“Ah vem o Portas?Não sabia!”Rosa de Almeida veio de Sintra para Quarteira passar férias. Ficou surpreendida quando lhe dissemos que oCDS, este ano, se juntava à Festa do Pontal para dar o pontapé de saída da campanha da coligação, sob a sigla Portugal à Frente (PAF). “Eu já venho há 20 anos, gosto muito, e acho que está tudo a correr bem com este governo”, afirma, sentada junto à entrada onde PauloPortas e PassosCoelho chegariam juntos pelas 21h00. Uma hora e meia antes já o speaker tinha dado ordem de entrada onde, no calçadão de Quarteira, eram esperadas cerca de 3,5 mil pessoas.Lá fora, com o sol a cair e o vento a crescer, houve quem aproveitasse para dar os últimos mergulhos. Mas afinal “o que é que as pessoas vêm aqui fazer?”, comentou um miúdo para a irmã mais velha, do lado de fora do recinto. O i foi de uma ponta a outra tentar perceber tal pergunta ingénua e descobriu duas coisas: a primeira é que, se fosse por esta festa, o executivo de Passos somaria nova maioria; a segunda é que, com maior ou menor indiferença, a população que veio de norte a sul não fez caso dos democratas cristãos.
Da música veio a deixa O relógio marcava 19h00 em ponto. Uma enchente de pessoas, de chapéu de palha na cabeça, fazia uma fila para entrar. “Olhe, fui o primeiro a inscrever-me, sou militante do CDS”, diz Carlos Ferreira para o responsável pela bilheteira.Quem tinha convite ia entrando e, no cimo dos contentores da organização, lia-se “lotação esgotada”. “Dentro de momentos vamos abrir as portas, sentem-se por favor”, ordenava o speaker a bom som nos altifalantes. Uma moldura de mesas tinha sido espalhada a escassos metros da areia, dividida por distritos. Em cima de cada uma, o laranja dominou: sumos e frutas com a cor doPSD. E doCDS? Só mais à frente. Subia ao palco, meia hora depois, uma cara bem conhecida destas lides, o cantor popular Luís Guilherme. Do seu set musical, uma música chamou a atenção: “Tu fazes deste amor um anjo vingador que eu nunca conheci!” Não quereria dizer “coligação” em vez de amor?
Se as músicas serviram para arranjar trocadilhos, algumas figuras do governo e cabeças--de-lista marcaram o ritmo. A ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas, quis contrariar a fruta do menu e veio com um vestido branco colorido por maçãs verdes.Deu nas vistas, mas talvez um azul deixasse felizes os militantes do CDS. Ao lado da cabeça-de-lista por Beja,Nilza de Sena, e sob o olhar atento dos secretários de Estado Barreto Xavier e Pedro Lomba, abanou as bandeiras – tantas e tantas distribuídas – mal a música da coligação começou. “Porque estamos juntos, conquistamos juntos […] agora Portugal pode mais!” foi a letra que ecoou até de noite, tantas e tantas vezes.
Passos? “é honesto!” Lugares ocupados, o i decidiu fazer uma ronda pelas mesas. Vila Nova de Gaia,Porto, Maia, Olhão… uma lista grande de quem veio de longe só para ouvir a coligação. Aliás, Passos, assim é que é. “Viemos a arrancar até aqui e agora é até à última”, conta IsmailRuas doPSD/Gaia, ficando contente com a vinda doCDS. A sul, de Olhão, Leonilda Ferro, reformada, deu boleia à família até Quarteira. “Isto é sempre a mesma coisa, não acho bem colocarem os algarvios tão longe do palco”, afirma com desagrado. E Passos?“Ele é honesto e lutador, espero que os portugueses sejam inteligentes!” Faz votos para que dêem a vitória àPAF a 4 de Outubro. Atrás das grades, um grupo da Maia, já cansado, justifica a sua presença: “Viemos apoiar o Passos!” Só isso? “ Sim, depois vamos embora às duas da manhã!” E lá foram eles, sim senhor.
Junto ao catering, as câmaras de televisão agrupavam-se, cercadas pelos seguranças. A azáfama trazia a certeza: o primeiro-ministro e o vice-primeiro-ministro acabavam de chegar. Passos à frente, de fato, era agarrado pela multidão, cumprimentando miúdos e graúdos. “Ele cumprimentou-me!”, gritou uma criança para o pai, tapando a boca com as mãos de surpresa. O vice–presidente doPSD Marco António Costa seguia atrás, mais sério, largando um sorriso a alguns conhecidos.Paulo Portas, de pólo preto por dentro das calças, trazia um semblante comedido, despertado por um boné azul dado por um dos apoiantes (cá estava o azul!).O ministro da Segurança Social, Pedro Mota Soares, era o último.
Na travessia do deserto até à mesa estava o director de campanha, Matos Rosa, ou o cabeça-de-lista da coligação peloAlgarve, o independente José Carlos Barros, entre outros, à espera das estrelas da noite. “Muito bem!” repetiu Passos algumas vezes, até os ânimos acalmarem. Carminda Guerreiro, do Cadaval, aproveitou a deixa para largar mais um beijinho ao primeiro-ministro. “Gosto muito dele, está a levar Portugal para a frente!” Arriscámos, e perguntámos pela presença de Portas. “É uma boa ajuda, é bom rapazito”, rematou. Finalmente, uma palavra para o número dois do governo.
Antes, os líderes das distritais e das concelhias de Loulé, JoséCosta Barros e a primeira candidata doCDS peloAlgarve, Teresa Caeiro, fizeram uso da palavra.
Junto às grades, o casal Fernandes, que não arranjou convite, disse ao i o que os trouxera aqui. “O Passos salvou o país, os outros (PS) são todos uns gatunos!”, afirma a mulher, olhando para o ar desconfiado do marido. “Eu sou mais ferrenha que ele, foi um pouco arrastado para aqui, mas andou atrás do CavacoSilva.” Ao que ele, marido, respondeu: “Nunca fui arrastado para nada na minha vida! E em parte acredito na coligação, não vejo melhor”, conclui. No nosso regresso à festa, um pedido: “Não me arranja uma bandeirinha?” Com pena, dissemos que não…
Juntos mas separados A música lá entrou outra vez, era hora de Portas falar. Ajeitou o cabelo e deixou críticas às propostas socialistas: “Em matéria da Segurança Social, é um convite disfarçado à privatização da mesma.” Um tema que promete aquecer o debate nos próximos meses. Saiu sorridente, comPassos atento, segurando-lhe a cadeira, não fosse o número dois cometer uma gafe. Nas mesas, os primeiros desistentes, que aproveitaram para levar bandeiras e laranjas para casa. Por último, Passos.Confiante, pediu “um resultado politicamente inequívoco a todos os portugueses” e voltou a lembrar o caso grego como trunfo, apelando a que se “vote com razão e coração”.
O hino de Portugal ditou o fim do comício,Portas seguiu para a esquerda e Passos para a direita. O primeiro, com o querido boné azul, andou livremente à procura dos seus.Osegundo, com seguranças, muito concorrido, abraçou todos, acenou para os prédios e “prometeu mais”.
Encontraram-se no sítio do início, mas Passos dirigiu-se para o carro. Portas seguiu sozinho com o assessor. E agora? “Agora vamos para Albufeira!”, gritavam de longe. Não, agora vamos para mais campanha, que ainda há muita festa para fazer, para ir e para ouvir.