei de atender ninguém por não ter dinheiro para pagar”, garante.
Exercer uma profissão em terra pequena por mais de 50 anos dá honras de ver passar pelas mãos várias gerações da mesma família. “Sou padrinho de meia Vouzela”, brinca. Mas os números não deixam grandes dúvidas: em contas rápidas, feitas de cabeça, somam-se mais de mais de 4 mil partos. “Vê? Já perdi a conta aos afilhados que tenho.”
Na hora de fazer um balanço da vida profissional, foram muitos mais os casos que acabaram de forma positiva do que os que terminaram em morte. Mas como em (quase) tudo, são estes últimos que o dr. Simões não esquece. No entanto, não houve caso mais difícil de resolver que o da sua reforma. “Andei mais de meio ano a matutar nisso até que decidi que era hora de parar.” Já lá vão oito anos de descanso, mas nem por isso oito anos sem consultas. “As pessoas ainda me abordam na rua a perguntar o que tomar ou a que médico ir”, diz entre risos, admitindo que dar a sua opinião ajuda a manter a mente activa.