“O português é indeciso e inquieto, como as nuvens em que as montanhas se continuam e as ondas se prolongam.” Teixeira de Pascoais
Em tempo de clarificação de opções, de propostas e de caminhos relativos à “governança” nacional, faz todo o sentido que centremos o essencial dessas opções e dessas propostas e desses caminhos numa questão central: como garantir um melhor Estado ao serviço das pessoas e das empresas?
Julgo que deveremos centrar o debate em vectores como o vector económico e financeiro (com a continuação do reforço da credibilidade financeira e do programa para a competitividade e crescimento económico), o vector do desenvolvimento humano com um modelo social sustentável (onde a melhor regulação e a maior competitividade aumentam o emprego) e o vector reformista e institucional (com a continuação da reforma do Estado, da descentralização e modernização administrativa e da reforma do sistema político conforme as necessidades de mais e melhor proximidade e transparência).
Para além destes vectores, ao nível da nossa política externa, deveremos assumi–la, na vertente europeia, na vertente da CPLP e da lusofonia com enfoque especial na vertente da importância das comunidades portuguesas à escala mundial.
O nosso país viveu nos últimos anos um dos tempos históricos mais difíceis, com bloqueamentos e estrangulamentos muito complexos e difíceis de ultrapassar. Foram necessárias muitas reformas e a tomada de numerosas decisões difíceis e impopulares. Muitas implicaram incompreensões e contestação generalizada (nuns casos contestação militante, noutros contestação espontânea). Mas tinham de acontecer, num país que tinha problemas muito complexos e urgentes para serem ultrapassados.
Hoje, vários indicadores económicos atestam que Portugal recuperou já grande parte da sua credibilidade externa, recuperou o seu equilíbrio ao nível das contas públicas e aumentou a sua atractividade e competitividade, que são uma mais-valia. O índice e o perfil das suas exportações, por exemplo, atingiram níveis como nunca tinham sido atingidos nas últimas décadas. O Portugal de 2011, com mau nome externo, endividado, enfraquecido, em ruptura económica e social, com o desemprego em acelerado crescimento, com um modelo económico inadequado, já não existe. A troika de 2011, 2012 e 2013 foi “mandada” embora em 2014.
E neste particular é bom ter presente que não foi a troika que trouxe a crise. Antes pelo contrário. Foi a crise que trouxe a troika. No quadro das dificuldades vividas e da colocação do interesse nacional acima de interesses partidários e políticos, Portugal, nestes anos, não deixou de ter como prioridades áreas como a acção social, a saúde e a educação.
Em 2015, os portugueses e as portuguesas de várias idades e condições sociais e rendimentos disponíveis sabem e sentem que Portugal mudou para melhor. Sentem e sabem que muitos sacrifícios que foram feitos valeram e valem a pena. Mas para além das pessoas, as empresas e os empresários sabem e sentem que têm hoje um Estado mais bem preparado para que desenvolvam com melhores condições o seu papel de motores da economia portuguesa (com mais exportações e melhor atractividade e competitividade).
Muito do que estará nas próximas semanas em discussão tem a ver com a questão e o desafio central que é continuar a ser criado com robustez um Estado ao serviço das pessoas e das empresas, amigo da criação de riqueza e de emprego. O país convoca-nos e impõe que saibamos distinguir entre os que nos prometem dinheiro a rodos e os que nos propõem um futuro com um crescimento económico sustentável, assente num modelo económico gerador de emprego, sem transigir no regresso ao despesismo público e ao endividamento galopante.
Nunca nas últimas décadas em tempo eleitoral um governo se apresentou aos portugueses de cara levantada, sujeitando-se à prestação de contas sem ter recorrido ao aumento da despesa pública em ano eleitoral, fazendo da mesma um uso indiscriminado de eleitoralismo irresponsável, como o actual governo. Em 2015, a despesa pública baixou, as exportações aumentaram e o desemprego baixou. Esta é a receita certa para o futuro de Portugal e dos portugueses.
Escreve à segunda-feira