Grécia. Parlamento aprova terceiro resgate

Grécia. Parlamento aprova terceiro resgate


Votação ocorreu já durante a madrugada, como é hábito. Oposição ajudou Tsipras a vencer.


O parlamento grego aprovou esta quinta-feira, por maioria, o acordo sobre o terceiro plano de resgate, após um debate que se prolongou durante toda a noite, como é hábito no Parlamento ateniense. Alexis Tsipras apelou à aprovação do acordo "para garantir a capacidade do país para sobreviver e continuar a lutar". O primeiro-ministro conseguiu que o terceiro pacote de ajuda financeira ao país com 222 votos a favor, 64 contra e 11 abstenções.

Mais uma vez, foi a oposição quem garantiu a passagem do programa de resgate, numa altura em que o Syriza se encontra cada vez mais dividido. Desta vez, foram 32 deputados a votar contra, aos quais se juntaram 11 abstenções. Números acima dos verificados nas duas anteriores votações. O primeiro-ministro tem perdido o apoio da ala mais à esquerda do seu próprio partido, mas repete que não há alternativa ao plano que delineou com os credores internacionais durante estas semanas.

Na Europa, poucas horas depois surgiam os aplausos à votação dos deputados gregos. Já durante o dia de ontem o ministro das Finanças finlandês, Alexander Stubb, se tinha mostrado optimista em relação à chegada a bom porto das negociações com Atenas. O responsável, que durante vários meses foi um feroz crítico do governo do Syriza, estás pronto a votar a favor da aprovação da ajuda à Grécia.

"Este acordo está em linha com a declaração da Cimeira de 13 de Julho", afirmaram, por sua vez, Comissão Europeia e Banco Central Europeu num conjunto esta manhã, poucas horas antes do início da reunião do Eurogrupo. A reunião dos ministros das Finanças da zona euro está marcada para as 14h00 (hora de Lisboa), em Bruxelas.

Syriza dilacerado O avanço deste terceiro resgate vem com um preço bem alto para o Syriza de Alexis Tsipras. Depois de já na anterior votação – do texto que saiu da famosa e tensa cimeira europeia de Julho – alguns deputados do Syriza terem votado contra ou optado pela abstenção, agora com a materialização do texto a situação piorou consideravelmente.

Ontem, quinta-feira, o líder da Plataforma de Esquerda, uma das organizações que compõem o Syriza, emitiu um comunicado juntamente com outros 11 deputados do governo a apelar à fundação de um novo movimento. Poucas horas depois, a Juventude do Syriza anunciava que se juntava a esta facção, a mais radical do partido.

“A luta contra o novo resgate começa hoje [quinta-feira], pela mobilização do povo em todos os cantos do país”, dizia o comunicado assinado por Panayiotis Lafazanis, ex-ministro da Energia de Tsipras, que se demitiu depois de as primeiras medidas de austeridade terem sido aprovadas no Parlamento gego.  “A assinatura de um novo memorando equivale à destruição do povo e da democracia grega, reverte o mandato dado pelos gregos no passado dia 5 de Julho [referendo] contra as políticas neoliberais. Precisamos de continuar no caminho de 5 de Julho até ao fim, até expulsarmos as políticas dos resgates, com um plano alternativo para o dia seguinte, para uma Grécia democrata, reconstruída e socialmente justa”, podia ler-se ainda.

A este comunicado seguiu-se o da Juventude do Syriza: “O terceiro resgate, que é o governo a negociar com o pulso dos credores, é completamente contrário às orientações estratégicas e compromissos programáticos e junto da comunidade pelo Syriza e pela Juventude. Estamos totalmente cientes que isto foi o resultado de um golpe sem precedentes dos credores, que por seu turno foi o último episódio de uma coacção levada ao extremo que levou o governo a cair num impasse político”, lia-se na nota citada pela imprensa grega.

Tanto a Plataforma como a Juventude apelaram aos órgãos do Syriza para que se avance rapidamente com a marcação de um congresso para a clarificação de posições dentro do partido. É muito provável que o congresso tenha lugar em Setembro, como Tsipras ficou sinalizado na última reunião do partido, em que Tsipras afirmou considerar a convocação de eleições antecipadas.

Eurogrupo e parlamentos Agora é a vez de o Eurogrupo olhar para o memorando de entendimento que durante as últimas semanas tem fechado equipas técnicas dos credores e do governo grego no hotel Hilton, em Atenas. Os ministros das Finanças da zona euro vão debater e poderão aprovar o texto já esta sexta-feira.

Ao longo de quinta-feira foram conhecidas algumas reservas do governo alemão face ao acordo fechado, nomeadamente no que toca à revisão em baixa das metas exigidas no saldo primário ou a não referência a novas medidas de cortes de despesa, por exemplo. Estas reticências evidenciam que ainda não é certo que tudo decorra conforme o planeado no Eurogrupo. Sinal disso é que a Comissão Europeia tem preparado um plano B: o avanço de um novo empréstimo-ponte para manter o país à tona de água enquanto se forçam mais medidas.

Caso o Eurogrupo aprove o resgate esta sexta-feira, 14 de Agosto, para a semana será a vez de cada Estado-membro o aprovar nos respectivos parlamentos. O alemão deverá reunir a 18 ou 19 de Agosto, tal como a Estónia, Espanha ou Áustria. Com todas as aprovações obtidas, Atenas conseguirá um empréstimo para pagar a dívida de 3,2 mil milhões ao BCE que vence dia 20.