Quem não sonha um dia dar a volta ao mundo? É um cliché, é certo, que compete em pé de igualdade com o de encontrar a alma gémea. Pouca sorte no Euromilhões mais uma vida agitada são as desculpas que vamos dando para adiar a sua concretização. Mas e se lhe dissermos que pode dar a volta ao mundo gastando 15 euros por dia?
É que há uma diferença abismal entre viajar e fazer férias. Quem nos explica é Patrick Schrorder, um ciclista alemão que iniciou a sua jornada à volta do planeta há oito anos. Desde então já visitou 128 países.
“Viajar é barato, fazer férias é que é muito caro. Podes gastar facilmente 1000 euros numa semana de férias, ou gastar esse dinheiro a viajar durante dois meses. Depende de ti saberes se queres fazer uma coisa ou outra, ou as duas”, conta Patrick, para quem a ideia de dar a volta ao mundo surgiu na adolescência, quando ainda tinha 17 anos.
Com o tempo, a ideia ganhou músculo e rodas para andar, e andou mesmo. O primeiro país a ser visitado por Patrick foi a Holanda, a 100 km de sua casa, em Colónia. A partir daí, e depois da Europa, já pôs os pés em todos continentes: América do Norte, do Sul, Oceânia, África e Ásia.
O objectivo é explorar todos os países do mundo, visitando pelo menos meia dúzia de nações por ano, explica. De acordo com as suas estimativas, para chegar à marca dos 150 países levará mais dois anos e daqui a cinco ou seis terá concluído, literalmente, o sonho da volta ao mundo ao visitar 193 nações.
“Agora está cada vez mais difícil porque os que faltam são os menos acessíveis, os mais perigosos, onde há conflitos, e ilhas, onde não posso ir de bicicleta”, confessa.
Para conseguir gastar apenas, em média, 15 euros por dia, Patrick dorme em hostels, acampa e faz couchsurfing (dorme em casas de famílias que posteriormente poderão dormir no seu sofá, na Alemanha). Por exemplo, na capital do Quirguistão (Bisquerque), uma dormida numa pensão custou-lhe menos de sete euros, e uma refeição completa não ia além dos dois euros.
Mesmo que fosse três vezes ao restaurante, ainda ficaria abaixo do orçamento diário. Patrick não vai “à maluca”, planeia tanto quanto possível as viagens e informa-se antes sobre as particularidades de cada país.
Não são férias de luxo, lá está, mas é tudo uma questão de perspectiva e de escolha. E a opção deste alemão sempre foi explorar o mundo da maneira que melhor lhe sabe – a pedalar – e com tempo para contemplar paisagens que, de outra forma, nunca poderia sequer saber que existiam.
Nem tudo é um mar de rosas – os sítios mais remotos na Indonésia, na Etiópia e na China foram bastante exigentes por serem muito montanhosos. Pedalar em planícies é fácil, a descer todos os santos ajudam, mas a subir…
E Portugal? Também já está no mapa dos países visitados. Esteve cá o ano passado. “Adorei a arquitectura da Quinta da Regaleira, em Sintra”, lembra, elegendo esse local como o “ponto alto” da passagem por terras lusas. Patrick visitou Lisboa e Porto, e acampou entre estas duas cidades.
Pedalar ao longo do rio Douro foi uma boa experiência, mas confessa que o terreno se revelou mais montanhoso do que o esperado.
Garante que tem tantas histórias para contar (e nós não duvidamos) que nem consegue seleccionar uma. Normalmente, escolhe-as consoante a pessoa que tem à frente: “Imagina que encontras um amigo que esteve no estrangeiro durante uma semana. Precisas de uma tarde inteira para falar sobre essa viagem. Agora pensa na difícil tarefa de escolher um episódio de mais de 400 semanas fora”, afirma, dizendo que se tomasse um café connosco, durante umas quantas horas, nos contaria algumas das melhores histórias.
Aceitaríamos facilmente o convite, se Patrick não estivesse neste momento no continente asiático, no Usbequistão. Mas tem sempre uma no bolso, para situações de improviso, que impressiona qualquer um: as cicatrizes no braço do ataque de um crocodilo, em Moçambique.
Quanto às amizades que vai fazendo mundo fora, diz que no Facebook tem pelo menos amigos de 127 nacionalidades, mas fora do mundo virtual tem apenas alguns. Patrick conhece, de facto, muita gente amigável na estrada, gente que cumprimenta, com quem fala uma tarde e que nunca mais vai voltar a ver.
“Terão sempre uma porta aberta em minha casa, na Alemanha, mas não os considero amigos. Sou de um país nórdico, as amizades para mim são baseadas na partilha de experiências ao longo do tempo.”
Patrick vai andar nos próximos meses na Ásia Central. Seguiu do Usbequistão para o Turcomenistão e depois vai atravessar o deserto até chegar ao Irão. Pela frente tem muitos quilómetros para pedalar e muito pôr-do-sol para contemplar.
Terá fronteiras para atravessar, animais estranhos para fotografar, como os que encontrou nestes países asiáticos – as “camelspider”, que são uma mistura de aranha e escorpião –, paisagens rochosas, outras verdejantes, para subir e descer. Segue depois para a zona denominada por Cáucaso, a região da Europa oriental e Ásia ocidental, entre o mar Negro e o mar Cáspio.
Patrick partilha a sua viagem com o resto do mundo em http://worldbicyclist.com/