Sampaio da Nóvoa arrisca-se a ficar conhecido como aqueles grandes avançados que entram para a história do futebol por terem falhado um penálti decisivo. Em poucos meses, chegou à vida dos portugueses como um ciclone.
De repente, estava em todo o lado, forçando a casa de cada um de nós, vindo de lado nenhum. Teoricamente era imbatível porque, além do PS, tinha grande simpatia na sociedade mais à esquerda.
Mas este candidato, que até foi um magnífico praticante de futebol, tem um problema de finalização. Armou o jogo lindamente. Criou um dispositivo técnico-táctico excelente. Antecipou--se aos adversários. Contratou uma grande equipa de consultores. Juntou o apoio de todos os ex-Presidentes e criou um sólido plantel de jogadores para o servir enquanto ponta-de-lança.
O problema é que, apesar de tudo isso, Sampaio da Nóvoa não atinge patamares mínimos de mobilização da sociedade civil e muito menos no PS, onde em vez de unir divide ainda mais um partido que está, manifestamente, à beira de uma crise de nervos e de uma subsequente depressão, dada a catastrófica pré-campanha eleitoral e os magros resultados de sondagens. Eanes, Soares e Sampaio de pouco ou nada valem face ao pandemónio no PS e à forma como ele afecta a marcha do antigo reitor da Universidade de Lisboa.
Sampaio da Nóvoa dificilmente conseguirá recuperar o fulgor inicial. A pujança primordial desapareceu. A ideia de que daria um grande Presidente esvaiu-se. A análise da sua imagem e do seu percurso não lhe dá necessariamente o estofo de Presidente. Até a sua especialidade académica é algo imperceptível, ainda que não se a discuta em termos de mérito e qualidade. A sua vida, as suas posições políticas não são conhecidas como eram as dos seus antecessores e são as dos seus eventuais opositores. É mesmo de esquerda? É comunista? É bloquista? É Syriza ou é PASOK? É Podemos, Ciudadanos ou PSOE? É ateu ou agnóstico? Alguma coisa o distinguiu antes do 25 de Abril ?
Quem é, afinal, este cidadão de quem pouco ou nada se sabe quanto a vida familiar? E a sua candidatura é fruto da perseguição de um ideal ou o cumprimento de uma ambição pessoal fortíssima que soube “vender” primeiro a personalidades e depois a organizações partidárias ou parte delas?
Nóvoa é ainda um desconhecido apesar de ser para se projectar que avançou, queimando etapas depois de obtido um acordo tácito e implícito com António Costa. Sendo simpático e afável, não é comunicativo nem empolgante. Em rigor, não tem imagem pública. Não chega ser bom académico e excelente pessoa para ir morar em Belém como parece ambicionar, segundo certa imprensa. A experiência mostra que para ser eleito Presidente tem de se ser alguém de referência na política, mesmo que se suscite controvérsia e até hostilidade. Spínola, Costa Gomes, Eanes, Soares, Sampaio (o genuíno), Soares e Cavaco são todos seres excepcionais
Mesmo sem Maria de Belém e sem um candidato do PCP na corrida, Sampaio da Nóvoa terá uma enorme dificuldade em ser escolhido para Presidente. Os portugueses já mostraram por várias vezes que é função onde querem alguém que conheçam bem e em quem confiem pela sua história. Ora Nóvoa é uma carta fechada. Ninguém pode dizer que o conhece politicamente e muito menos a generalidade dos eleitores, que o viram pela primeira vez há uns meses. Nada o distingue de meio milhão de concidadãos.
Apesar do que fica dito, Sampaio da Nóvoa tem algumas hipóteses de ganhar, desde logo porque há mais portugueses de esquerda do que de direita, embora nestas próximas presidenciais o factor mediático deva ser primordial, sobrepondo-se à ideologia. Se o ambiente não se modificar, se o PS tiver um resultado “poucochinho” ao jeito da vitória de Pirro, há até cenários que não excluem uma desistência de Nóvoa, por muito que ele, nesta fase, rejeite liminarmente a hipótese.
A política é feita de muitas coisas que não se podem antever e, sobretudo, excluir. Maria de Belém está, entretanto, a preparar-se para entrar na corrida, o que só não acontecerá se Costa tiver uma maioria absoluta ou um resultado próximo disso. A ex-presidente do PS seria uma candidata à esquerda bastante mais popular e talvez com mais hipóteses do que Nóvoa. Mas que ninguém pense (e muito menos ela) que seriam favas contadas até à Presidência. Quem tem uma vida política tão longa também há-de ter de se confrontar com muitas decisões e actos controversos.
Director da Newshold
Jornalista
Escreve à quarta-feira