Tiveste o desplante de me assaltar a casa e a ginástica artística para entrares pela varanda de um segundo andar. Foi muito mau teres roubado computadores e outras coisas mais enquanto toda a gente dormia. Podes até ser o Homem-Aranha. Mas não deixas de estar feito.
Quero dizer-te que um assalto em plena Avenida da Boavista, e num cruzamento com tanto trânsito, é uma vergonha. Com filhos e pais dentro de casa, é mesmo miserável. É certo que não foste apanhado e por isso te livraste de uma queda acidental da dita varanda e de teres ficado com o cabelo ainda pior que o Donald Trump. Sucede que já me obrigaste a instalar um alarme e a passar a dormir com as janelas fechadas. Não te perdoo.
Caro assaltante (podia tratar-te por gatuno ou por mitra, mas era capaz de ser ofensivo), admito que não costumes comprar o i (o dinheiro não dá para tudo, eu sei) e que não leias sites de notícias (o iPad que levaste está apagado e bloqueado), mas ficas a saber: não gostei nada do que fizeste. É crime. Deixou marcas. Não pelo que roubaste, mas pela sensação de fragilidade que vieste causar cá a casa.
Vais argumentar que não se vêem polícias na rua, a fazer a ronda, como antigamente. Sentiste-te à vontade. Se calhar não sabes, mas a competência da segurança pública pertence ao Governo, que agora vais ter à perna. A Ministra da Administração Interna (sim, há uma ministra; vi no Google e chama-se Anabela) vai tratar do reforço do efectivo da PSP, como prometido. Ao mesmo tempo, tratará de destacar os novos 45 agentes que há muito estão apalavrados para a Polícia Municipal. Aviso-te também que vamos passar a ter Guardas-nocturnos nas ruas do Porto. Ou seja, acabou-se. Não voltas a roubar cadeiras de bebé do carro do meu amigo Nuno nem telemóveis e sapatilhas de marca à porta das escolas. Viste os cartazes do PS? É isso. Vais ficar sem emprego ou ter que emigrar.
Desculpa o tom. És ladrão, mas terás a tua dignidade. Cumprimentos.
Escreve à quinta-feira