“Isto agora é uma negrura”!


Para não desdourar a “silly season”, os partidos do arco-da-governação envolveram-se numa guerra pífia de cartazes, uns porque as personagens são falsas, outros porque os modelos são estrangeiros, e a gente que os ature! 


A frase é de uma habitante de uma das aldeias na serra d'Arga lambida pelo fogo impiedosamente. Tem razão a desolada e velha senhora, o negrume que agora se avista destoa na paisagem verde do Minho. O flagelo dos incêndios atacou em força, e este mês de Agosto vai ficar na memória de muita gente que, em desesperado pânico, viu as labaredas rondar-lhe a casa e os haveres. Portugal já perdeu este ano milhares de hectares de floresta, e o Norte tem sido particularmente castigado. Pelas estradas minhotas entrevêem-se vastas áreas ardidas tingindo de um negro desolador o habitual espalhafato da sinfonia dos verdes que por aqui se estendem. E pior, se nada for feito, as chuvas e as intempéries do inverno ainda vão dar muito que falar. Pelos piores motivos. Esperemos que o nacional desleixo não se acomode. Oxalá!

"Negrura" a não atingir o entusiasmo veranil da maioria e do seu governo no país ridente em que vivem e que, por mais que se esforcem, uma grande parte dos portugueses não consegue lobrigar. E para não desdourar a "silly season", os chamados partidos do arco-da-governação envolveram-se numa guerra pífia de cartazes, uns porque as personagens são falsas, outros porque os modelos são estrangeiros, e a gente que os ature! À esquerda, sem novidade, os partidos afadigam-se a competir pela pureza dos ideais e pelo rigor dos princípios sem cuidar de averiguar a comunhão dos objectivos. Com medo de serem contaminados pela doutrina dos que não olham a meios para atingir os fins. Enquanto a direita, galdéria, vai levando a água ao seu moinho. E o país aguarda, alheado, observando com indiferença as movimentações no terreno, metendo tudo no mesmo saco, como se de farinha igual se tratasse. Quando tão precisados estamos de esperança num futuro que nos livre deste presente! Haja fé!

Que fé tem o governo nas suas previsões. Num dos últimos relatórios, conhecido em Maio, a OCDE conclui que Portugal é um dos países mais pobres e desiguais no conjunto dos  analisados, reafirmando as consequências da crise, no nosso caso agravadas pelo programa de ajustamento. Que o FMI, no segundo relatório de monitorização pós-programa, do início deste mês, aproveita para criticar o governo em que já não manda à vontadinha, pondo em dúvida a concretização das metas orçamentais definidas, e foi um desatino: o governo à serra. Também neste começo de Agosto foi notícia que "48 mil portugueses comem todos os dias em cantinas sociais", fora os que recorrem a outras instituições. Tudo junto e ensarilhado mostra à saciedade que  Portugal está bem de vida.

Nada, porém, que tolha a inigualável romaria da Senhora d'Agonia, em Viana do Castelo e em Agosto, onde o desfile das mordomas, ponto alto da festa, traz à luz do dia ouro e filigranas acumulados de gerações, orgulhosa e garbosamente exibidos no peito das raparigas. Vários são os trajes que nesse dia saem à rua, num colorido e garridice que só o "traje à vianesa" oferece. E a que o Museu do  Traje, na cidade, faz jus. É o Minho no seu melhor! E a que a gabarolice do "temos os cofres cheios" faz triste concorrência: o ouro das mordomas é de sua propriedade; os cofres guardam dinheiro emprestado, logo, é dívida. Vantagem? Pois que seja mas… é "uma negrura"!

Gestora

Escreve quinzenalmente ao sábado

“Isto agora é uma negrura”!


Para não desdourar a “silly season”, os partidos do arco-da-governação envolveram-se numa guerra pífia de cartazes, uns porque as personagens são falsas, outros porque os modelos são estrangeiros, e a gente que os ature! 


A frase é de uma habitante de uma das aldeias na serra d'Arga lambida pelo fogo impiedosamente. Tem razão a desolada e velha senhora, o negrume que agora se avista destoa na paisagem verde do Minho. O flagelo dos incêndios atacou em força, e este mês de Agosto vai ficar na memória de muita gente que, em desesperado pânico, viu as labaredas rondar-lhe a casa e os haveres. Portugal já perdeu este ano milhares de hectares de floresta, e o Norte tem sido particularmente castigado. Pelas estradas minhotas entrevêem-se vastas áreas ardidas tingindo de um negro desolador o habitual espalhafato da sinfonia dos verdes que por aqui se estendem. E pior, se nada for feito, as chuvas e as intempéries do inverno ainda vão dar muito que falar. Pelos piores motivos. Esperemos que o nacional desleixo não se acomode. Oxalá!

"Negrura" a não atingir o entusiasmo veranil da maioria e do seu governo no país ridente em que vivem e que, por mais que se esforcem, uma grande parte dos portugueses não consegue lobrigar. E para não desdourar a "silly season", os chamados partidos do arco-da-governação envolveram-se numa guerra pífia de cartazes, uns porque as personagens são falsas, outros porque os modelos são estrangeiros, e a gente que os ature! À esquerda, sem novidade, os partidos afadigam-se a competir pela pureza dos ideais e pelo rigor dos princípios sem cuidar de averiguar a comunhão dos objectivos. Com medo de serem contaminados pela doutrina dos que não olham a meios para atingir os fins. Enquanto a direita, galdéria, vai levando a água ao seu moinho. E o país aguarda, alheado, observando com indiferença as movimentações no terreno, metendo tudo no mesmo saco, como se de farinha igual se tratasse. Quando tão precisados estamos de esperança num futuro que nos livre deste presente! Haja fé!

Que fé tem o governo nas suas previsões. Num dos últimos relatórios, conhecido em Maio, a OCDE conclui que Portugal é um dos países mais pobres e desiguais no conjunto dos  analisados, reafirmando as consequências da crise, no nosso caso agravadas pelo programa de ajustamento. Que o FMI, no segundo relatório de monitorização pós-programa, do início deste mês, aproveita para criticar o governo em que já não manda à vontadinha, pondo em dúvida a concretização das metas orçamentais definidas, e foi um desatino: o governo à serra. Também neste começo de Agosto foi notícia que "48 mil portugueses comem todos os dias em cantinas sociais", fora os que recorrem a outras instituições. Tudo junto e ensarilhado mostra à saciedade que  Portugal está bem de vida.

Nada, porém, que tolha a inigualável romaria da Senhora d'Agonia, em Viana do Castelo e em Agosto, onde o desfile das mordomas, ponto alto da festa, traz à luz do dia ouro e filigranas acumulados de gerações, orgulhosa e garbosamente exibidos no peito das raparigas. Vários são os trajes que nesse dia saem à rua, num colorido e garridice que só o "traje à vianesa" oferece. E a que o Museu do  Traje, na cidade, faz jus. É o Minho no seu melhor! E a que a gabarolice do "temos os cofres cheios" faz triste concorrência: o ouro das mordomas é de sua propriedade; os cofres guardam dinheiro emprestado, logo, é dívida. Vantagem? Pois que seja mas… é "uma negrura"!

Gestora

Escreve quinzenalmente ao sábado