As incríveis histórias do Pontal contadas por Marcelo Rebelo de Sousa

As incríveis histórias do Pontal contadas por Marcelo Rebelo de Sousa


Pela primeira vez, Passos Coelho convidou o CDS a marcar presença e PauloPortas vai mesmo discursar. 


Vamos até ao Verão de 1976? Estava Sá Carneiro na liderança do PPD quando “foi criado, de improviso, com pouca gente, o hábito de marcar a mensagem política que iria presidir aos próximos meses”. É MarceloRebelo de Sousa, um dos fundadores do partido, que conta ao i como em 1976 nasceu a primeira Festa doPontal e “o espírito do Pontal” enquanto rentrée política, que conta já com 40 anos de história. 

o apogeu no cavaquismo Mas este espírito social-democrata espalhado no terreno foi vivendo aos solavancos. É na era de Cavaco Silva que o Pontal descobre o seu apogeu. “Em 1985, Cavaco sobe à liderança do partido e assistimos à primeira recuperação em vida da Festa do Pontal, ainda na mata”, conta Mendes Bota, ex-líder da distrital do PSD/Algarve e que liderou os destinos desta festa durante 13 edições. Marcelo concorda: até 1995, o cavaquismo pega na tradição, levando o comício “laranja” até ao calçadão de Faro, transformando-o “numa máquina sofisticada”.Mendes Bota, que viajou o ano passado comCarlos Moedas para o Parlamento Europeu, para ser assessor no gabinete do comissário europeu português da Investigação, Ciência eInovação, conta que, na altura “vivia-se no pós-PREC, havia muito conflito dentro da sociedade, e com as forças de esquerda a dominar tivemos uma grande manifestação contra o colectivismo e a nacionalização”. O ex-deputado social–democrata recorda, com saudade e humor, as condições nesse ano. “Não havia água, esgotos, só uma poeira desgraçada, mas aqui começou a ganhar um carisma especial”, descreve, relembrando o tal caloroso dia 29 de Agosto. Depois vieram anos de “menor pujança”.

1995: um ano “divertido” Essa “máquina” durou dez anos, com duas maiorias absolutas de Cavaco Silva e muita celebração social-democrata no Algarve, ao ritmo dos comes e bebes. Mas é em 1995 que o momento mais “divertido”, segundo Marcelo, ocorre neste comício. “Nesse ano, António Guterres decide fazer um comício ao lado, fazendo um Pontal quase idêntico”, marcando uma guerra de rentrées inesquecível. “Com poucos metros a distanciá-los, ouvíamos de um lado FernandoNogueira e Guterres do outro. Dois pontais, a ver quem ganhava!”, conclui Marcelo, afirmando que Guterres se “saiu bem” da manobra eleitoral.

festa? só com Marcelo Mas o homem a quem o i pediu que recordasse tantos anos festivos cor-de-laranja teve, dois anos depois, um papel muito importante. “Coube-me a mim, ao fim de dez anos no poder, recuperar o Pontal histórico, feito na militância de base”, diz. Mas essa recuperação, saiu-lhe do bolso em pleno tempo “de vacas magras” durante o ano de 1997, como conta Mendes Bota. “O partido não tinha dinheiro, e para que tivéssemos festa o Marcelo passou-me um cheque de cinco mil contos”, afirma. Marcelo responde assim ao episódio: “Foi a despesa singular mais cara que tive na política”, lembra com humor.

Mas dos anais do Pontal não se guardam só vitórias e momentos humorísticos. Em 1999, com Durão Barroso a liderar os sociais-democratas, a Póvoa de Varzim é o sítio escolhido para a “rentrée”. “Uma ideia peregrina” para Bota e um “disparate” para Marcelo. Já com Barroso em Bruxelas, Manuela Ferreira Leite , em 2008, recusava um convite do deputado algarvio. Na altura, retorquiu assim: “Não a convidei novamente, porque não gosto de levar duas tampas da mesma rapariga”, relembra ao i. Esta não foi a única recusa de personalidades doPSD. “A Festa doPontal também serve para mostrar o que o poder faz às pessoas”, revela Mendes Bota, garantindo que anotou todos os nomes que lhe disseram “sim” e “não” ao longo dos anos, o que mais tarde servirá para um livro. 

Nos últimos quatro anos, com Passos no poder – desde 1994 que o Pontal não recebia um primeiro-ministro social-democrata –, surgiram novos “solavancos”. Em 2012, o Pontal passou de forma caricata para o hotel do parque aquático Aquashow, depois de alguns manifestantes se terem deslocado para protestar contra a vinda da troika. 
E este ano? A Festa do Pontal terá no seu menu de discursos uma novidade: Paulo Portas. É a primeira vez que o outro partido da coligação é convidado para a habitual rentrée laranja, dando-lhe uma nova cor, a azul. Marcelo desconfia da novidade: “Parece-me que oCDS vai sentir a necessidade de entrar e sair da festa em bloco, para mostrar autonomia.” Já Mendes Bota pede uma coisa: “Que não se perca a raiz da festa, são 40 anos, não é brincadeira.” Teremos um Pontal à Frente?