Álvaro Araújo. O comunista  que acredita  em Deus

Álvaro Araújo. O comunista que acredita em Deus


Casou cedo, aos 17, e com 18 anos já estava viúvo.


Álvaro fala baixinho e quase que sussurra algumas das histórias que fazem da sua vida uma autêntica aventura. Casou cedo, aos 17, e com 18 anos já estava viúvo. A partir daí levou a vida unicamente nas suas mãos. “Nunca mais quis casar. Tenho as minhas namoradas, mas não me quero comprometer.”

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Boina na cabeça, barba de vários dias e uma T-shirt reivindicativa contra a cobrança de portagens deixam adivinhar um homem de convicções. “Sou comunista e católico”, diz com a certeza de quem já teve de dar explicações sobre o tema demasiadas vezes. “Acredito em Deus e acredito nos valores do comunismo, não vejo o porquê de isso ser incompatível.” Não sabemos com que regularidade vai a Fátima, mas a peregrinação anual à Quinta da Atalaia é obrigatória. Com 57 anos, conta pelo menos 20 idas à Festa do Avante. “Vou sempre uns dias antes para ajudar a montar a festa”, explica, assumindo o balcão da barraca de Viana do Castelo, onde serve papas de sarrabulho, pataniscas e vinho verde durante todo o dia.

Apesar de viver já há 30 anos em Vilar de Mouros, o trabalho na construção civil já o levou até Espanha, França, Andorra e Marrocos. Neste último destino, além de horas de trabalho deixou também um filho que nunca chegou a conhecer, por ter sido obrigado a voltar a Portugal, preferindo não se alongar em pormenores sobre a história. Com os outros quatro filhos, dois ainda do curto casamento, mantém uma relação próxima, principalmente com Marlene, que por trabalhar no Central tem a sorte de ver o pai todos os dias. 

Está reformado desde que cinco operações o deixaram inválido para trabalhos mais pesados. “Passo os dias nos balcões dos cafés”, assume, deixando um desabafo: “Nunca mais é Setembro para irmos ao Avante.”