Grécia. Resgate fractura apoio a Tsipras mas também a Angela Merkel

Grécia. Resgate fractura apoio a Tsipras mas também a Angela Merkel


Por razões opostas, deputados do Syriza e deputados da CDU/CSU revoltam-se contra os líderes. Dois ministros gregos pedem moção de confiança a Tsipras e chanceler alemã pode ver até 120 dos seus deputados votar contra o resgate


O terceiro resgate à Grécia será ao longo desta semana debatido e votado pelos parlamentos dos países da zona euro, depois de ter sido aprovado oficialmente na última sexta-feira pelos ministros das Finanças do euro. Da aprovação do acordo pelos parlamentos locais depende a disponibilização da primeira tranche do empréstimo a Atenas – que servirá para reduzir os pagamentos em atraso e cumprir com os pagamentos de dívida que vencem ainda esta semana.

A Alemanha não só já sabe que votará o acordo na quarta-feira como que Angela Merkel enfrentará um parlamento mais hostil do que nunca, ironicamente tal como aconteceu com Alexis Tsipras. O facto de o FMI manter-se irredutível na sua posição sobre o terceiro resgate à Grécia, de que apenas participará caso a Europa aceite avançar com um alívio significativo à dívida do país, não agrada aos deputados alemães, que poderão votar contra o governo de Angela Merkel, duplicando o número de "revoltosos" face ao que ocorreu em Julho.

Grécia Já em Atenas, o líder grego continua a ouvir um coro de vozes cada vez maior clamar por eleições e moções de confiança. Esta segunda-feira foi o ministro da Energia, Panos Skourletis, que considerou que a revolta dos deputados do Syriza contra o primeiro-ministro devia obrigar o mesmo a procurar reforçar a sua autoridade no parlamento. "Parece-me evidente que depois desta ferida grave no grupo parlamentar do Syriza devia avançar nesse sentido [moção de confiança]", referiu, à "Skai TYV".

Aquando da votação do resgate no parlamento grego na sexta-feira de manhã, 32 deputados do Syriza (são 149) votaram contra e 11 abstiveram-se, reduzindo o apoio da coligação do governo a 118 deputados – abaixo do limiar mínimo de 120 votos para um governo sobreviver a uma moção de confiança, pelas regras parlamentares do país. Caso Tsipras chumbe uma eventual moção de confiança, seguir-se-ão eleições antecipadas – que no limite até podem chocar com a primeira avaliação do novo resgate, altura em que os credores prometem olhar para a insustentabilidade da dívida grega.

Em caso de eleições antecipadas, o mesmo Panos Skourletis não tem grandes dúvidas que Alexis Tsipras sairá reforçado das mesmas. Ainda em declarações à "Skai TV", o ministro da Energia referiu que o primeiro-ministro aproveitará para pedir a maioria dos votos – actual governo é de coligação – algo que, "vendo como as coisas estão… parece um objectivo atingível". Tanto a Nova Democracia como o Pasok já anunciaram que votarão contra o governo numa eventual moção de confiança.

"O governo assinou o terceiro e mais oneroso resgate. Todas as consequências negativas para o país e cidadãos têm a assinatura do Sr. Tsipras e do Sr. Kammenos [líder dos Gregos Independentes, parceiro de coligação do Syriza]", defendeu em comunicado o Pasok, este domingo.

Também o ministro da Saúde grego, Panagiotis Kouroumblis, prevê eleições antecipadas no Outono: "As eleições não são a melhor opção mas é preciso estabilidade política para se conseguir uma retoma económica. Não é possível implementar um programa com medidas tão dolorosas sem um mandato popular", comentou, citado pela Reuters.

Já dois dos deputados do Syriza que votaram contra Tsipras defenderam no entanto que a posição que tomaram não é uma manobra para minar o primeiro-ministro mas sim o resgate. "Não queremos derrubar o governo mas sim tirá-lo da rota do resgate", explicou Thanasis Petrakos. "O resgate não pode ser o programa do Syriza, está fora dos seus valores, são noções incompatíveis", disse também Stathis Leotsakus.

Alemanha Até 120 deputados do governo (CDU/CSU) de Angela Merkel poderão votar contra o terceiro resgate à Grécia, contrariando as indicações da chanceler. A notícia foi avançada pelo "Bild", que salientou que tal número de votos contra significa a duplicação da revolta interna contra Merkel – em Julho apenas metade destes deputados votou contra.

Além da insatisfação generalizada face à ideia do terceiro resgate à Grécia – apesar do amontoar de notícias que a Alemanha ser o país que mais tem beneficiado com toda esta crise -, o facto do FMI não garantir que participa no resgate está a alimentar a rebeldia contra Merkel. Há ainda a considerar o peso crescente de Schäuble, ministro das Finanças de Merkel. A postura agressiva assumida por este governante contra os gregos foi muito aplaudida na Alemanha e pela coligação de governo.

Esta tarde a chanceler alemã encontra-se com os democratas cristãos do seu partido, onde tentará convencer alguns deputados a não votar contra, de forma a que a dimensão da contestação interna não fique evidente publicamente. Apesar da revolta, e tendo Merkel 504 dos 631 lugares do Bundestag, o acordo será facilmente aprovado na Alemanha.