O parlamento grego deverá debater e votar o texto do terceiro resgate na madrugada ou manhã desta sexta-feira, poucas horas antes do início do Eurogrupo que irá debater o mesmo acordo, a partir das 15h, hora de Bruxelas. Os trabalhos parlamentares desta quinta-feira à noite encontraram alguns obstáculos processuais, o que acabou por ir empurrando a discussão e votação do resgate. O início da discussão acabou por ser agendado para a 1h30 da madrugada de Atenas, horário que abre a hipótese de só na manhã desta sexta-feira avançar a votação.
Estes obstáculos processuais que surgiram na noite de quinta-feira levaram a que alguns deputados tenham proposto o avanço de um voto de não confiança na presidente do parlamento grego, Zoe Konstantopoulou, que poderá avançar depois da votação do acordo. Além das críticas aos discursos daquela parlamentar, alguns deputados têm criticado a intransigência processual de Konstantopoulou, lembrando que a mesma, eleita pelo Syriza, é uma das "dissidentes" da coligação – está contra o resgate.
Apesar de todos estes problemas e questões, certo é que o acordo deverá acabar por ser aprovado pelo parlamento grego, ainda que mais à conta da oposição do que da coligação de governo. Ao longo da tarde de quinta-feira vários comités parlamentares estiverem reunidos a debater o resgate e o maior partido da oposição, a Nova Democracia, já assegurou que votará a favor.
Syriza dilacerado O avanço deste terceiro resgate, porém, vem com um preço bem alto para o Syriza de Alexis Tsipras. Depois de já na anterior votação – do texto que saiu da cimeira europeia de Julho – alguns deputados do Syriza terem votado contra ou optado pela abstenção, agora com a materialização do texto a situação apenas piorou.
Depois de na manhã de quinta-feira, o líder da Plataforma de Esquerda, uma das organizações que compõem o Syriza, ter emitido um comunicado com outros 11 deputados do governo a apelar à fundação de um novo movimento – leia-se, partido, a meio do dia foi a vez da Juventude do Syriza associar-se ao mesmo.
“A luta contra o novo resgate começa hoje [quinta-feira], pela mobilização do povo em todos os cantos do país”, refere a nota assinada por Panayiotis Lafazanis, ex-ministro da Energia de Tsipras. “A assinatura de um novo memorando equivale à destruição do povo e da democracia grega, reverte o mandato dado pelos gregos no passado dia 5 de Julho [referendo] contra as políticas neoliberais. Precisamos de continuar no caminho de 5 de Julho até ao fim, até expulsarmos as políticas dos resgates, com um plano alternativo para o dia seguinte, para uma Grécia democrata, reconstruída e socialmente justa”, dizia ainda.
A este comunicado seguiu-se o da Juventude do Syriza: “O terceiro resgate, que é o governo a negociar com o pulso dos credores, é completamente contrário às orientações estratégicas e compromissos programáticos e junto da comunidade pelo Syriza e pela Juventude. Estamos totalmente cientes que isto foi o resultado de um golpe sem precedentes dos credores, que por seu turno foi o último episódio de uma coacção levada ao extremo que levou o governo a cair num impasse político”, apontou o comunicado da Juventude do Syriza, citado pelos meios gregos.
Tanto a Plataforma como a Juventude apelaram aos órgãos do Syriza que avancem rapidamente com a marcação de um congresso para a clarificação de posições dentro do partido.
Eurogrupo e parlamentos À aprovação pelo parlamento grego do acordo segue-se uma reunião do Eurogrupo esta sexta-feira à tarde, a partir das 14h de Lisboa. Os ministros das Finanças da zona euro vão debater e (talvez) aprovar o texto fechado entre Atenas e os credores.
Ao longo de quinta-feira foram conhecidas algumas reservas do governo alemão face ao acordo fechado, nomeadamente no que toca à revisão em baixa das metas exigidas no saldo primário ou a não referência a novas medidas de cortes de despesa, por exemplo. Estas reticências evidenciam que ainda não é certo que tudo decorra conforme o planeado no Eurogrupo. Sinal disso é que a Comissão Europeia tem no bolso um plano B: o avanço de um novo empréstimo-ponte para manter o país à tona de água enquanto se forçam mais medidas.
Caso o Eurogrupo aprove o resgate na sexta-feira, para a semana será a vez de cada país o aprovar. O parlamento alemão deverá reunir a 18 ou 19 de Agosto, tal como a Estónia, Espanha ou Áustria. Com todas as aprovações obtidas, Atenas pagará a dívida de 3,2 mil milhões ao BCE que vence dia 20.