Arizona


Os actores Diogo Amaral e Vera Kolodzig e o filho, Mateus, vão andar durante um mês e meio em viagem pelos Estados Unidos da América numa autocaravana. Com Los Angeles como ponto de partida, vão andar ao sabor do vento, mas é certo que visitarão locais como o Grand Canyon, Las Vegas ou Yosemite. Acompanhe…


Nada ou quase nada é obrigatório nas nossas viagens, mas numa road trip pelos Estados Unidos é obrigatório passar na Route 66.

Pedimos indicações a um homem no flea market de Williams, a vila de onde parte o comboio para o Grand Canyon e que também faz parte da Route 66. Estava encostado no banco da frente da sua carrinha branca dos anos 70, com um copo descartável na mão. Tinha hálito a álcool. Deu-nos a ideia de que tinha a vida toda na parte de trás daquela carrinha, no meio de tralha e da cangalhada que vendia na feira, e que tinha parado no tempo. Algures nos anos 60 ou 70. Assim que fizemos a pergunta ele exclamou com mais entusiasmo do que precisávamos “The mother road!” e nos cinco minutos seguintes não se calou com histórias e com as ditas indicações. Explicou-nos que há um troço da estrada que agora se chama Crookton Road e que não percebe porque é que não se chama simplesmente Route 66. Como é habitual nas nossas viagens, tivemos a sorte de estar no sítio certo à hora certa e com a pessoa certa. 

A Route 66 está desactivada há vários anos, com partes completamente intransitáveis, especialmente para uma autocaravana. Sabíamos que por isso não podíamos simplesmente ir em frente na estrada de Williams. E há várias partes que não têm grande interesse. Afinal é apenas uma estrada, mas é incrível pensar que em tempos atravessava os Estados Unidos de uma ponta à outra. 

Fomos passando por placas com frases que se completavam ao longo de uma milha: “‘T would be more fun”, “to go by air”, “if we could put”, “these signs up there”. Era assim a publicidade do creme de barbear Burma Shave. Original e com sentido de humor.

Grande parte das estradas nos Estados Unidos são rectas que nunca mais acabam. Quilómetros e quilómetros em que só muda a paisagem. E tudo parece um cenário: o deserto, as montanhas, os lagos e os rios. É como se estivéssemos no Truman Show. Neste país é tudo gigante. Parece que a noção de proporção é outra. Do tamanho das reservas naturais ao tamanho dos pacotes de batatas fritas nos supermercados. É tudo em tamanhos super.
Viajar numa autocaravana tem muito que se lhe diga. Viajar numa autocaravana com um bebé ainda mais. Há uma logística a cumprir e necessidades a respeitar. Antes de sair temos de desligar o cabo ligado à corrente eléctrica, a mangueira da água, o tubo do esgoto, arrumar tudo nos armários, transformar a mesa em sofá e pôr o ovo para o bebé. E quando chegamos há que fazer o processo inverso. E fazer quilómetros cansa. E parar para trocar fraldas tem mesmo de ser. E dar de comer ao Mateus não pode esperar. Viajar numa autocaravana com um bebé é seguir o seu ritmo. Na viagem de Banning para o Lake Havasu um de nós já estava podre e o outro insistia em continuar. Um de nós queria parar nas margens do rio Colorado, o outro queria o lago. Valeu a pena o esforço. A compensação foi um mergulho em família ao pôr do Sol.

No Grand Canyon não conseguimos ver o pôr do Sol. Ao fim da tarde começou a chover e tivemos de voltar para a Jacqueline (o nome que demos carinhosamente à nossa autocaravana). No dia seguinte acordámos às quatro da manhã para ir ver o nascer do Sol, mas decidimos não ir porque o céu estava nublado, e ainda bem. Passados 15 minutos caiu uma tempestade que durou até ao fim do dia. No Camboja acordámos à mesma hora e quando chegámos ao Angkor Wat só vimos nuvens. Não estamos destinados a ver o nascer do Sol dos postais. 
O Grand Canyon é realmente impressionante. Sentimo–nos pequeninos. Um homem pediu-nos que lhe tirássemos uma fotografia. O filho dele tinha um selfie stick mas não era suficientemente grande para enquadrar o Grand Canyon. Disse-nos que em Marte há canyons com o triplo do tamanho. Já temos destino para a próxima viagem.

O nosso amigo de Williams gostava muito de falar e não descansou até se certificar de que tínhamos compreendido as suas indicações. Voltou a aproximar-se da carrinha quando já estávamos a sair, repetiu pela quarta vez o caminho que tínhamos de fazer até Kingman para depois seguirmos para Las Vegas como queríamos. “Mas o que é que vão fazer para Las Vegas com um bebé?” E nós respondemos: “Talvez casar.” 

Escrevem à terça-feira

Arizona


Os actores Diogo Amaral e Vera Kolodzig e o filho, Mateus, vão andar durante um mês e meio em viagem pelos Estados Unidos da América numa autocaravana. Com Los Angeles como ponto de partida, vão andar ao sabor do vento, mas é certo que visitarão locais como o Grand Canyon, Las Vegas ou Yosemite. Acompanhe…


Nada ou quase nada é obrigatório nas nossas viagens, mas numa road trip pelos Estados Unidos é obrigatório passar na Route 66.

Pedimos indicações a um homem no flea market de Williams, a vila de onde parte o comboio para o Grand Canyon e que também faz parte da Route 66. Estava encostado no banco da frente da sua carrinha branca dos anos 70, com um copo descartável na mão. Tinha hálito a álcool. Deu-nos a ideia de que tinha a vida toda na parte de trás daquela carrinha, no meio de tralha e da cangalhada que vendia na feira, e que tinha parado no tempo. Algures nos anos 60 ou 70. Assim que fizemos a pergunta ele exclamou com mais entusiasmo do que precisávamos “The mother road!” e nos cinco minutos seguintes não se calou com histórias e com as ditas indicações. Explicou-nos que há um troço da estrada que agora se chama Crookton Road e que não percebe porque é que não se chama simplesmente Route 66. Como é habitual nas nossas viagens, tivemos a sorte de estar no sítio certo à hora certa e com a pessoa certa. 

A Route 66 está desactivada há vários anos, com partes completamente intransitáveis, especialmente para uma autocaravana. Sabíamos que por isso não podíamos simplesmente ir em frente na estrada de Williams. E há várias partes que não têm grande interesse. Afinal é apenas uma estrada, mas é incrível pensar que em tempos atravessava os Estados Unidos de uma ponta à outra. 

Fomos passando por placas com frases que se completavam ao longo de uma milha: “‘T would be more fun”, “to go by air”, “if we could put”, “these signs up there”. Era assim a publicidade do creme de barbear Burma Shave. Original e com sentido de humor.

Grande parte das estradas nos Estados Unidos são rectas que nunca mais acabam. Quilómetros e quilómetros em que só muda a paisagem. E tudo parece um cenário: o deserto, as montanhas, os lagos e os rios. É como se estivéssemos no Truman Show. Neste país é tudo gigante. Parece que a noção de proporção é outra. Do tamanho das reservas naturais ao tamanho dos pacotes de batatas fritas nos supermercados. É tudo em tamanhos super.
Viajar numa autocaravana tem muito que se lhe diga. Viajar numa autocaravana com um bebé ainda mais. Há uma logística a cumprir e necessidades a respeitar. Antes de sair temos de desligar o cabo ligado à corrente eléctrica, a mangueira da água, o tubo do esgoto, arrumar tudo nos armários, transformar a mesa em sofá e pôr o ovo para o bebé. E quando chegamos há que fazer o processo inverso. E fazer quilómetros cansa. E parar para trocar fraldas tem mesmo de ser. E dar de comer ao Mateus não pode esperar. Viajar numa autocaravana com um bebé é seguir o seu ritmo. Na viagem de Banning para o Lake Havasu um de nós já estava podre e o outro insistia em continuar. Um de nós queria parar nas margens do rio Colorado, o outro queria o lago. Valeu a pena o esforço. A compensação foi um mergulho em família ao pôr do Sol.

No Grand Canyon não conseguimos ver o pôr do Sol. Ao fim da tarde começou a chover e tivemos de voltar para a Jacqueline (o nome que demos carinhosamente à nossa autocaravana). No dia seguinte acordámos às quatro da manhã para ir ver o nascer do Sol, mas decidimos não ir porque o céu estava nublado, e ainda bem. Passados 15 minutos caiu uma tempestade que durou até ao fim do dia. No Camboja acordámos à mesma hora e quando chegámos ao Angkor Wat só vimos nuvens. Não estamos destinados a ver o nascer do Sol dos postais. 
O Grand Canyon é realmente impressionante. Sentimo–nos pequeninos. Um homem pediu-nos que lhe tirássemos uma fotografia. O filho dele tinha um selfie stick mas não era suficientemente grande para enquadrar o Grand Canyon. Disse-nos que em Marte há canyons com o triplo do tamanho. Já temos destino para a próxima viagem.

O nosso amigo de Williams gostava muito de falar e não descansou até se certificar de que tínhamos compreendido as suas indicações. Voltou a aproximar-se da carrinha quando já estávamos a sair, repetiu pela quarta vez o caminho que tínhamos de fazer até Kingman para depois seguirmos para Las Vegas como queríamos. “Mas o que é que vão fazer para Las Vegas com um bebé?” E nós respondemos: “Talvez casar.” 

Escrevem à terça-feira